Percebi naquele momento que nada iria superar a expressão de Heron quando me viu, como se eu fosse um fantasma. Talvez eu esperava esse tipo de reação dele, mas não estava preparado pro sorriso que ele abriu, como se estivesse feliz em me ver. Aquilo era totalmente improvável e seria uma mentira dele.
—Sky? —Questionou, soltando o rapaz e dando alguns passos na minha direção. Ergui as sobrancelhas, porque daria um soco nele se tentasse me abraçar e eu tinha certeza que não seria uma cena muito bonita. —Filho?
—Ele é seu filho? —O rapaz que havia lutado comigo questionou, com um tom de voz totalmente incrédulo, enquanto o rosto era uma máscara perfeita de quem havia sido derrotado.
—Infelizmente. —Falei, sem conseguir evitar a expressão de descontentamento no meu rosto. Aquilo pareceu afetar Heron, porque ele engoliu em seco e olhou ao redor, parecendo tão confuso naquele momento.
—Não estou entendendo o que está acontecendo aqui. —Heron soltou, erguendo a mão para esfregar o rosto, voltando a me encarar como se ainda não pudesse acreditar que eu estava ali.
—Ele queria passar e eu impedi. Não sabia que ele era seu filho. Você nunca mencionou que tinha um. —O guerreiro afirmou, me fazendo comprimir os lábios quando senti o toque de sarcasmo na voz dele, como se quisesse me atingir falando aquilo. Soltei uma risada, porque na verdade não me surpreendia com o fato de Heron não se lembrar que tem um filho. Tinha sido fácil demais pra ele ir embora e fingir que não existíamos.
Vi Heron encarar os machucados no rosto dele, antes de olhar pra mim. Guardei a espada, porque pelo visto a diversão tinha chegado ao fim. Era uma pena, porque eu estava realmente gostando daquele momento. Um pouco de caos antes de eu precisar aguentar a presença do meu pai. Mas como de costume, o universo me odiava, porque aquilo tinha terminado rápido demais.
—Por favor, voltem todos aos seus afazeres imediatamente. Rael, vá para a enfermaria cuidar desses cortes. —Ele tocou o ombro do rapaz, antes de gesticular para que todos o obedecessem. Fiz uma careta quando os guerreiros começaram a desaparecer lentamente. Alguns ainda me lançando olhares atravessados. Heron se aproximou de mim, parecendo hesitante. —Sky, é bom ver você. Apesar de que chegar arrumando confusão não seja a melhor ideia de todas.
—Espero que aquele não seja seu melhor guerreiro. —Sibilei, fazendo os gêmeos rirem atrás de mim. Meu pai olhou pra eles, erguendo as sobrancelhas ao se deparar com aqueles cabelos azuis, antes de negar com a cabeça e voltar a me encarar.
—Imagino que não tenha vindo aqui me visitar. —Afirmou, e eu fiquei grato por ele pelo não fingir que nossa relação era maravilhosa. Tentei não revirar os olhos mesmo assim, porque não estava com o melhor humor naquele momento. —Sua mãe está bem?
—Ela está mais do que bem, apesar de isso não ser da sua conta. —Falei, apontando para o chalé, porque não queria ter aquela conversa ali fora. —Podemos entrar? As coisas estão ruins no continente. Acho que vai preferir estar sentado quando eu te contar tudo.
—Então veio pedir minha ajuda? —Questionou, ousando abrir um sorriso surpreso, mesmo que aquilo nunca tivesse deixado a minha boca.
—Eu vim aqui, porque nosso povo precisa de ajuda. Você é diretor de um chalé de guerreiros e sua obrigação e literalmente protege-los. —Afirmei, engolindo lentamente quando desviei dele e comecei a subir as escadas, agora sem ninguém para me impedir. —Os outros chalés estão se reunindo. Só vim avisa-lo de que precisa fazer o mesmo.
[...]
A sala de Heron era irritantemente organizada demais. Sua decoração era basicamente todos os tipos de laminas diferentes penduradas pelas paredes, além de alguns quadros de paisagens congeladas, mesmo que ali nunca nevasse. Encarei aqueles quadros o tempo todo enquanto falava, me perguntando onde os gêmeos teriam se metido, já que eles sumiram assim que entrei aqui.
