Capítulo 32: Anciãos.

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—Onde pensa que vai sozinha? —Abri um sorriso e me virei ao ouvir aquela pergunta, vendo Margo e Percy atravessando a floresta até onde eu estava.

—O que estão fazendo? —Questionei, indicando as duas bolsas de viagem que estavam nas costas dos dois. Uma bolsa de viagem como a minha. Não precisava de muito pra perceber qual era a intenção deles. —Primeiro os gêmeos e a Ayla, e agora vocês dois?

—Acha que vamos deixar você sozinha? —Margo balançou a cabeça negativamente, assim que os dois pararam na minha frente. —Isso não vai acontecer. Os três não puderam vir porque você deu trabalho a todos eles. Mas eu e Percy estamos livres.

—Não quero atrapalhar a vida de nenhum de vocês. —Afirmei, comprimindo os lábios quando Percy soltou uma risada e me lançou um olhar sarcástico.

—Eu ajudei você da outra vez, lembra? —Falou, me fazendo assentir, porque nunca deixaria de ser grata a Percy por tudo que ele fez comigo. —Assim como Margo. Vamos ajudar você de novo. Pensei que isso já tinha ficado bem claro pra você.

—E a Lys? —Questionei, olhando para Margo com as sobrancelhas erguidas. Ela riu, puxando a bolsa de viagem pra frente. A cabeça do pequeno dragão surgiu entre os botões da bolsa, enquanto ele soltava um resmungo baixo e engraçado.

—Pra onde vamos? —Percy indagou, me fazendo perceber que eles realmente iam comigo, porque estavam prontos para aquilo. Abri um sorriso, pensando no quão sortuda eu era por ter os dois na minha vida.

—Vamos pro Castelo dos Deuses. —Afirmei, sentindo um tremor no chão e o estremecer das árvores quando Misty pousou na floresta atrás de mim. Percy e Margo trocaram um olhar demorado, parecendo surpresos. —Acho que o fogo sagrado pode me ajudar a despertar meus poderes.

—Isaac disse isso a você? —Margo questionou, e eu hesitei por um momento, antes de confirmar com a cabeça. Não queria ver a reação dos dois se soubesse o que eu tinha feito. A situação com Sky tinha sido o suficiente pra mim.

[...]

O Castelo dos Deuses me lembrava o Castelo de Pedra, porque também estava engolido pela floresta ao redor, que tomava conta de tudo. Mas ele parecia mais imponente. As torres mais altas. As escadarias mais sinuosas. Parecia o castelo que um rei certamente tomaria para si. Não sabia se em algum momento existiu realeza nesse mundo, mas imaginava que sim, de algum modo.

Misty subiu para o céu quando eu, Percy e Margo seguimos para o castelo. Os musgos tomavam conta dos degraus, enquanto as paredes pareciam bem mais escondidas pela floresta, como se o castelo fizesse parte dela. Ele havia sido engolido por aquele lugar.

—Existe um campo lá atrás. —Margo falou, desviando de um buraco na escadaria enquanto subíamos até a entrada principal. —Dizem que os mais nobres guerreiros foram enterrado a lá, apesar de não existir qualquer sinal de túmulos ou lapides.

—Parece o tipo de coisa que vocês fariam em um lugar como esse. —Comentei, fazendo Margo soltar uma risada e negar com a cabeça.

As duas grandes portas de madeira da entrada estavam abertas, apesar de rachadas e quebradas em alguns pontos. Meus lábios se comprimiram quando o som das nossas botas causaram um eco pelo salão principal que se abriu, revelando duas escadarias menores que se erguiam nas paredes de pedra, deixando um corredor enorme se abrindo no centro.

—Vocês sabem onde ele fica? —Indaguei, olhando na direção de Margo e Percy. Os dois trocaram um olhar, antes de Percy tomar a frente e nos guiar pelos corredores. Prestei atenção em cada lugar que passávamos, vendo as salas abandonadas. Não havia nenhum móvel ali. Nenhum sinal de que em algum momento aquele castelo serviu de morada para alguém.

Percy parou de andar e olhou pra mim quando um dos corredores deu para um salão em formato oval, que refletia uma luz azul pelas paredes de pedra. Me aproximei da entrada, observando que uma das paredes era feita de espelhos, que refletiam nos três, além da chama azul crepitante.

—O fogo sagrado. —Sussurrei, curiosa com o fato de que ele estava ali, no centro do salão, em um círculo feito de pedras naturais. Havia outras duas entradas nas laterais, com degraus que levavam direto até ele.

—O que vai fazer? —Percy questionou, sem tirar os olhos do fogo sagrado. Eu também não conseguia desviar os outros. Parecia mágico demais, a ponto de eu nem conseguir acreditar no que estava vendo.

—Eu não sei. —Falei, porque Raven só tinha me dito que eu precisava dele, mas não me explicou o que eu deveria fazer. Eu nem deveria esperar isso. Seria demais, quando estamos de lados opostos da guerra. —Eu deveria tocar nele?

Os dois se olharam, como se estivessem pensando a mesma coisa. Encarei o fogo sagrado, esperando que aquela coisa mágica ali me trouxesse a resposta que eu precisava naquele momento. Mas o fogo só estava lá, queimando sem qualquer lenha ou brasa. Flutuando sobre aquelas pedras como se surgisse do centro do mundo.

—Zaia, e se ele estiver mentindo? —Margo questiono, me fazendo olhar pra ela com hesitação. Não achava que Raven estava mentindo. Não podia dar um voto de confiança pra ele, mas alguma coisa me dizia que aquilo ali não era mentira. Mas Margo não sabia que Raven tinha me dito aqui. Ela estava desconfiando de Isaac.

—Isaac não mentiria. —Falei, porque sabia que naquilo podia acreditar. Aquela criatura parecia ser muitas coisas, mas não mentiroso.

Me afastei dos dois, começando a descer os degraus que davam até o fogo sagrado. Só tinha o visto uma vez, quando ele foi até Margo, para entregar seu dragão a ela. Não sabia bem até onde aquela magia ia, só sabia que era poderosa e uma coisa única desse mundo.

—Ora, mas o que temos aqui. —Uma voz feminina e antiga me fez tropeçar nos degraus, olhando para uma das entradas laterais. A mulher parecia velha e ao mesmo tempo jovem. Os cabelos tão brancos quanto a neve e os olhos eram de um tom azul. O mesmo azul daquelas chamas na minha frente.

—O que esses guerreiros fazem aqui? —Um homem surgiu atrás dela, com aquela mesma aparecia.

—Vocês são... —Eu parei de falar quando passos soaram na outra entrada, revelando mais um homem e uma mulher. Os dois pareciam mais jovens que os outros dois, apesar da aparência ser muito parecida, como se os quatro fossem de alguma forma parentes.

—Quem ousou interromper nossa reunião? —O homem que tinha acabado de chegar questionou, com um tom de voz que deixava claro o incômodo com a nossa presença ali.

—Apresentem-se! —A mulher que tinha chegado primeiro pediu, com um tom de ordem sútil, que me fez engolir em seco e olhar na direção de Margo e Percy. Nunca tinha estado na presença dos anciãos antes. Jamais achei que isso iria acontecer. Nem mesmo sabia como deveria agir, sem soar desrespeitosa, ao mesmo tempo que aquela lembrança de Raven queimou na minha cabeça.

—Percy Willians. Guerreiro do Acampamento Vertical. —Percy afirmou, antes de segurar a mão de Margo e fazer um sinal com a cabeça para que ela fosse em frente. Percebi, nesse tempo que Percy tinha passado a morar no acampamento, que ele tinha ganhado muito mais confiança, porque eles se apoiavam lá.

—Margo Petrova. Elemental do fogo. —Margo falou, com um tom de voz cauteloso. Os anciãos trocaram olhares demorados, antes de sussurrarem uns com os outros, sem fazerem questão de serem sutis.

—Zaia Scott. Guerreira nível um do Chalé Azul. —Soltei, erguendo o queixo quando eles ficaram visivelmente rígidos e tensos, como se já tivessem ouvido meu nome antes. Claro que ouviram. Meu nome tinha se espalhado rápido demais, mesmo contra a minha vontade.

—A garota da profecia. —Um deles constatou, enquanto eu assentia com a cabeça, me recusando a dizer qualquer coisa.

—O motivo de termos aceitado aquela proposta dos humanos. —A mulher que até então estava em silêncio resmungou, me fazendo erguer as sobrancelhas quando me lembrei da visão da bruxa da lua, quando ela me mostrou o dia que a profecia tinha sido proclamada. —E ela nem tem o poder elemental.

Soltei o ar com força, sentindo aquelas palavras como uma pancada no meu corpo. Por um momento, me vi naquela lembrança de Raven, observando aquele garotinho ajoelhado no chão, implorando por ajuda. Aqueles quatro anciãos não eram ela, mas a semelhança física estava lá, além da forma como falavam.


Continua...

As Crônicas de Scott: A Guerra / Vol. 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora