Julho, 2028.
Terça-feira.
...POV Narrador.
Desistir de algo pelo qual você lutou tanto é uma sensação inexplicável. É como se o mundo ao seu redor se desfizesse lentamente, deixando você sozinho com o peso das suas próprias falhas. Para S/N, a sensação de fracasso era sufocante. Ela se afogava na sua própria onda, sem saber como voltar à superfície, sem encontrar o caminho de volta ao pódio. Nos últimos tempos, parecia que, sempre que algo dava certo, outra coisa desmoronava. Agora, encarar a possibilidade de não competir nas Olimpíadas era o golpe mais duro.
S/N estava em seu dormitório, parada na varanda, observando os outros atletas treinando do lado de fora. A movimentação, as risadas, o barulho e as vozes animadas eram um lembrete de que ela não fazia mais parte daquele mundo, pelo menos não no momento. Seu ombro estava melhor, mas não o suficiente. A dor ainda a limitava e o medo de nunca se recuperar totalmente para competir pesava em sua mente.
Ela suspirou fundo, tentando afastar o turbilhão de pensamentos negativos, quando o toque do celular quebrou o silêncio. Era uma ligação do Capitão Alves, seu mentor na Aeronáutica. Aquele contato a surpreendeu, e por um instante, S/N hesitou antes de atender.
POV S/N Peña.
Peguei o celular e vi o nome do Capitão Alves piscando na tela. Ele não costumava ligar a menos que fosse algo realmente importante. Respirei fundo antes de atender, sentindo um nervosismo.
- Alô! - disse, o nervosismo na minha voz era evidente.
~ Alô, Tenente Peña. Como a senhorita está? - a voz dele era firme, com aquele tom de preocupação que sempre conseguia me atingir de alguma forma. - Fiquei sabendo do ocorrido. Quero que seja sincera sobre seu estado mental.
Eu sorri levemente, uma tentativa de afastar a tristeza que insistia em me consumir. O Capitão Alves sempre foi direto, sem rodeios, e provavelmente já tinha recebido um laudo detalhado da minha condição.
- Estou péssima, pra ser sincera, Capitão. - admiti, finalmente deixando o desânimo aparecer. Era difícil esconder o que eu sentia de alguém que me conhecia tão bem.
~ Fale tudo, filha. Não me esconda nada. - ele me incentivou, e aquele “filha” sempre me tocava profundamente.
Capitão Alves não era meu pai biológico, mas me ajudou a crescer de tantas formas que, para mim, ele era mais pai do que qualquer um. Soltei um suspiro profundo, organizando meus pensamentos.
- Sinto que falhei, Capitão. Parece que todo o meu esforço pra me recuperar foi inútil. Eu me afoguei na minha própria onda, e não consigo encontrar o caminho de volta. É como se eu estivesse perdendo quem eu sou. Todo mundo lá fora está treinando, e eu estou aqui, presa, incapaz de fazer o que amo. Tenho medo de que eu nunca consiga competir de novo. - minha voz quebrou, e eu senti um nó na garganta que parecia impossível de engolir.
O Capitão fez uma pausa, e pude imaginar seu rosto sério do outro lado da linha.
~ Você está enfrentando uma situação difícil, S/N, mas isso não significa que você falhou. Não se deixe levar por essa sensação. Eu sei que você é forte, que não se entrega fácil. - aquelas palavras me deram um alívio, mas eu ainda estava mergulhada nas minhas inseguranças.
- Capitão, eu só tenho mais a próxima semana pra treinar, e a partir de hoje, começo a fisioterapia na água. Mas não posso nadar com força, não do jeito que eu preciso. Estou correndo contra o tempo. Não sei como vou conseguir alcançar o nível das outras competidoras. Eu… Não quero decepcionar ninguém. - minha voz era quase um sussurro, carregada de medo e frustração.
~ S/N, Olha para mim… Quer dizer, imagine que estou aí, na sua frente. - a voz dele ficou um pouco mais suave, como se estivesse tentando diminuir a distância que nos separava. - Você nunca foi uma desistente. Já te vi enfrentar coisas que poucos aguentariam. E sabe o que eu acho? Você é muito mais capaz do que pensa. Não importa o que os outros esperam de você, mas sim o que você espera de si mesma. Se levantar e tentar, mesmo quando tudo parece impossível, é o que te faz ser quem é.
Fiquei em silêncio, processando o que ele dizia. Ele sempre soube encontrar as palavras certas, mesmo quando eu mesma não conseguia.
- Capitão, é difícil. Às vezes sinto que estou sozinha nisso tudo, mesmo com o apoio que tenho. Eu só queria poder voltar a competir sem limitações. - confessei, deixando escapar uma lágrima.
~ Eu sei que é difícil. Mas você não está sozinha, S/N. Tem gente que acredita em você, e eu sou um deles. Olha, eu também tive momentos assim, quando achei que não conseguiria mais seguir em frente. Mas sabe o que me mantinha? A fé em mim mesmo e a vontade de não deixar ninguém decidir o meu futuro. É isso que você tem que fazer. Vá lá e mostre pra todos, e principalmente pra você, que você pode.
Engoli em seco, sentindo gratidão por tê-lo na minha vida. As palavras dele sempre me traziam de volta ao que realmente importava.
~ Você vai ser uma Capitã, S/N. Vai liderar, inspirar, e eu sei que você tem essa força. Não desista de você. Nunca desista dos seus sonhos, porque eu nunca desistirei de acreditar em você.
- Obrigada, Pai. Você sempre sabe o que dizer. Vou fazer o meu melhor. - respondi, a voz ainda trêmula, mas com uma nova chama acesa dentro de mim.
~ Esse é o espírito, filha. E lembre-se, mesmo quando parecer que tudo está perdido, há sempre uma chance de recomeçar. Você é mais forte do que imagina, e eu estarei aqui, torcendo por você. Entendeu, filha?
A ligação se encerrou, e eu fiquei ali, olhando para o celular, sentindo um peso sair dos meus ombros. O Capitão Alves não era apenas um mentor, ele era a minha força quando eu não conseguia encontrar a minha própria. E naquele momento, eu sabia que ainda havia esperança. Eu iria me levantar, tentar, e lutar, porque ele acreditava em mim, Júlia acreditava em mim, e isso bastava.
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Alcançamos o Top 1 na tag Brasil, em comemoração, hoje terá capítulo duplo!
Parece que o X/Twitter está com as horas contadas no Brasil. No último capítulo, deram a ideia de criar um canal no Telegram, mas não sei se vocês usam ou não.
Deixem aqui onde seria melhor para vocês, para termos esse contato sobre a Julinha. Whatsapp ou Telegram?
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Ondas e Pódios - Julia Soares.
FanfictionS/N Peña, uma brasileira de 21 anos, é uma jovem estudante de Direito, sargento e pilota da Aeronáutica Brasileira. Além de tudo, ela é convocada para ser nadadora e representar o Brasil nos Jogos Pan-Americanos de 2027 no Peru. Durante uma entrevis...