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São Paulo

Raphael Veiga

ESTAVA NA FLORICULTURA encomendando as flores para amanhã, levantei mais cedo para passar aqui e não me atrasar para o treino dobrado de hoje, afinal amanhã jogamos contra o São Paulo.
Deixei as flores encomendadas e saio de casa, Bruna me mandou mensagem avisando que estava na casa de uma amiga e não era para eu me preocupar.

Parti rumo ao CT e ao chegar faço as coisas que costumo fazer normalmente, estaciono meu carro e dou bom dia para todos enquanto entro dentro dos corredores, chego no campo e antes de entrar faço uma oração rápida.
Gostava de fazer uma sempre antes de qualquer jogo importante, me ajuda muito.

Entrei e avisto o pessoal jogando, e uns aquecendo, mas antes de chegar neles sou parado por alguém me chamando, me viro e vejo Abel correr até eu.

— Veiga. — ele diz assim que para na minha frente.

— Oi Abel, aconteceu algo? — pergunto tirando o fone de ouvido.

— Quero você para uma coisa, final de semana que vem, no domingo preciso de você pra uma entrevista. — ele diz e eu escuto atentamente, tentando separar seu sotaque. — um canal vai precisar de uns dos jogadores, pensei em você e no Scarpa, já falei com ele tudo bem?

— Tudo, tudo certo. — falei concordando, ele me dá batidinhas no ombro e concorda saindo de perto.

Vou até o pessoal e comecei a aquecer também, depois treinei, e treinei mais, caramba,estava ansioso.

Depois do treino vou até o vestiário e estava no banheiro, tomei uma ducha fria para aliviar a tensão.
Assim que saio do banheiro peguei um potinho de comprimidos dentro da minha bolsa, tirei um e engoli com um pouco de água da torneira mesmo.
Pego na mão e olho o espelho vendo meu reflexo, suspirei e me acalmei aos poucos, eu estava tomando esse remédio a uns dois meses.

Ninguém sabia, nem mesmo a Bruna, fazia um tempo que eu me cobrava muito nos jogos e sempre tinha crises depois no banho,fui no médico e pedi o máximo de sigilo sobre isso.
Não queria preocupar meus familiares e amigos, na verdade nunca fui muito de precisar dos outros, eu sempre sou o que ajuda.

E mais uma vez me ajudei, estava tomando esse remédio toda vez que ficava com indícios de ansiedade.
Parece até brincadeira um cara da minha idade com crises de ansiedade mas para quem vive no mundo do futebol isso é algo cotidiano.

Vesti uma roupa e saio do vestiário passo a mão no cabelo e coloco a mochila nas costas, olhei o celular e tinha uma mensagem da Bruna falando que iria demorar um pouco.

Estranho, mas não liguei tanto.
Sai do CT e vou direto para casa, chego e passo um aspirador na casa e acabo organizando umas coisas, eu sou viciado em organização e sempre faço isso, mesmo pagando alguém para arrumar algumas vezes na semana.

Descanso no sofá enquanto olho alguns detalhes finais para o pedido de casamento amanhã, estava ansioso e nervoso, pensava nisso diariamente.
Acabei pedindo também o presente da filhinha do Gabriel e da Duda pela internet, aqui mesmo em São Paulo mas iria ficar pronto só semana que vem na quinta um dia antes do chá de berço.

Chamei Scarpa para vir jogar um pouco aqui em casa, as vezes jogamos vídeo game para esquecer os problemas de adultos.
E Bruna até agora não chegou então ele iria me fazer companhia.

Duas Metades. - Raphael Veiga Onde histórias criam vida. Descubra agora