As Crônicas de Scott: A Guerra / Vol. 2

Capítulo 58: Primeiro guerreiro.

—Meu coração não é puro, mas as minhas intenções são as melhores possíveis. —Raven parou na frente da anciã e agarrou sua garganta, a apertando com força. --Mas o seu coração é puro? Acha que eles poupariam você da morte?

A anciã não teve tempo de responder, porque as chamas do fogo sagrado tomaram conta dela. Me encolhi quando ela gritou, parecendo desesperada para conseguir se soltar dele. Seu corpo começou a queimar, até o cheiro subir para o meu nariz e me deixar enjoada. O fogo sagrado se espalhou pelo corpo dela, a queimando até restar apenas um pó acinzentado no chão.

Raven não disse nada por um bom tempo, encarando aquela sombra no chão como se ela significasse muito mais do que ele esperava. Dei um passo a frente, fazendo-o erguer a cabeça para me encarar. Engoli o nó que se formou na minha garganta, terminando de me aproximar dele.

—Você sabia? —Questionei, umedecendo os lábios com a língua quando ele juntou as sobrancelhas. Aquelas chamas azuis desaparecendo das mãos dele. —Você desconfiava ou tinha certeza?

—Brice me contou. —Afirmou, e eu fechei meus olhos com força, me dando conta de que ele sempre soube e tinha seguido sozinho por todo aquele tempo, porque sabia que eu nunca acreditaria nele. —Foi a única coisa que ela quis me contar. E eu  sabia que para ganhar sua confiança precisaria te mostrar meus motivos, porque se não você jamais acreditaria em mim.

—Precisamos achar o terceiro guerreiro e realizar a profecia. —Afirmei, estendendo a mão na direção de Raven, porque agora estávamos juntos naquilo. —E precisamos da espada dos deuses. Você não pode ser o único capaz de matá-los. Precisamos de mais do que só o seu poder.

Raven segurou minha mão com cautela, como se estivesse surpreso que eu estivesse fazendo aquilo. Não confiava 100% nele, mas sabia que aquela era a coisa certa a se fazer. Talvez, se tivéssemos acreditado em Raven antes, as coisas fossem completamente diferentes agora. Talvez até mesmo Aurora ainda estivesse aqui.

—Não são os anciãos. São os elementais. —Afirmou, e eu franzi a testa, porque não sabia do que ele estava falando. —Sempre falaram que o fogo sagrado é feito das almas de todos os anciãos que já partiram. Mas é mentira. Não são eles, são os elementais.

—Como sabe disso? —Questionei, vendo-o hesitar por um momento, enquanto eu me lembrava da presença de Adam quando entrei naquelas chamas.

—Eles falaram comigo. Me contaram coisas. A espada dos deuses pode ser empunhada por qualquer um. —Falou, fazendo meus lábios se abrirem de surpresa, enquanto Raven apertava minha mão com força, —Mas apenas nas mãos do guerreiro da profecia é que ela libertará sua magia. A mesma magia do fogo sagrado.

—E como sabemos quem é ele?

—A espada vai bilhar. —Os olhos de Raven brilharam em um tom azul quando ele falou aquilo, me fazendo entender o que ele queria dizer. —Temos que juntar as quatro espadas celestiais.

[...]

A batalha tinha continuado do lado de fora. Eu e Raven mergulhamos dentro dela, ajudando quem precisava e se defendendo quando muitos guerreiros vinham pra cima de nós. O fato de ele estar em posse do fogo sagrado ajudava muito, porque o susto que todos tomavam sempre que percebiam isso nos dava segundos valiosos para atacar.

—Zaia! —Raven puxou meu braço e apontou para o outro lado do campo. Sky estava ao lado de Ravi. Os dois criando um imenso tornado que engoliu parte dos guerreiros ao redor deles, antes de se desmanchar perto da floresta.

Comecei a correr em direção a ele, tentando chamar sua atenção pra mim. Raven estava vindo logo atrás, lançando ondas de chamas em todos que tentavam nos parar. Sky se virou. Seus olhos acinzentados encontrando os meus, como se ele soubesse que eu precisava dele. Não parei de correr, até meu corpo bater contra o dele e nós dois irmos para o chão juntos. Meu corpo caindo sobre o dele.

—Você me ama tanto assim, que até no meio de uma batalha precisa me agarrar? —Questionou, e eu poderia ter soltado uma risada, se não fosse pelo caos do momento. Sai de cima dele, passando a mão no rosto para afastar os fios que grudavam em mim por conta do suor.

—Precisamos das outras espadas celestiais. —Falei, vendo os olhos de Sky pararem em Raven no meio do campo, antes de ele franzir a testa quando viu as chamas azuis que ele lançava sobre os guerreiros, os transformando em cinzas. —Primeiro guerreiro, mas acho que você chegou na conclusão sozinho.

Sky ficou de pé, me segurando quando vários guerreiros vieram pra cima. O ar se movimentou ao nosso redor, jogando meus cabelos para trás, antes de explodir e os lançar longe. Ele puxou a espada da cintura, que estava intocada agora que ele possuía poderes, e entregou nas minhas mãos, antes de disparar na direção que os gêmeos lutavam juntos.

Encarei a espada nas minhas mãos, lembrando do caos que tinha sido conseguir duas delas. Uma eu tinha sido a moeda de troca. Na outra, fui jogada dentro de um vale cheio de criaturas mortais pra conseguir. Ergui a cabeça quando escutei o grito de Sky, vendo-o girar as duas espadas nas mãos. Não precisei chamar Raven, porque ele percebeu que estava com a gente.

Nos três começamos a correr em direção uns aos outros. A espada começou a tremer nas minhas mãos, como se sentisse a presença das outras. Alguém gritou, me fazendo olhar para trás e ver que os anciãos estavam tentando nos alcançar, sabendo o que estávamos prestes a fazer ali.

Mas eles não conseguiriam nos impedir a tempo, porque nós três nos encontramos, sem conseguir parar de correr antes de batermos uns contra os outros. A espada queimou nas minhas mãos, como se tivesse ganhando vida, tremendo tanto que precisei a soltar, enquanto meu corpo era lançado longe quando a magia explodiu com as três espadas juntas.

Caí em cima de alguns guerreiros que estavam lutando, me levantando e dando um soco em um deles quando vi a pulseira amarela. Ainda estava sem fôlego pela corrida e pela explosão de magia, mas tentei me levantar rápido, vendo que todos ao redor tinham sido jogados longe. Mas os anciãos já estavam de pé, correndo até a espada enorme que havia restado no lugar da explosão.

Me joguei no chão e deixei aquele poder fluir de dentro de mim. Estava com tanto medo de usá-lo, mas já estava na hora de fazer aquilo. A água saltou de dentro da terra, criando uma onda tão grande que lancei na direção deles, jogando-os para longe da espada. Quando olhei na direção dela, meu coração chegou a garganta ao não encontra-lá no chão, e sim nas mãos de Sky.

Prendi a respiração, esperando que alguma coisa acontecesse quando ele girou a espada nas mãos. Um gosto amargo tomou conta da minha boca quando nada aconteceu, enquanto eu observava Sky começar a lutar com ela quando vários guerreiros e anciãos foram pra cima dele atrás dela. O dragão de Luna pousou no chão com força, fazendo tudo tremer, antes de ela pular de cima dele.

Assobiei, olhando pra cima quando Misty rugiu e subiu para o céu carregando vários guerreiros, antes de solta-los no alto e então voar em direção ao outro dragão. Os gritos cortaram o ar quando a cauda do dragão se chocou contra o chão, abrindo uma fenda tão grande que precisei correr para não ser engolida pela terra. Quando olhei para Sky de novo, meu coração afundou no peito quando o vi lançar a espada pra frente, antes de ser engolido por aquele buraco no chão.

Disparei na direção que ele havia desaparecido, sem me preocupar com quem ficaria com a espada primeiro. Antes que eu chegasse lá, o vento se moveu ao meu redor, tão forte que eu quase fui jogada para trás. Sky surgiu de dentro da abertura no chão, usando apenas o próprio poder. Fiz uma careta quando ele me lançou um sorriso convencido, me virando para ver onde a espada tinha ido parar.

Os guerreiros estavam amontoados em um mesmo ponto, parecendo desesperados para ver quem iria pagá-la primeiro. Comecei a correr naquela direção, tendo certeza de que estaria caindo de exausta quanto aquilo terminasse. Não consegui chegar nem na metade do caminho, antes de outra explosão acontecer no meio deles, lançando todos para longe.

A luz azul da explosão me cegou por um momento, antes de começar a diminuir. Escorreguei no chão quando parei de correr, engolindo em seco ao ver a lâmina da espada brilhando com um tom azul tão forte quanto as chamas do fogo sagrado. Os guerreiros ao redor foram desaparecendo, até que eu consegui ver que quem segurava a espada era Percy.
  

Continua...