Blue | ⚢

Descobertas a Beira-Mar

Juliana estava se acostumando a ter companhia. Embora a solidão já não pesasse como antes, os convites de Gabi vinham sempre na hora certa, como uma brisa suave em dias abafados. Mas, desta vez, foi Juliana quem tomou a iniciativa.

Ela havia descoberto um mercado local na vila próxima, uma mistura charmosa de barracas de frutas frescas, artesanato e pequenas cafeterias. O lugar parecia perfeito para passar uma tarde tranquila, e a ideia de dividir aquele cenário com Gabi fez algo dentro dela se aquecer.

No dia combinado, Juliana escolheu uma calça jeans confortável, uma camisa branca de linho e seu par de tênis favoritos. Quando Gabi chegou, casualmente elegante com um vestido floral e óculos escuros, o sorriso radiante dela quase fez Juliana tropeçar ao sair de casa.

— Bem-vinda à minha aventura do dia — Juliana disse, gesticulando para o caminho que levava ao mercado.
— Uma aventura com você? Sempre topo. — Gabi respondeu, ajustando a alça da bolsa enquanto caminhavam lado a lado.

O mercado era um deleite para os sentidos. Cheiros de pão recém-assado e café fresco misturavam-se ao aroma das flores vendidas em um pequeno carrinho. Barracas de madeira exibiam frutas vibrantes, esculturas feitas à mão e joias rústicas. O som suave de um violão ecoava ao longe, onde um músico de rua tocava para um grupo de crianças fascinadas.

Juliana e Gabi passearam entre as barracas, experimentando fatias de queijo artesanal e comentando sobre as peças de arte.

— Olha isso, Juliana. Combina totalmente com a sua casa! — Gabi disse, segurando um pequeno quadro com uma paisagem marinha pintada em tons vibrantes.
— Não é nada comparado às pinturas de Camila, mas... tem algo aqui. Talvez eu leve. — Juliana respondeu, hesitante, mas com um sorriso leve.

— Você é terrível para tomar decisões. — Gabi provocou, cruzando os braços e balançando a cabeça.
— E você é ótima para gastar o meu dinheiro, aparentemente. — Juliana rebateu, divertida.
— Ora, se não fosse por mim, sua casa ainda estaria vazia. Não me culpe por te dar bom gosto.

O riso delas atraiu a atenção de uma senhora em uma barraca de flores próxima.

— Vocês fazem um par bonito. — comentou, entregando a Gabi um buquê de girassóis.
— Ah, não somos... — Juliana começou a dizer, mas Gabi pegou os girassóis com um sorriso agradecido.
— Obrigada! Vou considerar isso um presente.

Juliana corou levemente enquanto seguiam para uma das cafeterias no final do mercado. Pediram capuccinos e se sentaram em uma mesa sob a sombra de um guarda-sol.

— Obrigada por me trazer aqui, Juliana. — Gabi começou, olhando para o café, como se estivesse escolhendo as palavras. — Eu sinto que, aos poucos, você está se permitindo viver de novo.
Juliana olhou para ela, surpresa pela franqueza.
— Acho que estou tentando. Não é fácil, mas... você ajuda. — Ela deu de ombros, desviando o olhar para o mar ao longe.
— Não tem problema em ir devagar. Só queria que soubesse que estou aqui. Sempre. — Gabi disse, tocando de leve a mão de Juliana.

O toque foi breve, mas deixou um rastro de calor. Juliana sorriu de lado, sentindo algo diferente — uma mistura de conforto e expectativa.

Quando voltaram para casa, carregando pequenas sacolas com pães, queijos e o quadro que Juliana finalmente comprou, o silêncio entre elas era tranquilo, cheio de uma nova energia que ambas sentiam, mas nenhuma estava pronta para nomear.

Naquela noite, sozinha em sua varanda, Juliana colocou o quadro recém-comprado na mesa ao seu lado e olhou para as estrelas. Pela primeira vez, o vazio que costumava habitar seu peito parecia dar espaço para algo novo, algo que ela ainda não conseguia definir, mas que tinha a ver com o riso de Gabi e o calor daquela tarde no mercado.