Capítulo 42

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Wanessa Camargo

Depois de muito tempo, decidi que era o momento certo para eu retomar as minhas sessões de terapia. No reality eu fui duas ou três vezes a psicóloga, mas não curtia tanto a abordagem dela e parei. Sentia como se ela quisesse me induzir a fazer coisas que eu não estava tão disposta... enfim, os conselhos dela eram um pouco confusos para mim e de pessoa confusa na minha vida, já basta eu.

— Helena, a Yasmin saiu ontem à noite do programa e eu só consigo pensar nela e no nosso reencontro.

— Isso é bom ou não?

— De certa forma, é bom, mas, ao mesmo tempo, é angustiante para mim. Me angustia a possibilidade de algo dar errado.

— O que poderia dar errado?

— Tudo. Tudo poderia dar errado. Eu posso ser uma medrosa e estragar as coisas... Posso ter medo de magoar os outros e acabar me magoando. Ou até mesmo magoando ela.

— Você se lembra de como é quando pega avião?

— É meio que é impossível de esquecer... Fico nervosa, minhas mãos tremem e muitas vezes choro igual a uma criança. As aeromoças já sabem da minha fama e sempre são bastante atenciosas comigo.

— Em que ponto nós duas chegamos quando conversamos pela primeira vez sobre o seu medo?

— Que eu tinha que ir, não podia deixar que o medo me paralisasse e tomasse conta de mim. Você me disse uma vez que a coragem não é ausência do medo.

— Exato! Quando você enfrenta seu medo e entra no avião, o que acontece depois? Qual é o resultado?

— Eu entro, passo mal, mas eu chego onde eu quero. Acaba valendo a pena no final das contas. — Digo com sinceridade. — Você acha que eu tenho que enfrentar minha mãe e todos que são contra a minha relação? — Pergunto sabendo que não terei uma resposta.

— Wanessa, você sabe como as coisas funcionam.

— Ah... você não está aqui para me dar o norte, mas sim me fazer enxergar cada ponto da bússola. Não vai me dizer o que fazer.

— É mais ou menos essa a intenção. Nesses últimos anos, você chegou muito longe, fez tanta coisa certa e superou seus medos. Quando você terminou com o Marcus, teve que ouvir muitas opiniões que não foram muito gentis e eu nem estou falando da mídia. O que muda daquela situação de um ano e meio atrás para essa situação atual?

— Eu não sei, Helena. Acho que, por ela ser outra mulher, eu fico um pouco sem jeito, é diferente. Rola uma mudança.

— Defina melhor esses sentimentos, se possível.

— Eu... eu fico sem jeito de me defender. Eu não queria ter que estar nesse lugar, de precisar ficar me explicando para as pessoas e deixando sempre explícito que os meus sentimentos não são uma espécie de carência ou crise de meia-idade antecipada. É péssimo dizer, mas eu queria que ela fosse um homem.

— Você já disse isso para ela?

— Não tive tempo e, de qualquer maneira, eu não diria.

— Por que não dividiria esse pensamento?

— Porque a Yasmin não entenderia meu ponto. Ia ser mais uma discussão boba e sem motivo. Não vejo a menor necessidade de trazer à tona.

— Me diz o motivo de você querer que ela fosse um homem.

A psicóloga me encara e eu demoro um pouco a responder.

— Não é como se eu quisesse de fato que ela mudasse, não é isso, ok? Eu a amo muito, do jeitinho que ela é.

𝘍𝘦𝘦𝘭𝘪𝘯𝘨𝘴 𝘠𝘢𝘯𝘦𝘴𝘴𝘢 - [𝐵𝓇𝓊𝓃𝑒𝓈𝓈𝒶]Onde histórias criam vida. Descubra agora