Capítulo 22: Pedra da estrela.

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—Não acredito que me fizeram colocar esse negócio. —Ágatha resmungou, segurando a saia do vestido com força, como se quisesse deixá-la em pedaços.

Olhei para mim mesma, fazendo uma careta para o vestido creme que eu usava. Além de não ser meu estilo e não estar acostumada, tinham me feito colocar um espartilho tão apertado que eu estava até com dificuldade pra respirar, além dos meus seios estarem mais visíveis. Era desconcertante de várias formas diferentes.

Elas tinham aparecido quando eu já estava melhor, como se tivessem adivinhado. Nem tive tempo de pensar direito quando me arrancaram da cama e pediram que eu me arrumasse, com uma animação um tanto surpreendente. Pelo menos não fui a única a sofrer com isso, já que Ágatha estava do mesmo jeito, mesmo que não parecesse tão surpresa quanto eu.

—O que, exatamente, eles estão comemorando? —Questionei, enquanto eu e Ágatha caminhávamos pelas ruazinhas de pedra do vilarejo elfo escondido naquele vale. Todos estavam bem vestidos e com um grande sorriso no rosto, enquanto alguns elfos tocavam harpas na praça central. Flores decoravam as ruas, assim como fogueiras eram acesas.

—Uma união. —Afirmou, me fazendo olhar pra ela com as sobrancelhas erguidas. Já tinha ouvido falar sobre as uniões ali. São como os casamentos em Arcádia, apesar de acontecerem de uma forma bem diferente.

—Valorizamos a união aqui. —Me assustei com a voz logo atrás de mim, me virando para encarar a elfa bonita, que estava com os cabelos loiros decorados com ouro e flores, além do vestido ser mais elaborado do que qualquer outro que eu tinha visto. Mais longo e chamativo. —Aredhel, sou a mãe de Daniel. Além da representante dos elfos nesse vale.

—Zaia Scott. —Falei, mesmo tendo certeza de que ela sabia quem eu era. Mas eu já tinha notado que as tradições dos elfos eram bem diferentes da dos humanos, em poucas horas ali.

—Se me dão licença. —Ágatha soltou, enquanto tentava ajeitar a parte da frente do vestido, como se ele também tivesse o apertando. —Só algumas doses de bebida para me fazerem aguentar ficar dentro desse vestido a noite toda.

Aredhel soltou uma risada quando Ágatha se afastou, indo em direção as mesas repletas de bebidas que os elfos estavam terminando de arrumar. O vestido bordo flutuando ao redor das suas pernas, combinando com os cabelos ruivos que Ágatha tinha se demorado fazendo uma trança. Tinha perguntando se ela queria uma ajuda, no qual recebi um olhar atravessado de resposta, que eu entendi como um não.

—Achei que não existisse comemoração para uma união. —Eu me virei para Aredhel, me lembrando do que tinha perguntado antes de ela aparecer.

—Falesianos não costumam fazer comemorações, mas nós, elfos, gostamos de comemorar com uma festa. Achamos esse um passo importante na vida. —Aredhel afirmou, me lançando um sorriso que não chegava até os olhos. —Afinal uma união com uma pedra da estrela não pode ser desfeita.

—Irrevogável. —Sussurrei, engolindo lentamente quando me lembrei das palavras de Sky. Parecia algo intenso demais entre duas pessoas, já que elas jamais poderiam se separar. —Em Arcádia também existe uma festa para comemorar a união de duas pessoas. Mas nada de pedras mágicas. Alianças de ouro e uma sacerdotisa, apenas isso. Chamamos de casamento.

—Mas não é pra sempre. —Falou, e mesmo que não fosse uma pergunta eu confirmei com a cabeça. —Isso torna o amor fraco. Aqui não nos unimos aqueles que não são nossas almas gêmeas de fato.

Parei de andar quando vi do que ela estava falando. No centro da praça, embaixo de um arco de flores, um casal de elfos estavam na frente de uma fogueira. Suas mãos estavam dadas, enroladas por um fino tecido branco. Meus olhos observaram a pedra ser colocada nas mãos deles. O tom negro escuro, cintilante como se estivesse pintada de estrelas. Ela desapareceu entre as mãos dele, enquanto o casal repetia algumas palavras.

As Crônicas de Scott: A Guerra / Vol. 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora