Os dias seguintes ao jantar trouxeram uma leveza nova à rotina de Juliana. Ela passava as manhãs dedicando-se aos quadros de Camila, explorando formas de integrá-los a diferentes espaços da casa. Mas, à medida que as tardes chegavam, uma ansiedade gostosa surgia — era quando Gabi normalmente mandava uma mensagem.
Naquela tarde, no entanto, sua ansiedade venceu:
— "Senti falta do seu senso de humor peculiar hoje. Ainda não me mandou nenhuma piada ruim." — ela digitou e enviou antes que pudesse mudar de ideia.
A resposta veio em poucos segundos:
— "Eu estava tentando te dar um descanso, mas, já que pediu: o que o mar disse para a praia? Nada, ele só deu uma onda."Juliana riu alto, sentindo o calor familiar de uma conexão que florescia.
— "E eu achando que a lasanha foi o ponto alto da semana passada..."
— "Que honra competir com a sua cozinha, chef. Que tal fazer o desempate amanhã? Posso te levar em um lugar que adoro."Juliana hesitou, mas apenas por um instante.
— "Topo. Que horas?"
No dia seguinte, Gabi apareceu pontualmente, estacionando em frente à casa de Juliana. Desta vez, foi Juliana quem deixou Gabi sem palavras: uma blusa de linho branca, calça jeans preta e cabelos perfeitamente bagunçados, algo simples, mas que a fazia parecer brilhante sob a luz do entardecer.— Estou impressionada. — Gabi brincou ao abrir a porta do carro para ela.
— Bem, preciso manter o nível, não? — Juliana respondeu, sorrindo.O local era um restaurante ao ar livre em um píer, com mesas de madeira espalhadas e luzes penduradas que piscavam suavemente ao vento. O som das ondas batendo nos pilares era um pano de fundo perfeito para a noite.
— Você é uma especialista em escolher lugares charmosos, hein? — Juliana comentou, enquanto olhava o cardápio.
— Ah, não exagera. Esse aqui só ganhou porque fica perto do mar. — Gabi respondeu, piscando. — Além disso, pensei que combina com você.Juliana arqueou uma sobrancelha, curiosa.
— Comigo?
— Sim. Elegante e acolhedor. — Gabi disse, desviando o olhar para o cardápio, mas não antes de Juliana perceber o leve rubor em seu rosto.A conversa fluiu facilmente, como sempre fazia entre elas. Gabi contou sobre sua última viagem a trabalho, incluindo um jantar constrangedor onde confundiu o chefe com o garçom. Juliana, por sua vez, compartilhou sobre as pequenas descobertas que vinha fazendo ao redor da casa, como um café escondido com os melhores pães caseiros que já havia provado.
Depois do jantar, enquanto o restaurante começava a esvaziar, uma banda local começou a tocar. A melodia era suave, uma mistura de jazz e MPB que parecia embalar o momento.— Quer dançar? — Gabi perguntou de repente, estendendo a mão.
Juliana olhou ao redor, vendo apenas alguns casais na pista improvisada.
— Aqui?
— Por que não?Por um instante, Juliana hesitou, mas a mão de Gabi permaneceu ali, um convite silencioso. E, antes que pudesse pensar demais, ela aceitou.
As duas se moveram devagar, os passos tímidos no início se transformando em uma dança natural. Gabi guiava, com a mão firme nas costas de Juliana, enquanto a outra segurava a dela.
— Você dança bem. — Juliana disse, tentando ignorar o calor que subia pelo rosto.
— E você me acompanha melhor ainda.Elas riram, mas o riso logo se transformou em um silêncio confortável, enquanto os olhos se encontravam. O mundo parecia se dissolver ao redor, deixando apenas as duas ali, no balanço suave da música e do mar.
Quando Gabi a deixou em casa, o momento no carro foi cheio de tensão não dita. Juliana agradeceu pelo jantar e pela dança, e Gabi respondeu com um sorriso que parecia conter algo mais.Quando Juliana entrou, encostou-se na porta, o coração batendo forte. O que estava sentindo não era novo, mas era a primeira vez em anos que parecia tão claro.
Ela não estava mais fugindo.

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Blue | ⚢
RomantizmJuliana vive mergulhada em uma solidão que já parece parte de sua própria identidade. Desde a perda devastadora de seu grande amor, ela se isolou, convencida de que a dor é mais segura do que arriscar sentir novamente. As tentativas de suas melhores...