Pela quinta vez seguida eu e Mia tampamos os ouvidos com as mãos, enquanto a plateia explodia enlouquecidamente e gritava o nome de Sky. Cinco lutas, cada uma com mais de vinte guerreiros contra ele. E claro, ele ganhou todas elas. Agora estávamos observando a sexta leva de guerreiros que ia lutar contra ele.
Como sempre, Sky mantinha a cabeça baixa na arena. Não olhava para a plateia até a luta terminar e ele poder erguer a espada para declarar sua vitória. Ele não parecia nem um pouco interessado. A expressão era sempre entediada. Mas eu sabia que por dentro todo aquele show massageava seu ego.
—Chato, chato e chato. —Mia resmungou, como se não aguentasse mais ver aquelas lutas, já que nada de diferente acontecia. —Por que ele não acaba com essa palhaçada logo? Todo mundo já sabe que ele vai vencer qualquer um que colocarem pra lutar com ele. Não importa quantos sejam.
—Isso se chama entretenimento, Mia. —Murmurei, passando meus olhos pela arena, observando os arcadianos que comemoravam. Tudo aquilo era por eles. Tudo aquilo era pra trazer uma falsa sensação de que estava tudo bem.
—Por que Caio não veio?
—Alguém precisava cuidar do acampamento enquanto Sky vinha lutar. —Mia suspirou, como se preferisse estar com Caio naquele momento, do que ali, vendo Sky ganhar mais uma vez.
—Olha só quem está aqui.
Mackenzie surgiu na minha frente, tampando a visão da luta de Sky. Eu não estava prestando tanta atenção assim, mas ainda queria ver, porque precisava de algo para incomodar Sky mais tarde, quando ele resolvesse invadir meu quarto. Mackenzie abriu a boca para dizer algo, antes de ficar quieto quando desceu os olhos até a pulseira com o número um, que envolvia meu pulso direito.
—Mackenzie. —Falei, acenando com a cabeça na direção dele. —Irritando muita gente por aí? Ou você já se cansou de ser um babaca?
—A pessoa que eu gostava de irritar foi embora. —Afirmou, tombando a cabeça de lado, enquanto fazia um biquinho com os lábios, me lançando um olhar carregado.
—Patético. —Mia soltou, enquanto uma risada escapava pelos seus lábios. —Você me dá vergonha alheia.
—Eu não estava falando com você, esquisita. —Mackenzie exclamou, olhando pra Mia como se ela fosse uma criatura das sombras, da qual precisasse manter distância.
Mia ergueu as sobrancelhas, antes de lançar uma esfera de luz na direção do rosto dele. Mackenzie se assustou e tropeçou para trás, caindo de costas nas arquibancadas, o que arrancou risadas de quem estava ao nosso redor. Ele se levantou na mesma hora, bufando em irritação. Com um olhar mortal na direção de Mia, ele virou as costas e foi embora sem dizer mais nada, o que com certeza era um milagre.
—Vamos embora? —Mia tocou minha mão, quase como se suplicasse com os olhos para sairmos dali.
Concordei com a cabeça, soltando uma risada baixa, antes de nós duas nos levantarmos e seguirmos em direção as escadas. O nome de Sky estava sendo ovacionado por quase toda a arena, enquanto ele terminava mais uma das suas batalhas. Quando deixamos a arena, algumas gotas de chuva já caiam do céu.
—Já estão indo embora? —Margo questionou, vindo na nossa direção, com a jaqueta sobre a cabeça, numa tentativa de se esconder da chuva que começava naquele momento.
—Tenho que esperar o Sky. —Falei, revirando os olhos quando Margo me lançou um sorriso sarcástico. —Percy?
—Já foi embora. Parece que o acampamento estava com problemas. —Afirmou, me deixando subitamente rígida, porque qualquer sinal de problema estava sempre me deixando em alerta, já que Raven ainda estava desaparecido.
—Que problemas?
—Não faço ideia. Os gêmeos apareceram e o levaram. —Margo se aproximou, provavelmente notando a tensão que deixava meus músculos rígidos. —Não deve ser nada grave. Se fosse, eles teriam tirado Sky daquela arena na mesma hora.
—Tem razão. —Falei, torcendo os lábios, mesmo que soubesse que não podia baixar a guarda. —Podem ir. Vou esperar mais um pouco. Acho que ele não vai demorar com aquelas batalhas.
