Julho, 2030.
Segunda-feira.
...POV Júlia Soares.
Acordei com um nó no estômago. A situação com S/N e Priscila ainda me deixava inquieta, e eu mal consegui dormir direito. Olhei no espelho e me forcei a dar um sorriso, hoje era dia de evento, e eu não podia deixar que isso me atrapalhasse. Peguei minha mala e fui para o aeroporto, o caminho todo pensando em como lidar com tudo isso.
O voo para São Paulo foi rápido, e assim que desembarquei, fui direto para o treino. A adrenalina de rever as meninas me animou um pouco. Assim que entrei no ginásio, encontrei Rebeca e Flavinha. Nos jogamos em um abraço apertado.
- E aí, Jú! Como você tá? - Flavinha perguntou, olhando fixamente para mim. Eu percebi que ela notou algo diferente na minha expressão.
- Tô bem! Só... Um pouco cansada, sabe? - respondi, tentando desviar.
Ela franziu a testa, desconfiada. “Cansada” não era a palavra certa. Enquanto a música animada do treino tocava ao fundo, eu me sentia longe, perdida em pensamentos.
[...]
Quando chegou a hora de treinar na trave, decidi que era melhor conversar a sós com Flavinha. Ela sempre soube me entender.
- Ei, Flá, posso falar com você? - chamei, enquanto me afastava um pouco do grupo.
- Claro! O que tá pegando? - ela perguntou, me seguindo.
Fui até uma área mais tranquila e, com um suspiro profundo, comecei a contar sobre a noite de ontem.
- Então, você não vai acreditar. A S/N e a Priscila saíram, e... Bem, a Pri acabou passando mal. Eu fiquei tão preocupada! Na verdade, eu quase perdi a paciência quando liguei pra ela e vi o que estava acontecendo. Foi tudo tão rápido e... - eu fiz uma pausa, tentando colocar em palavras o que realmente sentia. - Eu só... Não gosto de ver a S/N assim, tão longe e ainda se metendo em confusões.
Flavinha olhou para mim, com uma expressão compreensiva.
- Nossa, Jú... Isso deve ser difícil. Mas você sabe que a Pri é assim, né? Ela se joga em tudo, e a S/N também. Você só precisa confiar que elas vão se cuidar. E você também! - ela disse, dando um sorriso.
Eu assenti, mas a ansiedade ainda estava lá. Quando voltei para a trave, minha mente estava a mil. Eu tentei me concentrar na trave, mas estava difícil. Subia, sentia o balanço e, em vez de focar no movimento, minha cabeça voltava para a noite passada. As imagens do vídeo, da Priscila só de calcinha e sutiã pedindo ajuda para a S/N, me deixavam com um aperto no peito. Eu já tinha visto Priscila fazer besteira mil vezes, mas ver aquilo pela tela do celular mexeu comigo de um jeito que eu não esperava.
Voltei a subir na trave, mas os movimentos saíam todos tortos. Pulei de novo, frustrada, e sentei no chão.
- Por que você não tá indo, Jú? - Flavinha perguntou, chegando do meu lado. - Respira, garota! Pensa em outra coisa. Foca na gente, nas competições!
Eu respirei fundo, mas as palavras saíram antes que eu pudesse controlar.
- É que... Sei lá, Flá. Eu tô com um ciúme bobo, sabe? Tipo, ontem à noite... Eu liguei pra S/A, e aí do nada a Pri apareceu atrás dela, de calcinha e sutiã, pedindo ajuda... E a S/A foi lá. Eu sei que é besteira, mas eu não gostei. - eu ri nervosa, balançando a cabeça, como se tentar justificar o que eu sentia fosse amenizar. - Eu confio na S/A, mas ver isso pela tela... Doeu.
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Ondas e Pódios - Julia Soares.
Fiksi PenggemarS/N Peña, uma brasileira de 21 anos, é uma jovem estudante de Direito, sargento e pilota da Aeronáutica Brasileira. Além de tudo, ela é convocada para ser nadadora e representar o Brasil nos Jogos Pan-Americanos de 2027 no Peru. Durante uma entrevis...