As Crônicas de Scott: A Guerra / Vol. 2

Capítulo 36: Chalé Marron.

Sky

Eu odiava viagens longas, porque isso significava passar muitos dias longe do acampamento. Em um momento como esse, que já tínhamos sido atacados uma vez, a ideia de viajar me deixava irritado. Mas minha mãe tinha conseguido me convencer a isso, depois de uma longa discussão que terminou com ela vencendo, como sempre acontecia.

Fazia uma semana que estávamos em alto mar, viajando até a ilha do sol, onde o Chalé Marron ficava. Não gostava da ideia de ir até lá. Odiava qualquer coisa relacionada ao meu pai. Mas todo mundo pareceu pegar gosto em repetir que se fosse eu a pedir, meu pai viria até aqui ajudar. Não tinha certeza do que esperar, porque fazia anos que não o via. Mas agora as ondas estavam me levando até ele.

—Sr. Scott. —Acenei com a cabeça quando o tio de Zaia se aproximou de mim. Eu estava escorado no parapeito no navio, observando as águas batendo contra o casco.

Foi ideia de Mia pedir ajuda pra ele, já que segundo ela, Edgar Scott faria qualquer coisa pela sobrinha. Ela tinha razão, porque assim que falei que precisava de ajuda e que aquilo envolvia Zaia, ele aceitou na mesma hora. Foi estranho estar na presença dele sem Zaia por perto. Tinha o visto algumas poucas vezes, quando Zaia me arrastava até a casa do tio dela. Mas isso tinha acabado.

—Acha que ela está bem? —Indagou, encarando o horizonte, onde a silhueta da ilha começava a surgir. —Zaia, eu quero dizer. Acha que ela está bem? Não o vejo a tanto tempo. Não estávamos tão bem nos últimos tempos. Ela não ficou tão feliz quando descobriu sobre minha nova companheira.

—Acho que ela está bem sim. Zaia é forte como uma rocha. Nada é capaz de derruba-la. —Afirmei, vendo-o girar o rosto para olhar pra mim. Os olhos no mesmo tom castanho esverdeado dos de Zaia. —Não acho que ela esteja chateada com você por ter encontrado outra pessoa. Acho que ela só estava preocupada. Ela quer ver o senhor feliz.

—Eu sei. Ela sempre pensa nos outros em primeiro lugar, não é? Mas acho que ela também não entende como isso é importante pra mim.

—Ela entende. Tenho certeza que ela entende. —Falei, balançando a cabeça, porque sabia que Zaia se sentia tão sobrecarregada nos últimos tempos. Se sentia uma farsa, mesmo que ela fosse a pessoa mais verdadeira que conheci. —Ela só precisa de um tempo. O que estamos enfrentando agora está exigindo muito dela.

—E agora talvez ela volte com poderes. —Ele soltou uma risada, parecendo completamente abismado com aquilo. —Minha pequena Zaia. Ainda me lembro quando ela pegava uma espada de madeira e fingia estar lutando no meio da sala. Era tão pequena e frágil e agora ela sai por aí, enfrentando monstros e montando em dragões.

Soltei uma risada junto com ele, sentindo uma sensação pesada no meu peito, porque as coisas entre nós tinham acabado tão mal. Ela tinha ido embora. Não a culpo por isso. Sei que todo mundo ao nosso redor pode concordar que Zaia merece bem mais do que eu. Não sou bom o suficiente pra ela. Jamais vou ser.

—Quando ela voltar e você a ver, pode dizer algo a ela por mim? —Questionou, tocando meu ombro com um carinho de partir o coração. Balancei a cabeça que sim, tentando não me sentir um merda naquele momento, sabendo que ele não fazia ideia de que eu e Zaia não tínhamos mais nada. —Diga a ela que eu tenho muito orgulho de quem ela se tornou. E diga a ela que eu a amo como minha filha. Sempre vou amar.

—Eu direi. —Prometi, engolindo com dificuldade quando senti um nó se formando na minha garganta, junto com aquela sensação pesada abrindo um buraco no meu peito, porque não conseguia parar de pensar no que Zaia estaria fazendo nesse momento.

[...]

O Chalé Marron ficava próximo de um pequeno vilarejo. Edgar iria nos esperar no navio, enquanto tentava fazer negócios. Eu tinha que convencer meu pai e entrar numa guerra, tentando não deixar o lado pessoal interferir nisso, mesmo que eu não quisesse olhar na cara dele. Kylian e Erick tinham ido comigo, enquanto Caio tinha ficado no comando do Acampamento Vertical.