Capítulo 44: Deveria ficar aqui.

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Duas semanas após nossa despedida a Aurora, eu ainda não tinha me recuperado mentalmente do que havia acontecido. Meu braço já estava livre de qualquer faixa, se movendo tão bem quanto antes, como se nunca tivesse sido quebrado. Eu não podia dizer o mesmo do que eu sentia, porque alguma coisa parceria ter se partido dentro de mim.

Entrei no refeitório, sentindo um nó na minha garganta quando alguns olhares se voltaram pra mim, com um pouco de julgamento. Não demorou para a história de que havia poupado a vida de Raven se espalhar. Sabia que todo mundo estava sussurrando pelos corredores sobre isso. Fazendo teorias de que eu estava envolvida no que aconteceu.

Tentei ignorar todos eles enquanto seguia até a mesa onde Mia e Ayla tomavam seu café. Tinha evitado quase todo mundo naqueles dias. Meu tio, que havia ficado ali para me fazer companhia, precisou voltar para casa. Então eu não tinha outra alternativa a não ser voltar a realidade.

—Bom dia. —Falei, recebendo dois sorrisos pequenos em resposta, observando que a bandeja delas estava quase intocada. Não as julgava por isso, porque eu também tinha pedido o apetite. —Alguma novidade?

—Por enquanto nada. —Mia empurrou a bandeja pra frente, enquanto fazia uma careta para a comida e cruzava os braços na frente do corpo. —Fomos esmagados. Perdemos um elemental e outro nos traiu. Sério, as coisas estão horríveis.

—Horríveis e estranhas. —Ayla me encarou, enquanto eu sentia a tensão ameaçar esmagar meus ossos. Ela nem precisava dizer o que estava na cabeça dela, porque eu já sabia.

—A resposta é não sei. —Afirmei, antes que ela fizesse a maldita pergunta, enquanto comprimia os lábios e esfregava a mão no rosto.

—Qual é, Zaia, sabe que todos estão se perguntando isso. —Retrucou, enquanto Mia olhava dela pra mim, com a expressão endurecendo. Mia tinha sido a única a não me questionar sobre aquilo e eu sabia que era porque ela queria a morte de Raven acima de qualquer coisa. —Por que não matou o Raven?

—Eu não sei porque não o matei. Na hora eu só não consegui, está bem? Não sei o que todo mundo quer que eu diga. —Afirmei, sentindo o gosto da mentira na ponta a minha língua, porque sabia muito bem porque não tinha o matado. —Sei que tem muita gente achando que eu sou uma traidora. Sinceramente? Não me importo. Acho que já estamos com merda o suficiente pra eu me incomodar com isso. Não é como se eu não estivesse acostumada.

Ayla me encarou por um longo momento, como se absorvesse tudo. Ela me conhecia bem demais e provavelmente sabia que havia mais alguma coisa. Mas ela não instituiu, se limitando em assentir com a cabeça. Acho que de todo mundo ali, ela era a única capaz de entender como eu era julgada quase o tempo todo, apesar de que Ayla se enturmou ali muito melhor do que eu.

Eu também não queria ficar pensando ou falando em Raven. Tinha tido meu próprio tempo me lamentando por não ter feito o que era certo naquele momento. Por ter deixado ele entrar na minha cabeça e conseguir ter influência sobre as minhas ações. E eu tinha tido tempo suficiente para me perguntar qual o motivo de tudo aquilo.

—Você tem notícia dos Sky? —Questionei, me virando para encarar Mia. Não tinha tentado ir vê-lo de novo, porque a outra vez tinha parecido o suficiente. Conhecendo Sky, eu sabia que ele iria preferir ficar sozinho. Mas isso não apagava qualquer preocupação que eu tinha.

—Ele foi embora. —Mia afirmou, me deixando rígida na cadeira. Até mesmo Ayla se virou para encara-lá, como se não acreditasse no que tinha acabado de ouvir. —Caio me contou, porque nós dois não estamos tendo muito tempo para nos ver. Com Sky longe do acampamento, é ele quem está dando as ordens.

—Ele foi embora por quanto tempo? —Questionei, porque aquilo não fazia o menor sentido. Aquele acampamento era tudo para Sky e ele jamais o deixaria assim.

As Crônicas de Scott: A Guerra / Vol. 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora