As Crônicas de Scott: A Guerra / Vol. 2

Capítulo 20: De quem você está falando?

Minha cabeça estava doendo como se eu tivesse levado uma pancada. Havia pontadas de dor por todo meu corpo, mas nem perto do que eu estava sentindo antes. Meu corpo agora parecia mais dormente do que qualquer outra coisa, como se eu tivesse dormido por muito tempo. Forcei meus olhos a se abrirem, passando a língua nos lábios quando os senti secos.

Pisquei algumas vezes, porque minha visão estava um tanto turva, até conseguir encarar o teto de madeira. Uma careta se formou no meu rosto quando ergui a mão e esfreguei a testa, sentindo meus músculos queimarem quando tentei me mover. O ar escapou com força pela minha boca, enquanto eu sentia o curativo que tinha sido feito ao redor da minha cabeça.

Abaixei a mão, olhando ao redor. O sol atravessava as frestas da parede e da janela parcialmente fechada. A cabana que eu estava era pequena, com apenas duas camas, um armário que ocupava quase toda a parede e uma mesinha. Era pequeno e aconchegante. Haviam flores penduradas pelo teto, como um tipo de decoração estranha.

Tentei me mexer para levantar, comprimindo os lábios quando meu braço latejou. Quando abaixei os olhos, senti como se tivesse comido brasa quente quando vi a faixa enorme que o envolvia. A lembrança do que havia acontecido caiu sobre mim como uma bomba, quando lembrei das garras do dragão. Um calafrio atravessou minha coluna, antes de eu espantar a lembrança ruim.

Me sentei na cama, engolindo em seco quando fiquei automaticamente enjoada. O queimor subiu pela minha garganta, antes de eu conseguir me recuperar. Forcei minhas pernas pra fora, rangendo os dentes quando senti cada parte do meu corpo protestando com isso. Tentei me levantar, sentindo que minhas pernas estavam incrivelmente moles, porque desabei com os joelhos no chão.

—Porra! —Soltei, sentindo a dor atravessar minhas pernas e me paralisar, enquanto eu puxava o ar com força. A porta foi aberta na mesma hora, como se o som do meu corpo caindo tivesse sido alto o suficiente para quem estava lá fora ouvir. Tive um segundo de surpresa ao ver Ágatha, até notar que ela também parecia surpresa, além de confusa.

—Mas que diabos você está fazendo? —Exclamou, caminhando até onde eu estava e estendendo as mãos para me ajudar a levantar. Engoli o constrangimento, porque Ágatha era a última pessoa que eu esperava ver ali, mesmo que eu estivesse ido até aquele lugar para procura-la.

—Só estava tentando descobrir onde eu estou. —Afirmei, fazendo uma careta contra a fisgada de dor que atingiu minhas costelas, enquanto Ágatha me colocava sentada na cama de novo.

—Precisa ficar deitada e descansar. Como estava apagada não podemos fazer muita coisa. Mas você caiu do céu e quebrou uma boa quantidade de ossos. Ainda estão se curando, muito lentamente. —Ágatha caminhou até a outra cama e se sentou, me observando com as sobrancelhas erguidas, enquanto eu erguia as sobrancelhas.

—Você viu? —Questionei, imaginando a visão patética que deveria ter sido, eu despencando do céu em meio a uma briga de dois dragões. Deveria existir formas melhores de morrer do que essa.

—É claro que eu vi. Nós escutamos seus gritos e corremos até a floresta. —Ágatha soltou uma risadinha, como se estivesse se divertindo muito com a minha desgraça. —Você estava em um estado de meia consciência quando a encontramos no chão, além de ter perdido muito sangue.

—Onde está Misty? —Questionei, tentando ficar de pé de novo, vendo Ágatha balançando a cabeça negativamente, com uma expressão de tédio. Não consegui sequer firmar as pernas no chão, antes de cair sentada na cama de novo.

—Pode parar com isso? Você não está em condições de sair da cama agora. Vai cair desmaiada se tentar. —Ágatha sibilou, e eu odiei o tom resignado na sua voz, como se ela estivesse se sentindo obrigada a cuidar de mim. —Misty está bem. Se machucou bem menos que você, posso garantir. Os elfos já estão cuidando dela, mesmo que ela seja tão irritante quanto você.