Capítulo 12: Você queria isso, não é?

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Ninguém disse absolutamente nada quando o ovo de dragão surgiu do meio das chamas azuis, como se o fogo sagrado tivesse ido ali pessoalmente para traze-lo. As chamas se tornaram vermelhas de novo, diminuindo aos poucos à medida que o ovo se mexia, como se o dragão lá dentro estivesse tentando sair. Todos deram um passo para trás quando ele rolou das madeiras em chama e caiu perto da grama, se rachando e se abrindo aos poucos.

Observei, completamente fascinada, o ovo chocar, revelando um bebê dragão. ele tropeçou para fora da casca, caindo sobre o fogo. Suas escamas eram de um tom acinzentado, como as cinzas que restavam depois de uma fogueira apagar. Todos observaram enquanto ele se levantava, abrindo as asas como se estivesse se espreguiçando.

Abri um sorriso, porque ele era tão pequeno, mas sabia que ele ficaria enorme, assim como Misty era. O vi bater as asas, como se estivesse as testando, antes de olhar para todos os guerreiros ao redor cheio de curiosidade. Os olhos vermelhos parecendo línguas de fogo quando ele farejou o ar, parecendo interessado em alguma coisa.

Fiquei rígida quando ele veio pra perto de mim, puxando o ar ao meu redor como se sentisse meu cheiro. Como se sentisse o cheiro de Misty grudada nas minhas roupas. Ele ergueu a cabeça pequena e me encarou com curiosidade, enquanto eu me perguntava como era possível uma coisa tão pequena como aquela fazer tanto estrago.

—Dizem que eles podem reconhecer outros elementais. —Mia sussurrou atrás de mim, com um sorriso no rosto ao observar a pequena criatura, quando ele voltou a andar pelo gramado, como se procurasse por alguma coisa.

Notei Sky ficar rígido também, assim que o dragão parou sobre os pés dele. Eles se encararam, quase como se reconhecessem a existência um do outro. Sky piscou os olhos lentamente, parecendo ter prendido a respiração quando o dragão chegou mais perto das pernas dele. Só bastava uma reverência e estaria terminado.

Mas o dragão se inclinou para o lado, desviando os olhos de Sky quando outra coisa roubou sua atenção. Os guerreiros seguiram ele com os olhos quando ele se afastou, enquanto eu observava a expressão no rosto de Sky. A decepção misturava com frustração e raiva, como se ele estivesse esperando que o dragão o reverenciasse. Como se ele realmente quisesse aquilo profundamente.

Olhei para baixo quando o dragão passou tropeçando sobre os meus pés, antes de bater a cabeça e as asas nas pernas de Margo. Ela ficou tensa, assim como Percy ao seu lado, quando o dragão balançou a cabeça e a ergueu para encara-los. Os olhos se fixando em margo, com uma curiosidade e um brilho de poder que vinha de dentro dele.

Muito lentamente ele se afastou alguns passos para trás, soltando um tipo de rugido com a boca, enquanto suas asas se abriam como se ele fosse voar. Mas então ele se inclinou pra frente, na direção de Margo, fazendo uma longa reverência. A expressão de Margo foi de tensa para surpresa, antes de se tornar uma careta quando ela agarrou o pulso, engolindo lentamente como se estivesse doendo.

O dragão se ergueu depois de um segundo, se sentando no chão e a encarando. Margo afastou a manga da camisa e depois a pulseira do Chalé Azul, revelando a marca em formato de uma chama viva no seu pulso. A ligação que todo elemental tinha com o seu dragão. Margo olhou para Percy como se estivesse apavorada. Porque ela era uma cavaleira de dragão. Uma elemental.

—Seja bem-vinda, Margo, elemental do fogo. —A voz de Mia soou atrás de mim, antes de todos os guerreiros ao redor gritarem e assobiarem em comemoração.

Soltei uma risada com a expressão assustada que se abriu no rosto de Margo quanto todos começaram a parabeniza-la, enquanto o dragão continuava a observa-la do chão, antes de se agarrar as pernas dela e começar a escalar. Percy se afastou, deixando que Margo pegasse o dragão do colo. Ele era só um filhote, que parecia desejar atenção mais do que qualquer outra coisa.

Olhei para o lado para falar com Sky, antes de meu sorriso sumir quando não o encontrei mais ali. Quando olhei ao redor, só vi a sombra dele desaparecendo na floresta, se afastando de toda aquela comemoração. Meus pés se moveram involuntariamente para segui-lo para dentro da floresta. Quando o chamei, ele simplesmente continuou, como se não tivesse me ouvido.

—Sky? —Agarrei o braço dele para faze-lo parar, assim que já estávamos longe o suficiente, a ponto das risadas e conversas soarem abafadas pelas distancia. Sky se virou pra me encarar. A expressão fria e distante, como se não existisse mais nada dentro dele. —Você está bem?

—Não. —Foi a simples resposta dele, curta e afiada, como se ele não quisesse explicar ou se abrir. Como se aquela fosse uma verdade que ele não pudesse negar.

—Você queria isso, não é? Queria que ele tivesse reverenciado você em vez da Margo. —Afirmei, observando a dor que atravessou o rosto dele quando me ouviu dizer aquelas palavras. —Você desejou isso.

—Eu não desejei ou queria isso. —Sky rebateu. A voz saindo dura demais, como se doesse pra ele dizer aquilo. —Eu só achei que se acontecesse, poderia mudar o maldito futuro que está no meu caminho, me amaldiçoando.

—Mudar o futuro? —Questionei, totalmente confusa, vendo-o negar com a cabeça, fechando os olhos com força. —O que a bruxa da lua previu. Você queria mudar isso, não é? —Dei um passo na direção dele e ele um para trás, abrindo os olhos de uma forma que pareceu que aquele momento estava o despedaçando por dentro. —Por favor, me fala o que ela previu. Me deixa dividir esse peso com você.

—Eu prefiro suportar isso sozinho. —Sibilou, se virando de costas e agarrando os próprios cabelos, como se tentasse conter todas as emoções violentas que cresciam dentro dele. —Me deixe sozinho, Zaia.

—Eu quero te ajudar. —Insisti, sentindo meu coração se contrair ao vê-lo daquele jeito. Vulnerável de uma forma que doía como se fosse comigo.

—Você não pode, então vá embora e me deixe sozinho. —Sussurrou, dando alguns passos para longe de mim, enquanto eu sentia como se alguém estivesse enfiando uma faca no meu peito e a torcendo.

Pensei em todas as vezes que me senti sobrecarregada demais com tudo e corri para os braços dele, sabendo que ele ajudaria a aliviar a carga. Que ele me entenderia como mais ninguém seria possível. Mas ali estava ele, me afastando e erguendo uma barreira entre nós dois, porque não conseguia fazer o mesmo comigo. Porque não queria me deixar conhecer todos os cantos dele, mesmo que eu tivesse revelado todos os meus.

—Quando vai parar de ter medo e se abrir comigo? Porque, sinceramente, não faço ideia de onde vamos parar se você resolver me afastar sempre que alguma coisa machuca você. —Afirmei, sentindo a frustração abrir um buraco no meu peito, porque eu estava tão cansada de fingir que estava tudo bem, quando aquilo me incomodava tanto.

—Porra, Zaia, por que você fica insistindo nisso? A forma como as coisas estão agora não são o suficiente pra você? —Questionou, me fazendo dar um passo para trás com o tom rude da sua voz, tão baixa e fria que por um segundo desejei que ele pelo menos gritasse, em vez de falar daquela forma. —Eu odeio toda essa situação, sabia? Você não tem noção de como é estar na minha pele e do quanto eu precisei suportar todos esses anos. Você não pode me ajudar agora e não vai poder me ajudar nunca. Por que é tão difícil de você entender isso? Eu nunca vou contar a você o que ela me mostrou, porque eu não quero. Então só vá embora.

Por um momento, tudo que eu consegui fazer foi encarar a floresta ao meu redor, ouvindo som da minha respiração e da respiração de Sky. Percebi, na mesma hora, que aquele era uma das situação que não podíamos voltar atrás. Mesmo que eu quisesse, não poderíamos voltar para o momento que estávamos juntos naquela plataforma. Calor contra calor.

—Se é o que você quer. —Sussurrei, engolindo o nó insuportável na minha garganta, antes de virar as costas e deixar Sky com seus próprios demônios, antes que eu acabasse me tornando um deles.

Continua...

As Crônicas de Scott: A Guerra / Vol. 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora