Cap 25: "Eu não posso parar."

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Outubro, 2027.
...

POV Narrador.

O retorno de S/N e Júlia para Curitiba foi rápido e direto, quase como um borrão. Depois das entrevistas, a segunda metade de setembro passou em um piscar de olhos, dando início a outubro. Havia muito a fazer, as duas estavam concentradas e sabiam que não poderiam parar suas rotinas nem por um momento.

S/N precisou se mudar temporariamente para o quartel da Aeronáutica em Curitiba por uma semana. Lá, seus treinos de pilotagem se intensificaram. Paralelamente, ela também precisava seguir rigorosamente sua agenda de treinamento na natação. Os dias eram exaustivos, e ela contava as horas para poder retornar à casa. Mas a "casa" agora era diferente.

A residência da família Soares havia se tornado o seu lar temporário, o seu refúgio, o lugar onde ela se sentia acolhida. Jackson e Fabiana, os pais de Júlia, tratavam S/N como se fosse sua filha. As constantes mensagens e ligações para saber como ela estava, se precisava de algo, a faziam se sentir parte da família. S/N valorizava essa atenção, mas ao mesmo tempo, sentia uma tristeza quando pensava que em dois meses teria que retornar para São Paulo. A ideia de se afastar daquela nova família que a acolheu de braços abertos a angustiava.

Enquanto isso, Júlia se dedicava incansavelmente aos treinos, com manhãs e tardes inteiramente dedicadas à ginástica. Ela estava determinada a aperfeiçoar seu novo elemento, o "The Soares 2". Ela e Iryna estavam focadas em garantir que o movimento fosse homologado nos próximos Jogos Olímpicos, um desafio que exigia dedicação absoluta. Esse movimento requeria um nível de perfeição que só seria alcançado com muito treino, superando as dores, lágrimas e quedas constantes.

Mas, ao mesmo tempo em que se jogava de corpo e alma nos treinos, Júlia estava distante. Ela estava pensativa, se questionava constantemente se estava no caminho certo, se seus sentimentos por S/N eram justos, tanto para si mesma quanto para a própria S/N. Ela sabia que o medo de errar, de não ser suficiente, era um problema que poderia comprometer não só seus treinos, mas também seu relacionamento com S/N.

Por mais que ela desejasse acordar e adormecer ao lado de S/N, sentindo a segurança e o conforto que só ela proporcionava, uma parte dela se sentia tentada a afastá-la, como se quisesse proteger S/N de sua própria confusão interna.

Do outro lado de Curitiba, S/N notava o distanciamento. As mensagens eram menos frequentes, os encontros mais raros. E isso a inquietava. Ela se perguntava se estava fazendo algo errado, se todo o esforço que estava dedicando não era suficiente, ou se Júlia simplesmente não sentia o mesmo. S/N sempre soube que era intensa quando se tratava de Júlia, mas nunca deixou de respeitar os limites e o tempo dela. Ela sabia que o processo de aceitação do novo era longo e doloroso, e estava disposta a esperar o tempo que fosse necessário. Mas até quando conseguiria aguentar?

S/N sentia que estava sempre em busca de Júlia. S/N queria ser procurada por Júlia, mas Júlia não parecia querer buscá-la. Esse desequilíbrio fazia com que ela refletisse sobre o que merecia. Desde pequena, sua mãe sempre lhe ensinou a não aceitar menos do que merecia, e ela sabia que merecia muito. Mas será que Júlia estava disposta a oferecer tudo o que S/N precisava?

Nos momentos de maior insegurança, S/N considerava a ideia de se afastar antes que fosse magoada. Quando se sentia ameaçada, S/N tendia a considerar a possibilidade de ir embora antes que a mandassem embora. Ela pensava em se afastar, mas sabia que não encontraria outra pessoa como Júlia. Apesar das dúvidas e inseguranças, o toque de Júlia tinha o poder de apagar todas as incertezas.

S/N colocava Júlia em um pedestal, acreditando que ela era a melhor em tudo. Mas para Júlia: e se ela caísse? E se tropeçasse? S/N ainda a veria da mesma forma? Mal sabia Júlia que, se isso acontecesse, S/N estaria logo abaixo, pronta para segurá-la, acolhê-la em seus braços, para que nunca se machucasse na queda.

S/N queria demonstrar tudo o que sentia, mas como poderia fazê-lo sem saber o que Júlia realmente sentia? Tentar abrir seu coração era uma ideia tentadora, mas e se Júlia não estivesse pronta? Será que Júlia estava preparada para lidar com a intensidade do que sentiam uma pela outra? Entre olhares imprecisos, beijos e afeto, será que isso não era apenas um medo bobo?

As duas estavam presas em um ciclo de dúvidas e incertezas. O medo de perder o que tinham as impedia de avançar, mas ao mesmo tempo, o medo de não avançar as paralisava. E se S/N decidisse passar pela porta e ir embora para sempre após dezembro? E se Júlia decidisse renunciar ao que sentia, se afastando para sempre?

Independente do que acontecesse, ambas sabiam que não podiam parar. A vida, os treinos, os sentimentos, tudo continuava em movimento. E elas precisavam acompanhar, sem hesitar, sem olhar para trás. Porque no fundo, tanto S/N quanto Júlia tinham um único pensamento: "Eu não posso parar."

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Parece que os dias de glória acabaram e a história está longe de terminar...

Ondas e Pódios - Julia Soares.Onde histórias criam vida. Descubra agora