Margo e Mia assentiram, antes de seguirem em direção a floresta, onde ficava a barreira mágica. As gotas de chuva já molhavam meu cabelo, fazendo-o grudar no meu rosto, enquanto as pessoas andavam tranquilamente pela rua, já acostumadas com a chuva, para sequer se preocuparem em ficarem molhadas.
Depois do incêndio transformar parte do vilarejo em cinzas, os felesianos se propuseram a ajudar na construção de novas casas e ajudar quem ficou desabrigado. Com a ajuda do outro mundo, o vilarejo foi reconstruído e hoje não existe mais nenhum sinal de que um dia esse lugar esteve em chamas, mesmo que na minha memória isso fosse muito recente.
Caminhei pela rua, deixando as gotas de chuva caírem sobre mim, até parar quando vi a antiga loja de Cecília aberta. Ela esteve fechada depois da morte dela, mas hoje estava aberta, revelando todos aqueles objetos antigos. Caminhei até lá, subindo os degraus até observar a loja por dentro, toda limpa e organizada. A madeira rangeu sobre meu peso quando entrei.
Parei na frente de uma prateleira de objetos entalhados em madeira, quando um deles me chamou a atenção. Uma sereia, sentada sobre uma pedra, com uma mão passando pelos cabelos, enquanto a outra descansava sobre a pedra. Deslizei meus dedos por ela, lembrando do que as sereias significavam. Do fato de que elas estavam sumidas, mas agora voltaram, justamente quando eu me juntei a Misty.
—Gostou dela?
Levei um susto quando escutei a voz feminina, dando um passo para trás até bater numa mesa atrás de mim. Coloquei a sereia de volta no lugar, antes de me virar para encarar a mulher que estava atrás do balcão. Não demorei a reconhece-la, sentindo uma sensação estranha dentro de mim por encontra-la ali.
—Brice. —Falei, sem saber se soava surpresa ou confusa ao encontra-la.
—Achei que não se lembraria de mim. —Afirmou, enquanto eu comprimia os lábios, porque era impossível não me lembrar dela, quando ela fez parte de algo importante pra mim, a algumas semanas atrás.
—Vai morar aqui?
—Sim. —Ela sorriu, saindo de trás do balcão, enquanto eu tentava ignorar o desconforto por vê-la tomando conta de algo que antes era de uma amiga minha. —Sei que conhecia a bruxa da lua que morava aqui, antes de ela partir. Mas eu espero que não se importe. —Não respondi, porque aquilo não era da minha conta, de qualquer forma. —Pode ficar com ela se quiser. Como um presente.
—Por que me daria um presente? —Indaguei, sabendo que ela estava se referindo a sereia de madeira que eu estava observando quando entrei.
—Gosto de presentear pessoas importantes para os meus mundos. —Afirmou, usando um tom de voz doce que me deixou desconfortável, enquanto caminhava pela loja, tirando e colocando coisas em outros lugares.
—Não concordo com a parte do importante. Obrigada, mas prefiro recusar o presente. —Falei, porque tinha absoluta certeza de que não podia confiar nela. Brice sabia que Raven levaria Mia e eu até a Floresta Noturna. Ela sabia e preferiu não avisar. Aquilo me dizia muito sobre ela.
—Achei que tinha gostado dela. —Brice deu de ombros, como se aquilo não fosse de fato irrelevante. —Você é mais importante do que imagina. Pode pensar que não, mas é.
—Não gosto de enigmas, Brice. Da última vez, seu enigma me levou até a Floresta Noturna. —Sibilei, sem esconder a resignação na minha voz, o que a fez parar e olhar pra mim, com uma emoção pesada passando pelo rosto, antes de desaparecer, tão rápido quanto havia surgido.
—Eu não podia contar a você o que aquele rapaz pretendia. —Afirmou, erguendo o queixo como se a culpa do que tinha acontecido não fosse dela. Não era, de fato. Mas muita coisa poderia ser diferente se ela tivesse avisado. —Não posso interferir.
—Vocês bruxas da lua são tão mentirosas. —Sky exclamou atrás de mim, e eu me virei, o encontrado de braços cruzados na entrada da loja, olhando na direção de Brice como se desejasse matá-la.
Continua...
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As Crônicas de Scott: A Guerra / Vol. 2
FantasiLIVRO2 (AS CRÔNICAS DE SCOTT) Zaia Scott aprendeu da pior maneira possível que não se pode confiar em todos que estão a sua volta. Após a traição de Raven e da sua derrota para os elementais, Zaia sabe que precisa descobrir o quanto antes quem são o...