Fazia alguns dias que eu não voltava pro Chalé Azul. Percy tinha feito o favor de ir até ali, escondido no meio da noite, pegar todas as minhas coisas e levar para a Casa do Ar. Não que eu tivesse pedido isso a ele. Ele simplesmente fez, murmurando sobre não fazer sentido eu morar em um lugar e minhas coisas ficarem em outro. Eu nem sabia onde estava morando de fato, porque Sky ainda não havia desejado a Casa do Ar.
Mas o Chalé Azul continuava o mesmo que eu me lembrava. Tentei evitar todos os guerreiros quando cheguei, caminhando pelos corredores silenciosos. Não queria que Amélia soubesse que eu estava ali e me chamasse para uma conversa. Ela sempre tinha muito a falar e eu normalmente nunca queria ouvir. Nada tinha mudado até esse ponto.
Encontrei Mia e Ágatha na biblioteca, com a cara enfiada nos livros. A mesa estava uma bagunça, com livros e pergaminhos espalhados para todos os lados. Ayla estava saindo do meio das prateleiras de livros, trazendo mais uma pilha deles. Fiz uma careta, porque tudo aquilo cheirava a poeira e coçava o nariz.
-O que vocês tanto procuram? —Questionei, puxando uma cadeira e me sentando. Mia pareceu surpresa em me ver, já que eu tinha chegado em completo silêncio. Mas Ágatha não demostrou emoção nenhuma, além de me olhar de cima a baixo.
—Respostas. —Mia deu de ombros, voltando a olhar para o livro na sua mão, antes de soltar um bocejo como se estivesse morrendo de sono.
—Vocês falaram que tinham encontrado alguma coisa interessante, mas ainda não falaram o que é. —Falei, me lembrando da última conversa que tinha tido com elas. Mia e Ágatha trocaram um olhar demorado, como se não soubessem se deviam ou não falar. —Vocês não tem certeza ou vocês só não querem me falar?
—Não queremos dar uma pista falsa. —Ágatha afirmou, torcendo os lábios em resignação. —Isso só poderia gerar mais confusão do que já temos para lidar.
—Você sabe que cada elemento é representado por uma criatura, certo? —Levei um susto quando Ayla deixou cair aquela pilha de livros sobre a mesa, a fazendo tremer, enquanto olhava pra mim. —Sereia a água. Salamandra o fogo. Fadas o ar. E duendes a terra.
—Eu sei disso. —Abri um sorriso torto pra ela, porque lembrava da pequena aula que Mia tinha me dado assim que cheguei no Chalé Azul. —As sereias voltaram depois que eu apareci aqui.
—Bem, sim, todo mundo falou disso. —Ayla concordou com a cabeça, mas não parecia estar pensando no mesmo que eu. Mia e Ágatha estavam olhando fixamente pra ela, como se quisessem saber o que ela pretendia me dizer. —Temos quatro elementos, certos? Mas a terra é a mãe de todos eles, sendo a água, ar e fogo seus filhos, por assim dizer. A terra é quem começou tudo. Quem mais representa a terra além dos duendes?
—Sério? —Soltei, completamente incrédula, enquanto olhava para Ayla com as sobrancelhas erguidas. —Até você com enigmas? Eu meio que já estou cansada deles.
—Desculpa. —Ayla abriu um sorriso fraco, puxando a cadeira para se sentar. —Mas pensa nisso. Acho que você pode chegar a uma conclusão muito boa sem precisar da nossa ajuda. Não temos certeza de nada e não queremos falar algo que pode acabar sendo mentira.
—Eu pensei em algo que faria Raven lutar sem fugir. —Ágatha afirmou, provavelmente para mudar de assunto. E deu certo, porque aquilo chamou minha atenção em um instante. —Uma luta por desafio. Até a morte. Ele não desistiria. Raven aceitaria e a pessoa teria que o matar.
—Zaia teve essa chance e não aproveitou. —Mia sussurrou, e eu evitei ficar ofendida com o tom frio na voz dela, porque sabia que ela tinha as próprias questões com Raven. Mas ainda sim, a lâmina afiada deslizou pelo meu coração como um alerta.
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As Crônicas de Scott: A Guerra / Vol. 2
FantasiLIVRO2 (AS CRÔNICAS DE SCOTT) Zaia Scott aprendeu da pior maneira possível que não se pode confiar em todos que estão a sua volta. Após a traição de Raven e da sua derrota para os elementais, Zaia sabe que precisa descobrir o quanto antes quem são o...