As Crônicas de Scott: A Guerra / Vol. 2

Capítulo 2: Não está determinado ainda.

—Olá, Sky. —Brice abriu um sorriso que não chegava até os olhos, parecendo tensa. —Ainda guardando ódio da minha espécie nesse seu coração?

Sky não desviou os olhos dela enquanto entrava na loja e caminhava até onde eu estava, parando ao meu lado. Ele estava rígido, como uma rocha, enquanto sua respiração era quase profunda demais. Sabia que Sky não gostava de bruxas da lua, mesmo que ele se recusasse a me dizer o porquê.

—Sua espécie é desnecessária, Brice. Não valem uma moeda sequer. —Afirmou, passando o braço ao redor da minha cintura, na intenção de me tirar dali. —Se vocês não existissem, seria um grande favor a todo mundo.

Sky me puxou em direção a entrada, enquanto eu sentia todos os seus músculos duros contra o meu corpo, como se estar no mesmo lugar que ela fosse demais pra ele. Olhei para trás, vendo Brice comprimir os lábios, como se tivesse ficado ofendida, antes de atravessar a loja a passos largos.

Sky se virou, como se sentisse a presença dela perto demais, mas antes que pudesse fazer alguma coisa, Brice ergueu as mãos e tocou seu rosto. A empurrei para longe dele na mesma hora, me virando para Sky quando ele caiu de joelhos, puxando uma respiração pesada como se tivesse ficado sem fôlego.

—Sky? —Me abaixei ao lado dele, tocando seu rosto para ver se ele estava bem. Seus olhos encontraram os meus, enquanto seu rosto parecia quase assustado demais:

—O que foi isso? —Sky ficou de pé e me afastou, se virando para Brice com os olhos queimando de raiva. —O que você fez?

—Linda, não é? —Brice indagou, soltando uma risadinha perversa, como se tivesse adorado ver Sky desestabilizado. Mas aquilo foi rápido, porque ela se assustou quando ele a agarrou pela garganta e a prensou contra a parede.

—Não brinque comigo, bruxa. —Sky sibilou, quase esmagando a garganta dela com os dedos, enquanto ela tentava o empurrar e respirar. —É a segunda vez que sua espécie nojenta me mostra algo que eu não queria ver.

Brice continuou se debatendo, enquanto seu rosto ia perdendo completamente a cor. Dei um passo à frente, com meu coração martelando no meu peito, sem saber se deveria interferir ou não. Mas não fazia ideia do que ela tinha mostrado a ele, para deixá-lo daquele jeito.

—É melhor sumir dessa cidade e voltar para aquela sua ilha. —Sky inclinou o rosto na direção do dela, deixando claro que estava falando muito sério. —Se eu olhar para sua cara de novo, eu corto sua garganta.

—Sky? —Sussurrei, e ele a soltou quando ouviu minha voz, se virando pra olhar pra mim, enquanto Brice caia de joelhos no chão, tossindo e puxando o ar. Seu rosto ainda estava pálido, mas seu pescoço estava com as marcas exatas dos dedos de Sky.

Olhei para Sky, querendo ter certeza de que ele estava bem, vendo-o engolir em seco e olhar para Brice uma última vez, antes de caminhar na minha direção. Deixei que ele me guiasse para fora quando segurou minha mão e atravessou a porta, descendo os degraus até o chão lamacento.

—Não está determinado ainda. —Brice afirmou, fazendo Sky hesitar, mas sem olhar para trás. —Uma decisão sua e esse futuro não acontecerá.

Olhei para a reação de Sky, vendo-o soltar um suspiro pesado e seguir em frente, me obrigando a ir com ele quando puxou ninha não. Ele andava rápido demais, quase me fazendo tropeçar nos meus próprios pés, enquanto eu chamava seu nome várias vezes, apesar de ele parecer nem estar me ouvindo.

—Você vai me derrubar desse jeito! —Exclamei, puxando a mão dele para chamar sua atenção. Sky parou de andar, fazendo meu corpo ir de encontro ao dele. Antes que eu acabasse de cara na lama, ele me segurou contra ele.

—Desculpa. —Sussurrou, e eu vi a tensão no rosto dele quando ergui os olhos para encará-lo. —Precisa ter ido ver aquela bruxa de novo?

—Não sabia que ela estava lá. —Rebati, porque não tinha sido culpa minha. —Só estranhei a loja estar aberta de novo. Mão imaginei que ia dar de cara com ela lá.

—Só não vá mais até lá. —Falou, encostando a testa na minha e fechando os olhos, como se não estivesse se sentindo bem. Toquei as bochechas dele, concordando com a cabeça.

—Você está bem? O que foi que ela mostrou a você?

—É melhor você não saber. —Afirmou, se afastando de mim bruscamente, como se aquele fosse o último assunto que ele desejasse falar no momento.

—Não gosto das suas mudanças de humor repentinas. —Falei, porque nas semanas que estávamos juntos, tinha momentos que ele se fechava por completo e me afastava, de uma forma que incomodava. — E muito menos da falta de confiança.

—Eu confio em você. Confio em você mais do que confio em qualquer outra pessoa. Isso não deveria ser um problema entre nós dois. —Sky olhou pra mim com uma expressão cansada, enquanto eu comprimia meus lábios, percebendo que ele estava se fechando de novo.

—Não confia o suficiente para me contar o que aconteceu entre você e a bruxa da lua. Nem agora e nem da outra vez. —Afirmei, vendo-o apertar os lábios com força, enquanto as mãos se fechavam em punho ao lado do corpo, num claro sinal de frustração por eu ter falado aquilo. —Quer saber, não importa. Tenho meus próprios problemas pra me preocupar.

Me virei em direção a rua, seguindo na direção da floresta onde ficava a barreira magica. Sky seguiu atrás de mim, em completo silêncio, enquanto um clima esquisito ficava entre nós. Mas eu já estava acostumada com isso, porque era o clima desconfortável que surgia sempre que Sky resolvia se fechar.

—Aonde você vai? —Questionou, assim que atravessamos a floresta e passamos a barreira magica. Olhei por cima do ombro, comprimindo meus lábios em resignação, ao ver a expressão impaciente no rosto dele.

—Preciso visitar meu tio. —Afirmei, o que não era mentira. Ayla já deveria estar me esperando para irmos, já que ela sempre ia comigo quando eu resolvia ir visitá-lo.

—A gente se vê mais tarde? —Indagou, e eu acabei hesitando na hora de responder, antes de soltar um suspiro pesado quando as mãos dele envolveram minha cintura e ele me puxou contra seu peito, afundando o rosto na minha garganta, causando um arrepio por todo meu corpo. —Eu confio em você. Acredita em mim, eu confio, é só que...

—Tudo bem. —Abri um sorriso fraco, mesmo que Sky não pudesse vê-lo. —Eu não deveria força-lo a me contar algo que não quer.

—Você não está me forçando a nada. —Sky se afastou, me virando pra ele, enquanto me encarava com certa cautela. —Eu queria te contar, mas envolvem coisas demais. E o que ela me mostrou hoje... Não sei lidar com isso, Zaia. Simplesmente não sei.

Fiquei em silêncio, me perguntando o que diabos estava acontecendo entre nós. Quando o deixei se aproximar, sabia que aquilo era intenso demais. Não era qualquer coisa. Mas quando eu paro pra pensar, não faço ideia do que somos ou do que vamos ser. Mas Sky estava ali, tomando conta de tudo, até mesmo quando resolvia me afastar.

—Zaia? —Meu nome saiu como um sussurro rouco dos seus lábios, antes de ele deslizar a mão até minha nuca e me beijar, me fazendo esquecer daqueles pensamentos confusos. O beijei de volta, o puxando mais para mim, porque parecia que nunca era o suficiente. Eu sempre queria mais dele.

—Eu preciso ir. —Falei, com os lábios grudados nos dele, escutando Sky grunhir em frustração e me beijar com mais força, quase me fazendo esquecer do que eu precisava fazer.

Mas Sky me soltou quando Misty pousou na floresta a alguns metros de nós, soltando um ar gelado sobre nos dois. Abri um sorriso ao olhar na direção dela, vendo-a nos encarar com uma expressão mortal. Já tinha percebido que ela costumava ser bem ciumenta com qualquer um que chegava perto de mim. Principalmente com Sky. Olhei para ele uma última vez, vendo-o parecer um pouco perdido quando subi em Misty, mesmo que o sorriso que ele tenha me dado fosse confiante demais para ser real.

Continua...