As Crônicas de Scott: A Guerra / Vol. 2

Capítulo 33: Você se parece com ela.

—O que fazem aqui? —A segunda anciã questionou, erguendo as sobrancelhas como se nos analisasse com desconfiança. —Estávamos no meio de uma reunião importantíssima.

Encarei o fogo sagrado na minha frente. Os elementais tinham ouvido rumores sobre os anciãos estarem se reunindo. Rumores esses que agora eu sabia que eram reais. Ninguém queria que eles se preocupassem com o que estava acontecendo aqui e decidissem interferir. Mas parecia ser tarde demais pra isso.

—Senhorita Scott? —Ergui minha cabeça até a anciã que me encarava, descendo alguns degraus, mas mantendo a distância de mim.

—O fogo sagrado pode despertar meu poder? —Questionei, vendo-a parecer surpresa, antes de olhar na direção dos outros e parecer ponderar o que iria responder.

—Não sabemos a resposta para isso. —Ela voltou a olhar pra mim, com uma cautela um tanto tensa. —Mas pode testar a teoria. Está disposta a tentar?

—O que vai acontecer se eu tocar nele? —Indiquei o fogo sagrado, vendo-a hesitar por um momento, como se não soubesse o que me dizer, antes de comprimir os lábios.

—Depende do que você deseja. —Afirmou, me deixando completamente confusa. —O fogo sagrado é feito da alma de todos os anciãos que já partiram. Ele conhece você e seus mais profundos medos e desejos. Se tiver pensamentos perversos, ele te queimará até a morte.

—Caso contrário. —Outro ancião continuou, descendo alguns degraus para me encarar com firmeza. —Ele aceitará você e lhe revelara o que mais desejar.

—O que você mais quer? —A anciã questionou, se aproximado até estar atrás de mim, próxima demais.

Encarei as chamas azuis, me perguntando o que eu mais desejava naquele momento. Queria muito meus poderes, mas era só aquilo? Havia outra coisa na minha mente? A dúvida me deixou hesitante, até eu perceber que não importava o que eu queria, porque nenhuma dessas coisas era ruins.

Encarei a anciã e depois o reflexo dos meus amigos atrás de mim, vendo os dois apertarem as mãos como se estivessem preocupados. Dei um passo para frente e depois outro, parando a centímetros do fogo sagrado. Respirei fundo e dei um passo para dentro do círculo de pedras. A primeira coisa que senti foi o calor das chamas nas minhas pernas.

Esperei sentir minha pele arder e queimar, mas quando encarei as chamas ao meu redor, elas estavam aumentando até me cobrir por inteira. Senti meu sangue ferver dentro do meu corpo. Minha pele esquentar tanto que o suor escorreu pela minha testa e a ponta dos meus dedos arderem. Mas ainda sim, não queimou.

Fechei meus olhos, soltando o ar com força quando escutei apenas o estalar das chamas ao meu redor. O calor das chamas lambeu meu rosto até ser substituído por outra coisa. Quase cheguei a pensar que estava afundando na água, sentindo tudo dentro de mim derreter e escorrer pela minha pele. Água. Girando ao meu redor. Entrando pela ponta dos meus dedos e se tornando parte do meu sangue. As chamas ao meu redor se tornaram um rio e eu mergulhei nele.

A água explodiu ao meu redor e meu corpo ficou no centro dela. Abri meus olhos, soltando o ar com força ao ver a água ao meu redor, como se o rei tivesse se aberto pra mim. As pedras embaixo dos meus pés estavam escorregadias, me fazendo cambalear um pouco até conseguir me firmar no chão e conseguir encarar a pessoa que estava bem na minha frente.

—Adam? —Soltei, observando aquele homem que eu sempre via quando olhava para Isaac. Mas não era Isaac ali. Ele não estava cercado de sombras e escuridão. Era apenas o elemental da água.

—Olá, Zaia. —Ele abriu um sorriso, antes de olhar para a água ao nosso redor, girando como um redemoinho. E para o céu sobre nós, tão azul quanto a cor dos olhos dele. —É bom ver que meu legado está em boas mãos. Você fez um ótimo trabalho até aqui. Está indo muito, muito bem.

—Eu não... —Umedeci os lábios com a língua, sem conseguir parar de olhar pra ele. Era meu avô no final das contas. Era o motivo de eu estar ali, mesmo que eu me recusasse a aceitar isso no início. —Vim até o fogo sagrado pra tentar despertar meus poderes. Os nossos poderes.

—Eu sei. Foi uma ótima ideia. —Adam assentiu, com aquele sorriso fazendo meu coração doer, porque eu não sabia como me sentir ao encarar ele ali. Mesmo que não fosse real. Mesmo que fosse apenas uma visão causada pelo fogo sagrado. Ele me encarou por um momento, com os olhos ficando cheios de um sentimento que eu não conseguia decifrar. —Você se parece com ela, sabia?

—Com Daphne? —Questionei, pensando na avó que eu jamais conheceria. A mulher que fugiu para salvar a própria vida.

—Com a sua mãe. —O sorriso que ele me deu ficou doloroso, como se ele sentisse muito. —Eu fiz o que pude para deixar as duas seguras. Acho que errei muito no caminho. É uma pena que o tempo tenha a levado rápido demais de você. Mas minha filha era uma força poderosa, assim como você é, Zaia. Ela ama você e tem tanto orgulho.

—Como sabe disso? Como pode saber que ela me ama e sente orgulho? —Questionei, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas, porque sempre achei que o mundo tinha sido injusto demais comigo ao me tirar dos meus pais. Ao tirá-los de mim.

—Porque estamos observando cada passo do seu caminho. —O sorriso dele se tornou maior, enquanto eu sentia um nó se formando na minha garganta, junto com o aperto insuportável no meu peito.

—Por que ela não está aqui com você? Eu não posso vê-la? —Questionei, esperando que ela aparecesse ali ao lado dele. Esperando por apenas um vislumbre da minha mãe.

—Sou eu quem você precisa ver, Zaia. —Adam afirmou, me fazendo balançar a cabeça negativamente, apertando as mãos com força ao lado do corpo. —As coisas vão ficar complicadas agora. Você vai precisar manter a cabeça no lugar e fazer escolhas difíceis. Mas eu sei que você vai fazer a escolha certa.

—Estou com medo. —Revelei, mesmo que nunca tivesse tido coragem de dizer aquilo em voz alta, porque não queria soar covarde. Mas tinha tanto medo de falhar. Tinha medo de machucar as pessoas que eu mais amava.

—Ter medo é natural. Isso não nos torna fracos. Isso nos torna mais fortes e obstinados. Mas você não vai estar sozinha, certo? Quando estiver com medo, lembre-se que Misty está com você. Ela jamais vai deixá-la sozinha. —Adam deu um passo na direção da água, me fazendo perceber que nosso tempo ali estava acabando. —Cuide bem dela, está bem? É uma dragão cheia de manias e um tanto rebelde. Mas é uma ótima guardiã.

—Prometo. —Sussurrei, balançando a cabeça, vendo Adam sorrir ainda mais, com uma expressão repleta de orgulho. Me perguntei se era o mesmo orgulho que minha mãe sentia por mim. —Adam, vou vê-lo de novo?

—Claro que você vai. —Ele riu, negando com a cabeça, enquanto eu sentia uma pontada de esperança. Mas ela logo se desfez, quando percebi que ele provavelmente estava falando aquilo por causa de Isaac. —Adeus, Zaia.

Dei um passo na direção de Adam, mas ele desapareceu antes que eu conseguisse alcançá-lo. Fechei meus olhos quando a água avançou e se chocou contra mim, me fazendo mergulhar novamente. Mas dessa vez durou pouco tempo, até eu sentir o calor das chamas do fogo sagrado e cambalear para trás, tropeçando naquele círculo de pedras até cair nos degraus.

Soltei um gemido de dor quando minha cabeça atingiu o chão, escutando os passos apressados de Margo e Percy quando eles surgiram cada um ao meu lado. Meu coração ainda estava disparado, com a lembrança de Adam muito viva na minha cabeça. Queria ter tido mais tempo com ele. Queria enche-lo de perguntas.

—Zaia, você está bem? —Margo segurou meu rosto entre suas mãos, com a voz soando totalmente preocupada. Balancei a cabeça, engolindo aquele nó na minha garganta, enquanto tentava espantar a sensação estranha que tomava conta do meu corpo. —Zaia?

—Estou bem, só bati a cabeça. O fogo sagrado não me machucou. —Falei, piscando várias vezes para espantar a sensação daquelas lágrimas os meus olhos, enquanto tentava regular minha respiração. Encarei Margo, vendo a expressão dela ser tomada por surpresa quando viu alguma coisa no meu rosto, antes de olhar para Percy. —Qual o problema?

Continua...