Capítulo 3: E acredita nela?

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Passei no Chalé Azul para buscar Ayla, antes de voarmos em direção a Cidade Oceânica, onde meu tio agora morava. Os primeiros dias dele lá foram estranhos, mas ele não demorou a se adaptar e a fazer amigos. Bem mais amigos do que tinha em Arcádia. O bom é que não precisa mais se preocupar em não morrer de fome e nem com a possibilidade de alguém o roubar.

Olhei para trás quando Ayla me cutucou, abrindo um sorriso, porque estávamos quase chegando na cidade. Eu já podia ver as sombras das casas no horizonte, assim como as chamas das fogueiras e tochas que iluminavam as construções. Ainda era surpreendente pra mim o quanto Falésia era cheia de vida, até mesmo durante a noite.

—O que aconteceria se descêssemos no meio da cidade? —Indagou, me fazendo soltar uma risada com sua ideia.

As pessoas costumavam evitar os dragões sem elementais, porque eles eram incrivelmente agressivos. Mas elas também evitavam aqueles que tinham seus elementais, porque os dragões odiavam que invadissem seu espaço. Descer no meio da cidade, com um enorme dragão branco, certamente ia assustar muita gente

—Provavelmente vamos matar alguém de susto. —Afirmei, fazendo Ayla soltar uma risada alta, enquanto Misty voava em direção a floresta, como se soubesse o que eu queria.

Tinha começado a voar com ela e a aprender sobre os dragões depois do que aconteceu na Floresta Noturna. Tinha encontrado algumas informações interessantes e outras que percebi com a presença de Misty. Estávamos ligadas uma a outra. De alguma forma mágica que eu não fazia ideia, estávamos mesmo ligadas. Ela era minha guardiã. Quando estávamos juntas, Misty sempre parecia ler meus pensamentos, porque sempre sabe o que eu quero, sem eu nem mesmo precisar pedir.

Misty voou sobre as casas, chamando a atenção de quem andava pelas ruas, antes de encontrar uma rua mais larga, onde não causaria tanto estrago, para descer. Algumas pessoas se assustaram com a presença dela, não fazendo questão de tentarem disfarçar os passos apressados que quase pareciam uma corrida. Janelas foram fechadas e portas trancadas, como se aquilo fosse os salvar se Misty tentasse os atacar. Eles podiam amar os elementais, mas isso não poderia ser dito sobre seus dragões.

—Não pode descer com um dragão no meio de uma cidade. —Um homem exclamou, meio escondido na sombra de um beco. —Pode acabar machucando alguém, arcadiana.

Um fato interessante, eu ainda não era uma elemental, então obviamente os falesianos não me amavam. Não que eu esperasse isso, mas as coisas tinham ficado estranhas depois que minha história se espalhou como sangue na água. Os falesianos falavam de mim. Alguns tinham curiosidade e outros achavam que eu era um problema, por conta da profecia. De qualquer forma, o preconceito estava marcado na língua, toda vez que alguém me chamava de "arcadiana", como se eu fosse me ofender.

—Tente dar ordens a minha dragão então. —Falei, escorregando das costas de Misty para o chão, antes de ajudar Ayla a descer também. —Talvez ela te escute.

Ele soltou um barulho de incredulidade com a boca, antes de desaparecer no beco. Ayla me lançou um olhar constrangido, antes de caminharmos pela rua, deixando que Misty subisse para o céu de novo. Observamos o movimento da cidade, que era bem diferente da Cidade do Lago. Ali, a pesca era o principal. As docas eram enormes e movimentadas, como um centro comercial.

Paramos de andar quando chegamos a uma casa de madeira pequena, de dois andares, com um jardim florido ao redor. Parecia muito acolhedora e foi exatamente isso que meu tio disse quando a comprou. Eu e Ayla passamos pelo portão de madeira branco, seguindo o caminho de pedra até a varanda. Quando bati na porta, não demorou um segundo para o meu tio abrir.

—Zaia. —Ele sorriu assim que me viu, se aproximando para me dar um abraço, antes de dar espaço para que eu e Ayla entrássemos.

—Como estão as coisas por aqui? —Ayla indagou, enquanto eu observava a arrumação da sala, estranhando tanta organização. Meu tio não era de bagunça, mas ele passava o dia todo fora, então era comum ver coisas fora do lugar e roupas espalhadas pela casa.

As Crônicas de Scott: A Guerra / Vol. 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora