Cap 51: Trio de Ouro.

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Agosto, 2028.
Quinta-feira.
...

POV S/N Peña.

Eu estava sentada na beira da piscina, os braços cruzados e o olhar fixo na água, enquanto meus colegas nadavam como se fossem parte dela. A sensação de estar de fora me corroía, como se eu estivesse assistindo a vida passar pela janela. João se aproximou devagar, claramente sentindo o clima pesado.

- E aí, como tá o ombro? - ele perguntou, apontando com o queixo para a faixa que cobria meu ombro.

Olhei para ele, meio desanimada.

- Tá doendo, mas tô aguentando. Chloe fez o que pôde por hoje. Não queria ficar o dia inteiro lá... Queria ver o pessoal, sabe? - respondi, tentando manter a voz firme.

João assentiu, observando os nadadores na piscina. Ele parecia mais concentrado nas notas que rabiscava no quadro branco do que na nossa conversa, mas sabia que ele estava prestando atenção.

- Mas e sobre o Lukas? - perguntei, sem conseguir segurar a curiosidade. - Você denunciou ele pro comitê, né? Qual é a situação agora?

Ele suspirou, virando-se para mim com uma expressão séria.

- Eu entreguei os vídeos e os depoimentos. Mas essas coisas demoram, S/N. Eles têm que analisar tudo com calma, porque é uma acusação grave.

Eu bufei, cruzando os braços com mais força, tentando conter a irritação.

- Analisar com calma? Enquanto isso ele tá aí, competindo como se nada tivesse acontecido! - minha voz subiu, e percebi que alguns dos nadadores na piscina pararam para olhar na nossa direção.

João manteve o tom calmo, embora eu notasse o cansaço em sua expressão.

- Olha, os vídeos são provas, mas não são definitivas. Eles mostram a confusão, mas não mostram o que aconteceu dentro do ônibus. E sem uma prova concreta do que ele fez, é complicado.

Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Estava indignada com a tranquilidade dele em lidar com aquilo.

- Como assim não são provas suficientes? Ele invadiu o ônibus e depois me agrediu! Todo mundo sabe disso!

- S/N, eu entendo a sua frustração, mas você tem que ver pelo lado deles também. Sem provas concretas do que aconteceu dentro do ônibus, eles podem decidir que foi só uma briga generalizada, que foi um mal-entendido, e no fim das contas ele pode sair com uma punição leve. - João suspirou. - O comitê é rigoroso, mas também quer evitar injustiças.

- Então o que você tá dizendo é que ele vai sair impune disso? - perguntei, a voz embargada de raiva.

João ergueu as mãos em um gesto de rendição.

- Não é isso. O que eu tô dizendo é que você precisa ser paciente. E não fazer nada que possa piorar a situação.

- Piorar? João, eu fui agredida! Eu que tô sendo punida aqui, enquanto ele tá competindo como se nada tivesse acontecido! - eu disse, tentando conter as lágrimas de frustração.

- Se você tentar algo por conta própria, pode acabar prejudicando a equipe inteira. As meninas estão se classificando bem, e qualquer tumulto pode anular as classificações. Não é só sobre você, S/N. Tem outras pessoas envolvidas. - João olhou para mim, o rosto mais sério agora.

Eu senti como se tivesse levado um soco no estômago. Era injusto, cruel, mas ele tinha razão. A raiva e a frustração ferviam dentro de mim, mas eu sabia que, por mais que quisesse fazer algo, precisava pensar nos outros também.

Ondas e Pódios - Julia Soares.Onde histórias criam vida. Descubra agora