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São Paulo

Lorena Ferreira

FAÍSCAS DE LUZES adentraram as cortinas do quarto do grande apartamento, devagar meus olhos um pouco inchados e doloridos se abrem. Me remexo na cama devagar e olho para o lado, Pedro não está aqui.
Encarei o teto por uns segundos e me lembrei da dor de ontem, um aperto no meu peito é sentido novamente,o chão caindo e eu afundando mais e mais.

Suspiro passando as mãos pelo rosto levemente inchado por causa das lágrimas constantes de ontem, me sentei na cama arrumando o cabelo levemente.
Olhei em volta e minhas roupas de ontem do jogo não estavam mais na cômoda, ele deve ter levado para a sala para quando eu fosse embora.
Peguei meu celular e vi uma mensagem do mais velho, dizendo que tem escova reserva no banheiro e que voltaria rapidamente, foi resolver algumas coisas do seu time.

Me levantei e arrumei a cama, fui até o banheiro e escovei os dentes, lavei o rosto e tentei ficar mais aparentavel. Desci as escadas e novamente como o esperado minhas roupas estão encima do sofá, fui até a cozinha procurar algo para poder tomar de café.
Não estava com um pingo de fome mas precisava comer, não quero mais problemas.

Enquanto tiro alguns ovos da geladeira para fazer um omelete eu pego o celular e tinha mais mensagens e ligações perdidas do Veiga, mensagens do Scarpa e do Zé Rafael.
Fora as vinte e sete mensagens do meu pai preocupado comigo, respondi ele que voltaria para casa mais tarde.

Suspiro e tento focar no meu café da manhã, estava mexendo os ovos na frigideira até escutar a porta do apartamento sendo fechada, deveria ser Pedro.

— Aí Pedroca, o que esse pano de chão do Palmeiras tá fazendo aqui? — escuto uma voz desconhecida, e me viro, vejo um homem mais velho entrar na cozinha.

Ele me olha sem entender, depois olha a camisa que estou vestindo e dá um meio sorriso, seu olhar de malícia me incomodou.

Desligo o fogo dos ovos mexidos e cruzo os braços.

— Dessa vez o Pedro acertou. — o homem diz dando uma leve risada e encarando meu corpo.

Que nojo.
Ele aparenta ser mais velho, do meu tamanho, cabelo castanho e branco, um sorriso cafajeste.

— Quem é você? — pergunto o olhando com as sombrancelhas juntas, tentando parecer séria.

— Rodrigo Garro belezinha. — ele diz se aproximando do balcão novamente me secando. — e você?

— Lorena Ferreira! — digo o olhando com desdém.

Ele tinha uma camisa do Corinthians no corpo, então provavelmente deveria ser um dos companheiros de time do Pedro.

— A famosa Ferreira? A dona do pano de chão na sala ? — ele perguntou provocativo sobre minha blusa.

— Depende, esse pano de chão aí é seu ? — pergunto apontando para sua camisa, ele sorri com o olhar sério.

Garro me olha da cabeça aos pés novamente, agradeço a Deus quando escuto a porta do apartamento ser aberta e Pedro aparecer na cozinha.

Ele nos olha meio perdido, vem até eu e me deixa um beijo na testa.

— Tudo bem? — ele perguntou sobre a noite passada provavelmente.

Duas Metades. - Raphael Veiga Onde histórias criam vida. Descubra agora