Capítulo 13: Você é uma guerreira.

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Quando voltei para onde todos os guerreiros estavam, com o coração trovejando dentro do peito, sabia que não queria mais nada além de ir embora dali. Desviei dos guerreiros pelo caminho, tentando ignorar o desconforto no meu peito. Amanhã tudo voltaria ao normal entre nós, até algo acontecer e ele me afastar de novo. Estávamos andando em círculos afinal.

—Zaia, já está indo embora? —Percy questionou, parecendo estranhar me ver caminhando na direção que Misty estava deitada, observando todo mundo com uma expressão de tédio.

—Estou cansada. —Menti, abrindo um sorriso forçado, que certamente não passou despercebido por Percy, porque ele olhou ao redor a procura de Sky, antes de voltar a me encarar.

—Margo foi pra minha cabana. Disse que precisava de um momento sozinha pra absorver o que tinha acontecido. —Percy afirmou, abrindo um sorriso torto pra mim, antes de enfiar as mãos no bolso da calça e se aproximar um pouco. —Quer conversar sobre o que está acontecendo?

Olhei para Percy por um momento, apertando minhas mãos com força ao lado do corpo, me perguntando se aquele era um bom momento para conversar ou não. Quando demorei a responder, Percy caminhou na minha direção até passar por mim, indicando Misty com a cabeça.

—Vocês dois brigaram? —Indagou, mesmo que já soubesse a resposta pra isso. Balancei a cabeça que sim, escutando Percy soltar um suspiro pesado, como se não estivesse nem surpreso. —O que foi dessa vez?

—Sobre a questão dele com a bruxa da lua. Ou eu pelo menos acho que era, porque Sky se recusa a se abrir comigo. —Dei de ombros, abraçando meu próprio corpo, enquanto a frustração abria um buraco no meu peito. —Estou cansada, Percy. Cansada de todos me olhando como se eu fosse uma aberração. Cansada de todos me julgarem pelas ações de Raven. Cansada de sentir aquela pitada de esperança nos poucos que não me odeiam. Sky deveria ser meu porto de segurança e tranquilidade, mas...

—Eu sei. —Percy olhou pra mim de relance, enquanto caminhávamos até onde Misty estava. Ela ergueu a cabeça e nos observou com curiosidade, como se soubesse do que estávamos falando. —Sabe qual o problema? Você e Sky são duas forças violentas. Quando se encontram, não é a calmaria que surge. É uma coisa mais poderosa e explosiva.

—Puxa, isso me ajudou muito. Obrigada. —Afirmei, fazendo Percy soltar uma risada e empurrar meu ombro de leve.

—Não estou dizendo que isso é uma coisa ruim, Zaia. —Percy me lançou um olhar cauteloso. —A questão é que vocês dois ainda não sabem como lidar com isso que vocês tem. Você não precisa me falar, sei que tem medo do que sente por ele. —Fechei meus olhos com força, engolindo a onda de constrangimento. —Não precisa ficar com vergonha. Sou seu melhor amigo, lembra? E é por isso que estou falando essas coisas. Eu conheço vocês dois.

—Você conhece Sky muito bem? —Questionei, soltando uma risada quando Percy torceu os lábios, como se eu o tivesse pegado dessa vez.

—Acho que ninguém o conhece de verdade e por inteiro, não é? Esse é o verdadeiro problema. Você queria ser essa pessoa, mas ele não permite. —Percy afirmou, e eu concordei com a cabeça, engolindo o nó que se formou na minha garganta. —Sobre a outra questão, Zaia, você está se sentindo pressionada, eu sei. Mas nada do que está acontecendo é culpa sua. Você ser ligada a profecia não foi escolha sua, foi o destino. E você é uma guerreira, não uma elemental.

—Mas eu poderia ser. Isso ajudaria tanto e...

—E ainda sim, se você fosse uma elemental, nada disso seria responsabilidade completamente sua. —Percy parou de andar e se virou pra mim, tocando meu ombro. —Existem outros elementais no nosso mundo. Você trabalharia ao lado deles, então não mudaria o fato de isso não ser um problema só seu para resolver. Não ligue para as pessoas.

—Quero encontrar meus poderes, Percy. —Sussurrei, porque não tinha tido coragem de falar aquilo em voz alta ainda, porque sentia que estava desejando algo que não me pertencia. —Quero saber onde Ágatha está e se descobriu algo que poderia me ajudar.

—Mas enquanto você ainda não tem, não se cobre demais. —Percy apertou meu ombro, antes de se inclinar e me dar um beijo na testa. —Vou deixá-la ir. Mas se precisar, venha conversar comigo, ok? Não é porque eu sai do Chalé Azul que as coisas mudaram. Eu ainda fugiria em cima de um dragão pra ajudar minha amiga.

Soltei uma risada, balançando a cabeça negativamente, enquanto Percy se afastava de volta para o acampamento. Ajeitei meus cabelos, encarando a escuridão ao meu redor, antes de sentir a respiração gelada de Misty nas minhas costas. Me virei, encontrando sua enorme cabeça bem próxima de mim, como se quisesse me dizer alguma coisa.

—Eu sei o que você está pensando. —Falei, abrindo um sorriso pra ela, antes de acariciar sua cabeça quando ela se inclinou pra perto de mim. —Nos duas somos uma equipe perfeita, não é? Com poderes ou não.

Misty se abaixou mais, deixando claro que queria que eu soubesse nela. Meu sorriso aumentou, porque eu amava o quanto Misty me entendia perfeitamente, como se sempre soubesse o que eu estava pensando. As vezes eu me perguntava se poderia existir alguma criatura mais inteligente que um dragão. Tinha a sensação que sabia a resposta, mas não pensava muito nela.

Voei pela noite com Misty na direção da Cidade Oceânica. Queria ficar longe de absolutamente todo mundo e sabia que na casa do meu tio era o único lugar que eu conseguiria isso. Me perguntei o que Sky estaria fazendo agora que tinha conseguido ficar sozinho como tanto desejava. Mas espantei os pensamentos relacionados a ele, porque tudo que eu menos precisava era sentir raiva. E era isso que eu ia sentir se continuasse pensando nele.

Desci na linha das árvores, longe o suficiente da cidade para não chamar a atenção. Estava noite, mas o movimento nas ruas e em direção as docas eram enorme. Caminhei de cabeça baixa, desejando que ninguém me reconhecesse ali. Tinha uma época que eu queria ser conhecida como a melhor guerreira de todas, mas tudo mudou quando vim pra Falésia.

Parei de andar e ergui um pouco a cabeça quando vi a vitrine da uma loja, repleta de animais entalhados em madeira, assim como os que Cecília vendia na sua loja de antiguidades. Fadas, bruxas, elfos, gnomos e duendes. Mas o que me chamou atenção foi o entalhe de um lusion. Um lusion ma sua forma natural. Monstruosa. Isaac deveria amar saber que alguém deu seu precioso tempo para criar algo em madeira sobre a sua espécie.

Meus olhos foram para a banca ao lado e o sorriso que eu tinha no rosto desapareceu lentamente, quando eu vi a capa de um dos jornais locais. Caminhei até a banca e peguei o jornal na mão. A primeira e principal matéria falava sobre os ataques. A população estava se questionando sobre quando os elementais iriam resolver isso e quando Raven seria responsabilizado pelos seus crimes. Logo abaixo tinha um pequeno texto, revelando que um novo torneio dos mundos ia acontecer em Arcádia em breve.

—Uma tristeza, não é? —Uma senhora parou ao meu lado e olhou para a capa do jornal na minha mão, exibindo uma expressão pesarosa. —Fico imaginando quando esses ataques chegarão até aqui. Quando será nossa vez de sofrer as consequências.

Apertei minhas mãos com força ao redor do jornal, a ponto dos meus dedos ficarem brancos. Se a senhora notou, não deu qualquer sinal disso. Também não parecia me conhecer, o que era um alívio tão grande pra mim. Não queria ouvir o que ela tinha a dizer se soubesse quem eu era.

—Tudo seria diferente se tivéssemos um elemental da água. —Ela tocou meu braço e abriu um sorriso triste, deixando aquela frase no ar antes de se afastar.


Continua...

As Crônicas de Scott: A Guerra / Vol. 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora