Capítulo 17: Aisha de Castro.

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Misty e eu voamos o dia todo, parando poucas vezes quando ela precisava beber água e eu comer alguma coisa. Quando começou a anoitecer, ela desceu em um pequeno campo aberto em uma colina, onde eu podia ver a Cidade das Estrelas no horizonte. Não tinha nenhuma pista de onde Ágatha tinha sido vista a última vez, além de saber que tinha sido nessa cidade.

—E agora, Misty? —Ela deitou a cabeça entre as patas e me encarou com os olhos azuis gelo, parecendo um tanto entediada. Bem diferente de quando saímos do Chalé Azul horas antes, em que ela parecia animada. —Onde vou procura-la primeiro? Onde Ágatha poderia ter ido?

Misty soltou um pequeno resmungo com a boca, enquanto eu me escorava no corpo dela. Sentia minhas coxas e meus braços doloridos, do tempo que precisei ficar sentada sobre ela, me segurando para não despencar no ar. Tirei minha mochila e peguei minha garrafa de água, hesitando quando a carta de Margo apareceu novamente.

Puxei a carta, observando a caixinha de Brice cair na grama quando fiz isso, fazendo a sereia sair de dentro dela quando atingiu o chão. Juntei as duas, encarando aquela sereia de madeira, sabendo que ela tinha mais significado do que parecia. As sereias só voltaram a aparecer depois que cheguei a Falésia. Mais um indicio de quem eu era. Ou de quem eu deveria ser.

Guardei a sereia de volta na mochila, antes de encarar a carta de Margo. Não queria lê-la antes de sair do Chalé Azul, porque tinha medo que o que estava escrito ali pudesse me fazer mudar de ideia de alguma forma. Mas agora, bem longe de lá, abri o papel com a respiração pesada, me preparando. Mas quando o que encontrei ali foram dois papéis. Um com o recado de Margo e outro com o nome de Cecília.

Meu coração se apertou, porque ainda sentia falta dela, mesmo que fizesse um ótimo trabalho em fingir que não. Até mesmo Ayla costumava evitar o assunto comigo, sabendo quem Cecília realmente era. O recado de Margo era curto, mas o suficiente para me fazer lembrar do que ela estava falando.

"Não sei se você vai se lembrar, mas Cecília tinha deixado essa carta pra você. Quando estávamos na loja dela, logo depois de você descobrir que ela tinha partido, você não quis a carta. Então eu a guardei, imaginando que em algum momento você pudesse mudar de ideia."

Esfreguei a mão na testa, encarando o horizonte, me perguntando se estava pronta para aquilo. Cecília sabia que ia partir e tinha deixado tudo preparado. Eu não tinha ido ao enterro dela, porque estava ocupada demais na Floresta Noturna. E depois, quando saí de lá, me recusei a ir vê-la. O que adiantava ir visitá-la se ela estava morta e enterrada?

Peguei a carta dela e a desdobrei lentamente, observando a letra desregular e ao mesmo tempo elegante. O papel estava manchado de tinta, como se ela tivesse o escrito as pressas. Mas eu conhecia aquela letra. Tinha visto Cecília escrever cartas e cartões várias vezes. Mas nunca pensei que poderia receber um vindo dela. Ainda mais um como aquele.

"Olá, Zaia. Gostaria de pedir desculpas antes de tudo. Sei que a chateie em algum momento dessa longa aventura que você está vivendo. Mas sendo quem eu sou, dona do futuro, não posso interferir demais. Não quando sei que tudo isso é para o seu próprio bem. Existem algumas coisas que preciso te dizer. Meu tempo era curto demais para fazer isso em vida, então deixei marcado em tinta e papel, sabendo que você as leria quando chegasse a hora.

Você sempre esteve destinada a grandes coisas, Zaia. O seu destino sempre foi do outro lado da barreira mágica e, quando chegar a hora, seu destino também será em Arcádia. Não se sinta mal pelas vidas que foram perdidas e ainda vão ser, porque o caminho é longo e você não é capaz de controlar o que o destino desenha ou a morte controla. Nada do que aconteceu ou vai acontecer é culpa sua.

As Crônicas de Scott: A Guerra / Vol. 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora