Um Passo a Frente

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Depois de tanto tempo se retraindo, Juliana percebeu que queria retribuir o carinho e a paciência de Gabi de alguma forma. Pensou em algo simples, mas significativo. Uma noite de jantar na casa nova parecia perfeito.

Ela passou o dia arrumando cada canto da sala, ajustando quadros, mudando o vaso de flores de lugar três vezes até achar o lugar ideal. A mesa foi posta com um toque rústico — pratos de cerâmica, guardanapos de linho e uma garrafa de vinho branco esperando para ser aberta.

Na cozinha, Juliana preparava uma lasanha caseira, o cheiro de molho e manjericão preenchendo o ar. A música suave de um vinil girava na sala, um presente antigo de Sofia.

Quando o som da campainha ecoou pela casa, o coração de Juliana acelerou. Ela limpou as mãos no avental, respirou fundo e abriu a porta.

— Uau. — Gabi disse, parada na entrada. Ela segurava uma pequena sacola de papel, provavelmente com algum doce, e parecia ter se arrumado especialmente para a ocasião. Um vestido azul marinho ajustado ao corpo, brincos delicados e o cabelo levemente ondulado. — Acho que subestimei o convite.

Juliana sorriu, tentando não parecer nervosa.
— Entra. E... você está linda.


As duas se sentaram à mesa iluminada por uma luminária de luz quente. Juliana serviu o vinho, e logo estavam brindando.

— Aos passos lentos que nos levam aonde precisamos estar. — Gabi disse, erguendo a taça.
— Aos passos lentos. — Juliana repetiu, seus olhos fixos nos de Gabi por um instante a mais.

A conversa fluía naturalmente. Gabi contou histórias engraçadas do trabalho, incluindo um colega que insistia em usar trocadilhos ruins nas reuniões. Juliana, rindo mais do que fazia há tempos, retribuiu com algumas lembranças de momentos desastrosos ao aprender a cozinhar sozinha.


— Quem diria, a elegante Juliana derramando molho de tomate pela cozinha. — Gabi brincou, levando mais um pedaço de lasanha à boca.
— Não espalha, tenho uma reputação a zelar. — Juliana rebateu, rindo, mas seus olhos entregavam um olhar de admiração que ela não podia mais ignorar.

Após o jantar, Gabi ajudou a lavar a louça, mesmo com Juliana insistindo que não precisava. O clima entre elas era tão confortável que parecia flutuar entre risadas e silêncios cheios de significado.


Com a louça terminada, Gabi caminhou até a varanda, olhando para a praia iluminada pela lua. Juliana a seguiu, segurando duas canecas de chá quente.

— Esse lugar é mesmo incrível. — Gabi disse, aceitando uma das canecas.
— É... mas fica ainda melhor com você aqui. — Juliana respondeu, sem pensar, sua voz soando mais sincera do que esperava.

Gabi virou-se para ela, surpresa.
— Você tem ideia do quanto significa ouvir isso?

Juliana hesitou por um instante, mas depois se aproximou, encurtando a distância entre elas.
— Acho que estou começando a entender.

As duas ficaram ali, lado a lado, ouvindo o som das ondas e o vento suave que balançava as folhas das árvores. O silêncio era confortável, mas carregado de algo mais.

Quando Gabi finalmente se despediu, Juliana ficou na porta por alguns segundos, assistindo-a caminhar até o carro. Seu coração batia forte, mas pela primeira vez em muito tempo, era de algo que não era tristeza ou saudade.

Era esperança.

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