Cap 16: Onda ou Pódio?

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Agosto, 2027.
Quinta-feira.
...

POV Júlia Soares.

Depois do longo dia, o cansaço finalmente começou a pesar, e eu estava deitada na minha cama, perdida em pensamentos. O quarto estava silencioso, exceto pelo som do chuveiro enquanto Rebeca tomava banho. A noite estava mais escura do que o normal, ou talvez fosse só minha mente, cheia de dúvidas e incertezas, que fazia tudo parecer mais pesado.

Enquanto ela tomava banho, comecei a procurar meu livro, aquele que sempre me ajudava a desligar um pouco, mas não o encontrei em lugar nenhum. Será que o havia deixado na piscina? Na pressa de sair, isso era bem provável.

Meus pensamentos foram interrompidos por uma batida na porta. Tentando ignorar o turbilhão dentro de mim, fui atender. Quando abri, vi Flávia do outro lado, com um olhar de preocupação.

- Oi, Ju. Posso entrar? - ela perguntou.

- Claro. - respondi, dando espaço para que ela entrasse.

Rebeca saiu do banheiro, já pronta, mas não disse nada. Apenas trocamos olhares, e ela saiu do quarto, entendendo que Flávia queria conversar a sós comigo. A porta se fechou, e o silêncio voltou a reinar, apenas quebrado pelo som da minha respiração e do coração acelerado.

Flávia se sentou na cama ao meu lado, e por um momento, não disse nada, apenas me observou. Eu sabia que ela estava esperando que eu começasse, mas as palavras pareciam presas na minha garganta.

- Você tá bem? - Flávia perguntou, sua expressão séria.

- Mais ou menos, sabe? Hoje foi estranho... - dei de ombros, tentando não transparecer o turbilhão de emoções que sentia.

- Vi que você estava quieta hoje à tarde. - Flávia começou, tentando suavizar a tensão. - Quer me contar o que está se passando na sua cabeça?

Suspirei, sentindo as lágrimas começarem a arder nos meus olhos.

- É complicado, Flá... Foi estranho ver a S/N passando com o Lukas. E... Acho que tem algo a mais acontecendo aqui.

Flávia assentiu, me encorajando a continuar com um olhar de compreensão.

- Eu sei que sinto algo por ela. - confessei, a voz saindo baixa e trêmula. - Mas estou com medo de sentir isso. De onde isso vai me levar, do que isso significa para mim, para a minha fé... Para tudo.

Ela estendeu a mão e segurou a minha com firmeza, me oferecendo um conforto.

- Sabia que você ia admitir isso mais cedo ou mais tarde. Mas Ju, lembra do que a Rayssa falou? Deus não nos abandona por quem amamos. E você precisa ser honesta consigo mesma. Não dá para viver carregando esse medo o tempo todo. A vida é curta demais para se privar de algo tão bonito como o amor.

Foi então que as lágrimas começaram a escorrer livremente pelo meu rosto. Flávia me puxou para um abraço, e eu desabei. Tudo o que estava sentindo, todas as dúvidas, o medo, a angústia, tudo veio à tona naquele momento. E ela estava ali, segurando-me enquanto eu desabava.

- Aquilo mexeu comigo. Não que eu tenha algo contra o que ela disse, mas... Eu fico pensando se não estou me afastando de Deus por sentir isso. Eu só... Não sei o que fazer. - disse, entre soluços. - Sinto que estou à beira de uma onda enorme, que pode me engolir a qualquer momento.

Flávia riu baixinho e balançou a cabeça.

- Júlia, você está complicando algo que pode ser bem simples. E, por favor, não fique brava com o que vou dizer, mas... Às vezes, acho que você está transformando um copo d'água em uma tempestade.

Revirei os olhos, mas um pequeno sorriso se formou nos meus lábios.

- Você sempre tem que trazer um drama, né?

- Claro, é o meu papel na equipe. - ela respondeu, brincando. - Mas, falando sério, Júlia, você já parou pra pensar que talvez essa seja a sua chance de surfar uma onda diferente? Sim, você tem medo, mas o que é mais assustador? Enfrentar esses sentimentos ou perder a chance de estar ao lado de alguém incrível?

Fiquei em silêncio, refletindo sobre suas palavras.

- Acho que estou com medo de me afogar nessa onda, Flá. Não sei se estou pronta.

Flávia riu e me abraçou forte.

- Ei, e quem disse que você precisa enfrentar tudo isso sozinha? Se precisar, eu entro nessa onda com você. A gente vai pra cima, e se for pra cair, que seja de cabeça erguida!

Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto enquanto me aconchegava no abraço dela.

- Obrigada, Flá. Eu não sei o que faria sem você.

- Provavelmente estaria perdida, sem saber o que fazer. - ela disse, piscando. - Mas, brincadeiras à parte, estou aqui para o que precisar. E olha, amanhã é um dia importante. Não só para nós, mas para a S/N também. - Flávia me segurou pelos ombros, me afastando um pouco para que pudesse olhar nos meus olhos. - Você tem uma escolha, Ju. Pode enfrentar essa onda, deixar-se afogar nela, ou pode subir no pódio, com alguém incrível ao seu lado. Qual delas você quer?

Eu respirei fundo, tentando acalmar meu coração.

- Você tem razão, eu tenho que fazer algo!

Flávia sorriu, enxugando minhas lágrimas com os polegares.

- Essa é a Júlia que eu conheço. Então, você já sabe o que precisa fazer. Amanhã é a final dos Jogos, a prova da S/N. É a sua chance de mostrar para ela e para si mesma o que realmente sente. Não deixe o medo te parar, Ju. Vai e lute por aquilo que você quer. Agora, descanse. Vamos precisar de toda a nossa energia para amanhã.

Ela se levantou para sair, mas antes de ir, olhou para mim com um sorriso travesso.

- E só para constar, se eu fosse você, escolheria o pódio. A vista lá de cima é sempre melhor!

- Eu vou lembrar disso. Boa noite, Flá. - ri, sentindo meu coração um pouco mais leve.

- Boa noite, Jú. E não se preocupe, estou sempre por aqui.

Quando a porta se fechou, me deitei na cama, ainda processando tudo o que havia acontecido. Amanhã seria um grande dia, e eu sabia que era hora de finalmente enfrentar meus sentimentos. De uma forma ou de outra, eu precisava dar um passo à frente.

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É assim que começa?

Ondas e Pódios - Julia Soares.Onde histórias criam vida. Descubra agora