Julho, 2030.
Domingo.
...POV Narrador.
Havia chegado o grande dia: S/N finalmente iria viajar e passar seis meses fora do Brasil, vivendo tudo aquilo que sempre sonhou com a natação. O sol ainda estava nascendo quando ela fechou o porta-malas.
Ela respirou fundo, olhando para o céu meio nublado. Sabia que a dor da despedida ia ser complicada, mas a vontade de ir atrás dos seus sonhos era ainda maior. E ela tinha certeza: no futuro, quando olhasse pra trás, não se arrependeria nem um pouco.
S/N deu uma última olhada em volta, e foi quando viu Muniz se aproximando, com aquele jeito descontraído de sempre, usando um boné virado pra trás e uma camiseta larga, como sempre. Eles tinham se tornado quase irmãos nos últimos anos, e a presença dele era um daqueles confortos familiares que ela sabia que sentiria falta.
- Tá pronta, Peñita? - Muniz perguntou, puxando ela para um abraço apertado, daqueles que quase esmagam as costelas. - Não esquece de mandar foto das coisas gringas lá, hein. E vê se não volta falando francês, alemão ou sei lá o quê, senão eu vou zoar até você cansar.
S/N riu, tentando não pensar muito na despedida.
- Eu vou tentar não virar uma poliglota insuportável, prometo. Mas se eu voltar falando umas palavras chiques, a culpa é do destino - respondeu, dando um soco de leve no braço dele. - E pode deixar que eu mando foto até das coisas sem graça.
Muniz sorriu, dando aquele tapinha clássico nas costas dela.
- Boa viagem, mermã. Vai com tudo, hein? E não esquece da gente aqui no calor, enquanto você tá lá nos gelos da Europa. Vou sentir falta das tuas piadas ruins.
- Ah, não se preocupe, vou mandar uns áudios só pra garantir que você não esqueça do meu talento. - S/N piscou, tentando manter o tom leve mesmo com o aperto no peito.
Muniz deu uma última olhada no relógio, revirou os olhos e suspirou.
- Vou nessa, tenho um pessoal pra tatuar hoje. Se cuida, S/A. E olha, se der saudade, não fica economizando chamada de vídeo, tá?
S/N assentiu, segurando o sorriso.
- Pode deixar, vou fazer questão de te acordar no meio da noite pra contar as fofocas. - brincou, se afastando devagar.
Muniz acenou uma última vez e se afastou, deixando S/N ali, por um instante sozinha, encarando o carro e o peso do que estava por vir. Ela respirou fundo, tentando conter a ansiedade que começava a se espalhar no peito. Não demorou muito para que Jackson, Fabiana, Júlia e Giovana, se aproximassem e entrassem no carro. Estavam todos ali para dar aquele suporte final, o empurrãozinho emocional que ela precisava.
[...]
Assim que o carro começou a se mover pelas ruas de Curitiba, o silêncio reinava no veículo, mas não era um silêncio incômodo, era um silêncio cheio de sentimentos não ditos, olhares que se entendiam e abraços apertados. Júlia estava sentada ao lado de S/N, e em nenhum momento soltou a mão dela, segurando firme como se dependesse daquilo para se manter firme. A cada curva, a cada semáforo, era como se Júlia estivesse tentando absorver cada segundo ao lado de S/an, sem saber exatamente como lidar com a ideia de ficar longe por tanto tempo.
S/N observava as ruas de Curitiba passarem pela janela, o coração acelerado, como se cada prédio e cada esquina fossem despedidas silenciosas. A ansiedade e o nervosismo aumentava a cada quilômetro que se aproximavam do aeroporto. Ela sentia que estava prestes a embarcar em algo grandioso, mas ao mesmo tempo, não conseguia evitar o aperto no peito por tudo que estava deixando para trás.
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Ondas e Pódios - Julia Soares.
Fiksi PenggemarS/N Peña, uma brasileira de 21 anos, é uma jovem estudante de Direito, sargento e pilota da Aeronáutica Brasileira. Além de tudo, ela é convocada para ser nadadora e representar o Brasil nos Jogos Pan-Americanos de 2027 no Peru. Durante uma entrevis...