As Crônicas de Scott: A Guerra / Vol. 2

Capítulo 4: Futuro não determinado.

Peter estava treinando os guerreiros do Chalé Azul quando voltamos na manhã seguinte. Ele não hesitou um segundo sequer em aceitar o emprego quando Amélia foi até Arcádia pessoalmente para convidá-lo a se juntar ao chalé. Ágatha, que tinha ficado no posto de treinadora dos guerreiros depois da morte de David, ainda estava viajando por Falésia, procurando por respostas. Mas até agora ela não havia encontrado nada.

—Achei que vocês só iam voltar a noite. —Margo murmurou, nos observando do topo das escadarias, ao lado de Mia, enquanto eu e Ayla subíamos os degraus. —Vocês sempre vão pro mar com ele quando vão o visitar.

—O tio da Zaia arrumou uma companheira. —Ayla afirmou, como se isso fosse explicação suficiente para nossa vinda mais cedo, além do jantar ontem a noite ter sido incrivelmente desconfortável. Não podia imaginar como seria pior se ficasse presa em um barco com eles, pelo restante do dia.

—É mesmo? —Mia indagou, enquanto eu comprimia os lábios, porque só queria esquecer aquele assunto. —Se ele estiver feliz, que bom, não é? Melhor do que ele ficar sofrendo por causa de uma fada do sexo que enganou vocês dois por anos.

—É claro. —Falei, forçando um sorriso, porque tinha uma opinião bem grande sobre aquilo, mas preferia guardar só pra mim.

—Sky vai fazer outra rodada de batalhas na arena hoje. —Margo avisou, me fazendo agradecer mentalmente pela mudança de assunto. —Não sei como ele não acha tudo isso tão entediante, quando consegue vencer todos eles em poucos segundos.

—Você sabe porque ele faz isso. —Retruquei, parando no último degrau, de frente pra elas, com Ayla ao meu lado. —Os elementais não querem que ninguém de lá desconfie do que está acontecendo aqui. Uma distração é tudo que eles precisam no momento. Sky é a distração perfeita. É um ótimo guerreiro e não podemos negar que é carismático.

—Carismático é a última coisa que o Sky é. —Mia fez uma careta, como se estivesse se lembrando de todas as doces coisas que Sky já tinha dito ou feito. —Caio nós avisou que o torneio será hoje a noite e ainda comentou sobre ele estar com um péssimo humor ontem.

—Por que estão me olhando assim? —Questionei, porque não era só Mia que me encarava com as sobrancelhas erguidas, mas Margo e Ayla também, como se soubessem que aquilo tinha a ver comigo.

—Sério que está perguntando isso? —Ayla soltou uma risada, negando com a cabeça. —Eu nem conheço o Sky direito, mas sei que você é responsável pela maioria das mudanças de humor dele. Tanto boas, quanto ruins.

—Isso não é verdade. —Rebati, torcendo os lábios quando as três trocaram um olhar demorado, como se aquilo fosse sim verdade, mesmo que eu negasse. Engoli em seco, me lembrando da minha última conversa com Sky. —O que quer dizer um futuro não determinado?

—Bem... —Mia olhou para Margo, parecendo buscar ajuda pra responder aquilo. —O futuro normalmente já está determinado pra uma pessoa. Tudo que vai acontecer com ela não pode ser alterado, independente das escolas que ela faça. Só que há algumas situações na vida de alguém que pode tornar seu futuro indeterminado. O que significa que dependendo do que a pessoa decida em determinado ponto, o futuro pode ter dois rumos diferentes ou mais.

—Você pode pensar isso como uma profecia. —Margo prosseguiu, enquanto eu absorvia aquelas palavras, sem saber o que pensar. —A sua por exemplo tem dois finais possíveis, luz e paz ou a escuridão e ruína. O que significa que essa parte da sua vida não está determinada. Suas escolhas vão ditar qual dos dois futuros se tornará realidade.

—Entendi. —Falei, umedecendo os lábios com a língua, me sentindo ainda mais curiosa pra saber o que Brice tinha mostrado a Sky, pare deixá-lo tão abalado e furioso, a ponto de quase a matá-la. Ele já não tinha uma historia boa com bruxas da lua, apesar de eu não saber o porquê. Mas ontem, aquilo que aconteceu, pareceu mais do que qualquer outra coisa.

[...]

Os cabelos azuis do gêmeos se destacavam no meio das pessoas sentadas nas arquibancadas para assistir o torneio. Fui direto até eles, vendo que Percy estava sentado logo acima deles, ao lado de Margo. Estavam rindo e sussurrando um com o outro, enquanto as bochechas de Percy estavam pintadas de vermelho.

—Finalmente chegou. —Kylian murmurou, se virando assim que viu que eu estava me aproximando. —Guardamos um lugarzinho pra você.

—Eu vim com a Misty. —Esclareci, me sentando entre Kylian e Erick quando os dois abriram espaço pra mim entre eles. —Achei que as lutas já teriam começado.

—Teve algumas pequenas, mas as principais ainda não foram chamadas. —Percy acenou com a cabeça pra mim e sorriu. —Oi pra você também.

—Como está a vida no acampamento? —Indaguei, erguendo as sobrancelhas quando a única resposta de Percy foi dar de ombros, com uma expressão que não demonstrava absolutamente nada.

—Muito mais interessante que no chalé, com certeza. —Foi Erick quem respondeu, depois do longo silêncio de Percy. —Tratamos ele como um de nós, sem diferenças de níveis de guerreiros. Percy está se saindo incrivelmente bem.

—Vocês ainda não explicaram o que aconteceu ontem. —Margo afirmou, cruzando os braços na frente do peito, como se estivesse pronta pra insistir caso nenhum deles resolva explicar.

—Tinham guerreiros na floresta. —Kylian olhou para o irmão e então se virou para encarar a arena lá embaixo, parecendo um pouco tenso. —Não sabemos quem eram ou o que queriam. Mas estavam lá, observando o acampamento, como se procurassem por alguma coisa.

—Acampamento inimigo? —Questionei, mas nenhum deles soube o que responder. —E vocês tem alguma ideia do que eles poderiam estar procurando?

—Difícil saber. Temos muitas coisas valiosas escondidas a sete chaves no acampamento. —Erick me lançou um olhar cauteloso. —De qualquer forma, Sky deu ordens para que todos fiquem em alerta.

Assenti, mesmo que estivesse com as palavras presas na minha garganta, junto com um gosto amargo. Sempre pensava em Raven quando alguma coisa ameaçadora assim acontecia. Normalmente, nada ligava a ele a esses acontecimentos, mas eu não conseguia parar de pensar que tinha dedo dele nisso, mesmo que de longe.

—E os ataques, vocês tem alguma novidade? —Dessa vez foi a vez de eu e Margo trocamos um olhar demorado depois de ouvirmos a pergunta de Percy, antes de negarmos com a cabeça ao mesmo tempo.

Olhei pra frente quando o falesiano sobre a plataforma começou a falar com todos que estavam na arena para assistir as batalhas. Vê-lo no lugar que antes era de David fez algo se apertar dentro do meu peito, antes de eu o espantar, puxando o ar com força quando o nome de Sky foi chamado e ele entrou na arena por um dos portões que era erguido, fazendo a plateia explodir em gritos e assobios.

Fiquei de olho nos movimentos dele quando a primeira leva de guerreiros foi chamada para lutar com ele. Sky os venceu, é óbvio. Havia uma graciosidade nos seus movimentos, ao mesmo tempo que eles eram firmes e certeiros. Uma cobra rastejando pela areia, encontrando o lugar certo para dar o bote e injetar o veneno. Mas eu sabia que Sky não era apenas aquilo.

—Será que ele não cansa de ser o centro das atenções? —Margo indagou, torcendo os lábios como se estivesse entediada com todo aquele espetáculo.

—Sky ama isso. —Falei, mais pra mim mesmo do que pra ela, vendo a comemoração de todo mundo quando Sky venceu mais uma batalha, erguendo a espada suja de sangue e areia pra cima, sem nenhum arranhão no corpo.

—Agora teremos uma luta um pouco diferente. —O felesiano afirmou, fazendo um coro de comemoração e surpresa percorrer a arena. Até mesmo Sky ergueu a cabeça para encará-lo, como se não tivesse esperando por isso. —Vocês estão prontos para acompanhar a primeira luta de 2 guerreiros nível um, contra 40 guerreiros nível dois?

Nós cinco nos levantamos ao mesmo tempo e trocamos olhares incrédulos, enquanto as pessoas comemoravam ao nosso redor, como se aquela fosse a melhor parte da noite. Sky ainda encarava o homem com uma expressão confusa, antes de desviar os olhos para um dos portões quando ele começou a ser erguido.

—Recebam uma das melhores guerreiras de Falésia, Olivia Rivera!

A guerreira surgiu, usando uma armadura reluzente e segurando sua espada. Os cabelos ruivos presos em uma trança, que circulavam o topo da sua cabeça como uma coroa de sangue. Algo gelado atravessou meu corpo quando a reconheci logo de cara, mesmo que nunca a tivesse visto antes.

Continua...