Cap 30: Escolhas.

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25 de dezembro, 2027.
Sábado.
...

POV Narrador.

A família Soares estava reunida com tios, primos e avós em uma chácara alugada por todo a família, todos estavam esperando a chegada de S/N, Júlia, Giovana e Lucas. S/N, que inicialmente era apenas uma convidada, agora fazia parte da família, tanto que Jackson e Fabiana insistiram para que ela passasse as festividades com eles antes de retornar a São Paulo. A presença de S/N era mais do que bem-vinda. A família Soares não via mais a vida sem ela.

Cada momento que S/N passava com a família Soares nesses últimos dias carregava um sentimento de despedida. Logo após o Ano Novo, ela voltaria para São Paulo e continuaria sua vida após concluir sua formação. Na última semana, ela havia concluído sua formação, participando da cerimônia que a tornava oficialmente uma Tenente da Aeronáutica, e que está apta para atuar na aviação brasileira.

POV Júlia Soares.

O final do ano chegou, trazendo com ele as tão esperadas férias e os momentos em família. Eu adoro esses momentos. Para mim, estar com as pessoas que amo sempre foi um alívio, uma forma de me desconectar do resto do mundo e me concentrar em quem realmente importa. Há algo de especial em estar cercada por aqueles que me amam, que me apoiam incondicionalmente, seja em ocasiões especiais ou simplesmente para passar o tempo juntos.

Eu estava na cozinha conversando com Muniz enquanto S/N e Giovana ajeitavam as coisas no carro dele. Com um copo de água na mão, eu me sentei à mesa de jantar, distraída com os meus pensamentos.

- Quer me contar o que tá acontecendo entre vocês duas? - Muniz perguntou, se sentando ao meu lado.

- Tanta coisa... - minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia, e não consegui evitar um suspiro pesado.

Muniz se levantou e deu uma olhada pela janela, observando S/N e Giovana ainda ocupadas com o carro. Ele voltou a se sentar, dessa vez mais perto.

- Elas vão demorar, você tem 10 minutos se quiser um apoio. - ele disse me encarando com seriedade.

Aquelas palavras abriram algo dentro de mim, e de repente, tudo o que eu vinha guardando começou a sair. Contei para ele sobre as minhas inseguranças, os medos que pareciam controlar cada decisão que eu tomava. Falei sobre como eu e S/N estávamos nos afastando, focando mais em nossos trabalhos do que em nós mesmas. Senti as lágrimas começarem a se formar em meus olhos.

- A gente... A gente parece um casal separado que mora na mesma casa só pra não magoar os filhos. Só que, nesse caso, os “filhos” são nossos corações. Cada uma de nós está tentando proteger o que restou, mas... Eu não sei se está funcionando. - minha voz quebrou e as lágrimas que eu segurava começaram a escapar.

Ele ouviu tudo com atenção, me escutou sem interromper, apenas oferecendo seu apoio. Quando terminei de falar, ele me envolveu em um abraço, e eu me permiti chorar.

- Ju... Se está assim, não adianta manter. Você sabe que isso não vai rolar. Ela vai embora em menos de uma semana, e você acha que vocês vão manter um relacionamento desse jeito? Vocês estão há quase quatro meses morando juntas, e nem sabem o que são. Se afastam, tudo fica bem, e na semana seguinte, tá ruim de novo. Vocês são a pessoa certa uma para a outra, mas talvez esse não seja o momento. Quando algo começa com confusão, termina com confusão. Pergunte-se se você quer ser feliz ou quer deixar vocês duas chorando. Vocês se amam, isso é óbvio. Olha o jeito que ela cuida de você. Nossa família adotou ela. Ela pode ser sua, mas nenhuma de vocês está em condição disso agora. Às vezes, amar é deixar ir.

Suas palavras me atingiram como um soco no estômago. Eu sabia que ele estava certo. Cada palavra fazia sentido, refletindo os pensamentos que eu já tinha, mas que não queria admitir. S/N é minha pessoa certa, mas o momento está completamente errado. Eu a queria, mas por tanto tempo, neguei esse sentimento. Nosso começo foi marcado pela negação, e talvez seja esse o destino que a gente precisa evitar.

- Eu só... - comecei, sentindo as lágrimas voltarem. - Eu comecei tudo com medo, Muniz. Medo de não agradar a Deus, medo do que as pessoas ao meu redor iam pensar, medo de estar no caminho errado. E agora, tenho medo de ter destruído algo tão bonito por causa desses medos.

Muniz segurou meu rosto com delicadeza, olhando diretamente nos meus olhos.

- Ju, a S/N nunca mudou o jeito dela com você. Ela te trata como uma rainha, faz de tudo pra te ver feliz. Mas se você não tá bem com você mesma, como vai ser suficiente pra ela? Você precisa se curar, se encontrar, antes de poder viver uma história de amor de verdade. Não vai adiantar continuar com ela agora se você acha que não consegue dar o que ela merece. E se você mantiver a S/N na sua vida enquanto tá assim, as chances de machucar ela ainda mais são grandes.

Ele tinha razão, S/N nunca mudou seu jeito comigo. Ela sempre abriu a porta do carro, puxava minha cadeira, me tratava como a rainha da vida dela. Eu tentava retribuir, mas o meu "tudo" parecia insuficiente. Se eu quero viver uma história de amor digna de contos de fadas, se eu realmente quero dar a S/N o amor que ela merece, preciso me curar primeiro.

Se eu mantiver S/N comigo no meio dessa confusão, as chances de eu destruir o coração dela são grandes. E essa é a última coisa que quero carregar comigo. Estou determinada a me aceitar, a entender quem é a Júlia de agora, a me descobrir e me curar. E espero que S/N compreenda, que aceite que eu preciso ficar bem antes de me entregar a ela.

S/N é um diamante precioso, e eu preciso me tornar aquela caixinha com proteção extrema, capaz de guardar esse diamante com todo o amor e valor que ele merece.

Ouvimos passos se aproximando. Me soltei do abraço de Muniz, me levantando rapidamente para lavar o copo de água e disfarçar as lágrimas.

- Que bonito, né? Eu e a S/N nos matando lá fora, e vocês dois aqui de boa. - Giovana disse ao entrar na cozinha, quebrando o clima tenso com uma brincadeira que nos fez rir.

S/N se aproximou e, com um sorriso, me deu um beijo na bochecha.

- Você está linda. - ela sussurrou no meu ouvido.

Sorri, sentindo minhas bochechas esquentarem, e olhei para Muniz, que me deu um olhar de entendimento. Ele sabia o que eu precisava fazer, e eu também sabia, por mais que doesse.

- Vamos? - Giovana chamou, e todos seguimos para fora de casa.

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Mais tarde tem outro capítulo!

Ondas e Pódios - Julia Soares.Onde histórias criam vida. Descubra agora