Raiva e Verdade

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Juliana respirou fundo, segurando o impulso de gritar. Cada palavra de Ana Clara era como uma faca girando em seu peito.

— Você destruiu Camila — disse, finalmente, a voz firme e controlada. — Você tirou dela a paz, o amor, tudo que ela tinha de bom. Você jogou o peso do mundo em cima dela, e ela não conseguiu suportar.

Ana Clara começou a chorar silenciosamente, mas Juliana não parou.
— E tudo isso por quê? Porque você queria ajuda? Porque achou que tinha algum direito sobre ela? Camila não era perfeita, mas ela tentou proteger a única coisa que ela ainda podia proteger. Você acha que a conhece porque viu algumas fotos e leu artigos online? Você não sabe nada.

Ana Clara olhou para baixo, incapaz de encarar Juliana.

— E agora, o que você tem? — Juliana continuou, a voz mais baixa, mas tão cortante quanto antes. — Porque eu vou te dizer o que eu tenho: um vazio. Um buraco onde antes existia a pessoa que eu amava. Tudo por sua causa.

O silêncio que se seguiu era ensurdecedor. Juliana levantou-se, deixando algumas notas sobre a mesa para cobrir os cafés.

— Você queria uma explicação? Aqui está: Camila tentou que você tivesse uma boa vida quando poderia simplesmente não ter permitido que você nascesse. E agora, tudo que resta é você viver com o que fez.

Sem esperar resposta, Juliana se afastou, deixando Ana Clara sozinha na mesa.

A caminhada de volta foi longa e solitária. As ruas estavam movimentadas, mas Juliana não via nada além da própria dor. Quando finalmente chegou em casa, fechou a porta, encostando-se nela enquanto as lágrimas que segurara por tanto tempo começaram a cair.

Ela não gritou. Não quebrou nada. Apenas chorou, cada lágrima carregando um pedaço da dor e da raiva que a consumiam. Mesmo assim, ela sentiu uma pequena, quase imperceptível sensação de alívio. Finalmente, a verdade havia sido dita.

Mas a que custo?

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