As Crônicas de Scott: A Guerra / Vol. 2

Capítulo 7: Torneio dos mundos.

O refeitório do Chalé Azul estava lotado da manhã seguinte, com vários guerreiros machucados. Alguns com os braços enfaixados e outros mancando. Amélia passava por casa mesa, conversando com cada um, parecendo preocupada com todos depois do ataque de ontem, que foi muito pior do que os outros. Metade da Cidade das Cinzas estava destruída. Pessoas inocentes estavam mortas. Eu não conseguia entender como Raven queria proteger seu povo, machucando-os dessa forma.

Encarei minha bandeja entocada, sentindo meu estômago estranho, como se eu tivesse engolido brasa ontem e hoje elas estivessem me queimando de dentro pra fora. Margo estava sentada na minha frente, com sua bandeja cheia também intocada. O único que estava comendo era Sky, que não parecia preocupado com os olhares que estava recebendo, já que ele não deveria estar ali.

—Amélia vai te chutar daqui quando te notar. —Margo afirmou, olhando pra Sky com uma careta, como se não entendesse com ele poderia ter fome depois da nossa noite conturbada.

—Acho que ela tem preocupações maiores do que eu nesse momento. —Sky retrucou, lançando um sorriso torto a Margo, que suspirou e negou com a cabeça, desviando os olhos de Sky para onde Amélia estava. Mia apareceu alguns minutos depois, vindo se sentar ao lado de Margo, parecendo que nem havia dormido direito.

—Quem deixou ela ficar aqui? —Mia questionou, indicando a entrada do refeitório, onde Olivia tinha acabado de passar.

Ela andava graciosamente pelo meio das mesas, olhando ao redor como se procurasse alguma coisa. O sorriso que ela deu quando nos viu era capaz de iluminar uma tempestade toda, mesmo que Margo tenha fechado a cara na mesma hora. Lancei a ela um olhar questionador, mas Margo desviou os olhos e ficou quieta.

—Bom dia! —Olivia murmurou, se sentando do outro lado de Sky, enquanto um clima esquisito pesava sobre a mesa. —Não sabia que estava aqui, Sky. Pensei que Amélia não aceitava membros de acampamentos. Principalmente o líder de um.

—Pensei que fizesse parte do Chalé Vermelho. —Margo olhou para Olivia, torcendo os lábios em desagrado. —O que faz aqui?

—Não estou mais no Chalé Vermelho, na verdade. —Olivia olhou para Margo de forma cautelosa. Parecendo quase constrangida demais. —Sai de lá faz algum tempo.

Margo comprimiu os lábios ao ouvir aquilo, como se a informação a desagradasse mais ainda. Sky até parou de comer para prestar atenção, como se também estivesse vendo o mesmo que eu. O que quer que tenha acontecido entre as duas, não tinha sido bom e Margo ainda guardava aquilo.

—Deveríamos falar sobre o fato de Zaia não ter sido afetada pela magia de Misty? —Mia indagou, abrindo um sorriso forçado pra mim, como se estivesse puxando aquele assunto para aliviar o clima pesado do ambiente. Mas isso fez Margo, Olivia e Sky olharem pra mim ao mesmo tempo.

—Acho que isso não tem que ser uma surpresa. —Falei, dando de ombros, enquanto tentava não me incomodar com o excesso de atenção. —Juro que na hora até pensei que ia virar uma pedra de gelo, mas a magia está dentro de mim também, mesmo que eu não consiga acessa-la.

—E o poder dos dragões não afeta seus elementais. —Sky completou por mim, me lançando um sorriso bobo que fez algo dançar na boca do meu estômago.

—Ainda sim, é uma surpresa. —Olívia se inclinou para me olhar, sem conseguir esconder a incredulidade. —Deve ser muito incrível ter um dragão. Uma pena que você não tem o poder. Isso poderia ajudar tanto nas batalhas.

Concordei com a cabeça, porque eu sabia que ela tinha razão. Se eu controlasse a água, metade dos nossos problemas com Raven seriam facilmente resolvidos. Eu não precisaria colocar o peso de tudo sobre Misty, porque sabia que ontem ela tinha feito tanto. Não teríamos conseguido sem ela lá.

—Zaia terá o poder quando for a hora certa. —Amélia apareceu ao lado da nossa mesa, me lançando um sorriso tranquilizador, como se soubesse no que eu estava pensando —Ela já ajuda como pode nos ataques. Não teríamos conseguido sem a Misty e isso é uma vitória da Zaia também.

—Bem, mas não pode negar que puro poder da água acabaria com as chamas da cidade em pouco tempo. —Olívia insistiu, me fazendo comprimir os lábios, enquanto via Margo lançar um olhar frio na direção a ela. —Faz tantas décadas sem um elemental da água, que nós já nos esquecemos de como era ter um deles andando no nosso mundo.

—A gente nem existia ainda quando Adam era vivo. —Mia retrucou, olhando pra Olivia como se ela estivesse falando bobagens. —Nós aqui literalmente não sabemos o que é ter um elemental da água. O mais perto que temos disso é a Zaia e devemos ser muito gratos por ela estar aqui. Sei que quando for a hora certa, o poder vai aparecer.

Lancei um sorriso agradecido a Mia, porque sabia que ela estava tentando ajudar. Olivia torceu os lábios, como se tivesse algo mais para dizer. Por sorte, ela preferiu guardar para si, o que me fez relaxar na cadeira, mesmo que eu soubesse que Olivia tinha boas intenções falando aquelas coisas. Ela estava preocupada com seu povo, assim como eu.

—Já estamos resolvendo a questão dos ataques. Os elementais estão empenhados nisso. —Amélia franziu a testa quando olhou para Sky, finalmente se dando conta de que ele estava ali. Vi ela torcer os lábios, antes de olhar na minha direção. Ergui uma das sobrancelhas, esperando pelas palavras de reprovação, mas ela apenas exibiu uma expressão resignada. —Tenho uma reunião com os diretores dos chalés hoje, para tratarmos sobre algumas coisas do conselho.

—Quais? —Mia questionou, olhando para Amélia com muito interesse.

—Vermelho, verde e amarelo. —Amélia apontou pra ela, como se aquela pergunta tivesse vindo em boa hora —Você vem comigo, Mia. Assim como você, Zaia. Vou precisar das duas. Tenho algo a propor a eles e acho que você gostaria de ouvir também. Se arrumem e me encontrem na escadaria principal daqui uma hora.

Ela se afastou antes que eu conseguisse perguntar o que ela pretendia propor a eles. A curiosidade me deixou inquieta, porque eu não costumava gostar de surpresas. Mas a ideia de conhecer os líderes de três outros chalés também me incomodava. Ainda mais do Chalé Vermelho, quando eu desconfiava do seu jogo duplo com Raven.

—O que será que ela vai propor a eles? —Sky se virou para me olhar enquanto soltava a pergunta. Me obriguei a dar de ombros, porque queria saber a resposta para aquela pergunta.

—Eu sei o que é. Descobri a alguns dias enquanto organizava alguns papeis na sala dela. —Mia murmurou, olhando na minha direção com uma expressão um pouco tensa. —Não tinha tido a oportunidade de contar ainda. Mas Amélia pretende sugerir a eles a realização de outro torneio dos mundos.

Continua...