O apartamento que Camila e Juliana chamavam de lar era pequeno, mas carregava um charme único, moldado por cada detalhe que revelava pedaços da história das duas. A sala, onde a luz do sol entrava tímida pelas cortinas bege de linho, era o coração da casa. Havia uma estante cheia de livros de arte, romances e clássicos que as duas amavam. Os quadros de Camila preenchiam as paredes, cada um como uma janela para o mundo particular dela. Juliana sempre dizia que cada pintura de Camila tinha o poder de transformar o ambiente.
Na cozinha, um cheiro constante de café permeava o ar. Era o aroma que Juliana mais associava a Camila. Ela lembrava com carinho da rotina quase sagrada das manhãs: Camila, sempre com uma camiseta tão grande que parecia um vestido, os pés descalços tocando o chão frio enquanto segurava sua xícara favorita — uma cerâmica azul com o desenho de uma lua cheia.
— Você dormiu bem, amor? — Camila costumava perguntar, a voz ainda rouca de sono.
Juliana sorria, encostada na porta, admirando cada movimento dela.
— Dormindo com você do lado? Sempre.Camila ria daquele jeito que fazia Juliana se apaixonar novamente, todos os dias. Era uma risada leve, espontânea, que ecoava pelo apartamento como música.
Elas tinham uma vida simples, mas perfeita na sua simplicidade. Camila adorava mudar o cabelo. Às vezes loiro, às vezes vermelho, às vezes azul. Juliana amava todas as versões dela. Era como se cada mudança fosse um capítulo novo, uma descoberta.
— Qual foi o meu melhor visual até agora? — Camila perguntou certa vez, sentada no chão da sala, cortando pedaços de papel para montar um novo esboço.
Juliana inclinou-se sobre o sofá, fingindo analisar seriamente.
— Todos. É impossível escolher. Mas acho que o cabelo azul ganha pontos extras. Combinava com os seus olhos quando você ria.Camila ergueu uma sobrancelha, desafiadora.
— Você é suspeita. Está apaixonada demais para ser imparcial.— E quem disse que quero ser imparcial? — respondeu Juliana, inclinando-se para roubar um beijo, deixando Camila com um sorriso bobo.
O apartamento também possuia um pequeno estúdio de Camila de quando ela ainda não tinha conquistado sua tão sonhada galeria. Nele, havia um canto na sala reservado para as telas, pincéis e tintas. Juliana adorava observar o processo criativo de Camila. Ela pintava descalça, com as mãos cheias de tinta, às vezes murmurando uma música que só ela ouvia. Era um caos encantador.
— O que você está criando agora? — Juliana perguntou uma vez, enquanto levava uma xícara de café para Camila.
— Não sei ainda — respondeu Camila, aceitando a xícara com um sorriso. — Talvez seja uma tempestade, talvez um pôr do sol. Ainda estou decidindo.
— Você sabe que amo o seu caos, né? — disse Juliana, sentando-se no chão ao lado dela.
Camila parou de pintar por um momento, apenas para olhar para Juliana.
— E eu amo que você sempre entende o meu caos.Era nesses momentos, tão pequenos e ao mesmo tempo tão grandiosos, que Juliana sentia o peso do amor que as unia. Elas eram tudo uma para a outra, cúmplices em cada detalhe, em cada silêncio confortável.
Nos finais de semana, o apartamento se transformava em um espaço ainda mais especial. Elas cozinhavam juntas, inventando receitas ou simplesmente jogando ingredientes aleatórios em uma panela, rindo do resultado. Depois, assistiam filmes antigos no sofá, dividindo uma única manta. Camila era péssima em filmes de terror; sempre escondia o rosto no ombro de Juliana nas cenas mais assustadoras.
— Não ria de mim! — protestava Camila, enquanto Juliana tentava segurar o riso.
— É que você é tão corajosa para tudo, menos para isso. É fofo.
Camila bufava, mas no fundo gostava de ser protegida por Juliana, mesmo em coisas tão bobas.
Havia um ritual à noite, antes de dormir. Camila sempre deitava primeiro, encolhida na cama com um livro. Juliana chegava depois, apagava as luzes e se deitava ao lado dela, passando os braços ao redor da cintura de Camila.
— Boa noite, meu amor — sussurrava Juliana, sentindo o calor do corpo de Camila.
— Boa noite, Ju. — Camila sorria, fechando o livro e se virando para encarar Juliana. — Obrigada por ser meu lar.
— E obrigada por ser o meu mundo.
Elas nunca precisaram de muito. Não precisavam de viagens extravagantes, festas ou coisas grandiosas. Cada instante compartilhado era suficiente. O mundo que criaram no pequeno apartamento era perfeito porque era só delas. Um espaço onde o amor existia em sua forma mais pura.
Naquele momento, Juliana acreditava que nada poderia separá-las. Elas tinham tudo: o amor, a cumplicidade, os sonhos. E enquanto Camila estava lá, rindo, pintando, mudando o cabelo, Juliana acreditava que o futuro seria tão bonito quanto o presente.
Elas eram felizes. Plenamente. E esse amor, que parecia eterno, era a razão pela qual Juliana se agarrava tão desesperadamente às memórias agora.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Blue | ⚢
Roman d'amourJuliana vive mergulhada em uma solidão que já parece parte de sua própria identidade. Desde a perda devastadora de seu grande amor, ela se isolou, convencida de que a dor é mais segura do que arriscar sentir novamente. As tentativas de suas melhores...