—O Chalé Vermelho está contra nós, então não podemos contar com nenhum daqueles guerreiros. Os acampamentos estão cagando pro que está acontecendo, e eu sou o único disposto a ajudar. —Falei, dando de ombros, porque não é como se minha mãe não fosse me matar se eu me recusasse a fazer alguma coisa. —Daniel foi até Antonella, convocar o Chalé Violeta.
—Bem, não negarei ajuda, é óbvio. —Afirmou, como se não existisse qualquer chance de ele se negar a ir. Não esperava outra coisa dele, porque tinha a sensação que se ele se recusassem seria minha mãe a vir até aqui arrasta-lo pra guerra. —Tinha ouvido boatos sobre o que estava acontecendo, mas não pensei que estava tão tuim assim. Não acredito que temos um elemental e um chalé contra nós.
—Da próxima vez você deveria dar ouvidos aos boatos. —Comentei, batucando meus dedos na minha perna, começando a me sentir inquieto naquele lugar.
—Ainda estou surpreso que tenha aceitado vir até aqui. —Ele me encarou com uma expressão contida, umedecendo os lábios com a língua enquanto parecia pensar no que dizer. —Você nunca respondeu nenhuma das minhas cartas. Parei de envia-las quando senti que você jamais iria me perdoar por ter ido embora.
—Não estou afim de drama familiar. —Afirmei, ficando de pé ao perceber que o assunto importante tinha chegado ao fim. Já tinha ido até ali e falado o que precisava. Não havia mais motivos para permanecer.
—Sinto muito, filho. —Insistiu, me fazendo revirar os olhos e bufar, porque não havia nada que eu odiasse mais do que pessoas falando que sentem muito, como se isso mudasse alguma coisa. —Eu realmente não queria deixar você, mas eu e sua mãe não estávamos mais nos entendendo.
—Ainda bem que vocês nunca se uniram então. —Retruquei, e ele respirou fundo ao ver que eu realmente não me importava com o que ele dizia. E eu odiei ver que aquilo parecia o magoar. —Eu tinha 4 anos quando você foi embora. Sua primeira carta chegou quando eu fiz 10 anos e entrei no Chalé Azul, como se você magicamente tivesse se lembrado que eu existia. Por que eu deveria ligar pra qualquer merda que você fala?
—Eu tentei ficar informado sobre tudo relacionado a você. Mesmo longe, eu ainda pensava em você todos os dias —Afirmou, e eu neguei com a cabeça, porque não havia qualquer possibilidade de eu acreditar nele —Fiquei sabendo quando construiu seu próprio acampamento. Saiu recrutando os melhores guerreiros. Fez acordos até seu nome ser conhecido por todos.
—Onde quer chegar com isso? —Questionei, erguendo as sobrancelhas de leve, porque o tom de voz dele soava quase cauteloso demais, como se ele estivesse com medo de falar alguma coisa pra mim.
—Imaginei que como um guerreiro nível um você deixaria sua marca no mundo, de alguma forma. Mas não era bem isso que eu esperava. Sua mãe aceita essa sua vida? Mexendo com pessoas perigosas, fazendo acordos com pessoas ruins e... —Ele passou a mão pelos cabelos quando soltei uma risada incrédula. —Você deixa um rastro de caos por onde passa. Acabou de fazer isso aqui.
—O que foi? Que dar uma de pai protetor agora? —Coloquei as mãos sobre a mesa e me inclinei um pouco para frente, impedindo que ele continuasse. —Deveria ter pensado nisso quando decidiu ir embora. O que minha mãe acha também deixou de ser da sua conta. Estou incrivelmente bem com a minha vida, se quer saber. Não quero você se metendo nela e muito menos dando uma opinião não solicitada.
—Sky, por favor, espere. —Pediu, com uma voz tão cansada. Mas eu já tinha me virado e caminhado até a porta, desejando estar no meu acampamento. Na minha cabana. Longe de toda essa situação que só me deixava frustrado com a vida.
—Os elementais estão esperando você e seus guerreiros. Tente não chegar tarde demais. —Falei por cima do ombro, sem me preocupar em olhar pra ele uma última vez quando fui embora.
Continua...
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As Crônicas de Scott: A Guerra / Vol. 2
FantasíaLIVRO2 (AS CRÔNICAS DE SCOTT) Zaia Scott aprendeu da pior maneira possível que não se pode confiar em todos que estão a sua volta. Após a traição de Raven e da sua derrota para os elementais, Zaia sabe que precisa descobrir o quanto antes quem são o...