Cap 27: Medo Bobo.

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Outubro, 2027.
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POV Júlia Soares.

Eu odeio me sentir confusa, com medo. Dizem que pessoas confusas machucam pessoas incríveis, e eu gostaria de lembrar o momento exato em que me tornei a pessoa confusa. Talvez tenha sido por causa das péssimas experiências que tive com rapazes nos últimos anos, ou por perceber que, muitas vezes, o interesse deles não era em mim, a Júlia, mas na ginasta de renome que eu representava para a cidade e o país.

S/N foi a primeira menina que senti algo, a primeira pessoa que me fez sentir verdadeiramente valorizada, cuidada de uma maneira que eu nunca havia sido. E, no entanto, eu não conseguia me livrar da sensação de que não era capaz de retribuir tudo isso. Medo, talvez? Mas medo do quê? De não ir ao céu? Ela parecia ser o tipo de pessoa que enfrentaria até o inferno por mim.

Medo da aceitação? Isso não fazia sentido, nem parecia ser um problema. Meus pais a adoram, minha irmã e cunhado parecem até gostar mais dela do que de mim. Eles a acolheram de uma forma que eu jamais imaginaria. Então, o que estava errado?

Enquanto sentia seus braços em volta do meu corpo naquele frio da madrugada, me sentia segura. Não havia frio, apenas o calor dela. Nossos corpos se encaixavam perfeitamente, talvez pela diferença de altura, ou talvez porque fomos feitas uma para a outra.

Me lembrei daqueles dias de confusão interna, quando as meninas simularam que dormíamos juntas nos treinos. Nunca fiquei tão maluca da cabeça. Aquilo mexia tanto comigo, eu negava o que sentia por ela, tentava afastar esses pensamentos. Mas a verdade era que eu a desejava intensamente, e por mais que tentasse, não conseguia ignorar isso. Achei que essa fase havia passado, mas não. Continuo a desejá-la cada vez mais, mas há uma parte de mim que ainda a nega.

Eu me pergunto o que vai acontecer quando ela voltar para São Paulo. Já me acostumei a dormir de conchinha todos os dias, a tê-la me acompanhando nos treinos uma vez por semana, a receber café na cama todos os sábados. Agíamos como namoradas, e eu desejava ser dela e tê-la para mim, eu desejava que isso fosse real. Mas o medo me prendia.

Virei meu corpo, me encaixando ainda mais naquele corpo forte e quente. Ela estava dormindo, mas mesmo assim, seu braço me puxou mais para perto, como se em seu subconsciente ela soubesse que eu estava ali. Passei minha perna por sua cintura, sentindo cada parte dela junto a mim. Deixo um beijo em seus lábios antes de encostar meu rosto em seu pescoço.

Nosso relacionamento começou com confusão, e no fundo, eu sabia que poderia terminar da mesma forma. Então, naquele momento de vulnerabilidade, pedi silenciosamente a Deus que tirasse esse medo bobo de mim. Que Ele me fizesse ser a pessoa incrível que S/N merecia. E, acima de tudo, pedi para que com o tempo tudo se tornasse perfeito, mesmo que tivéssemos que enfrentar caminhos difíceis para chegar lá. Porque, no fundo, eu sabia que ao lado dela, eu podia enfrentar qualquer coisa, até mesmo os meus próprios medos.

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A partir de agora, os capítulos terão uma quebra de tempo em relação aos meses, por isso não estou colocando os dias da semana.

Palpites sobre o que vai acontecer? Adoro ler os comentários!

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