""_Umas das poucas coisas que eu já fizera na infância, fora subir em uma árvore. É algo incrível. Acho que se você já subira em uma, sabe a sensação da qual me refiro, mas também espero que, se você estiver lendo isso e estiver em um mundo seguro, faça isso um dia. Você vai entender.
_Mas então, a sensação de enxergar tudo e de estar acima de todos os problemas, de se sentir alto e grande... bem, essa foi a primeira e última vez que eu fizera isso, até dois dias atrás. Estava fugindo de algumas criaturas, e subir para salvar minha vida fora a minha única opção... e a sensação que eu sentira quando mais novo não foi a mesma. O primeiro impulso para subir até que havia sido fácil, o problema começara quando minha perna travara por causa de um espasmo enquanto fincava meus dedos doloridos com força na casca para não cair. Depois de uns demorados minutos eu conseguira subir no galho mais baixo, o qual eu ficara a todo segundo torcendo para que o galho aguentasse o meu peso. Por sorte ele aguentou.
_Lembrem-se, todo cuidado é pouco quando se trata dessas coisas. Elas podem ser fatais.
_Pode parecer até engraçado em escrever isso. Mas é sério. Eu fiquei ali na mesma posição por horas só esperando que aquelas coisas sumissem dali e eu pudesse descer em segurança. Esperei por bastante tempo.
_De onde eu estava, conseguia ver o condomínio em que Caio morava e não foi nada legal ver que a entrada estava sendo vigiada por uma dessas coisas.
_Eu não queria especular a situação em que meu amigo estava, mas sei que eu precisava de ajuda, ele precisava de ajuda... de um amigo, de uma companhia e se ele quisesse sair por aí comigo em busca de resposta seria ótimo.
_Depois de tanto tempo que eu esperara na mesma posição, não havia nada melhor do que cãibra nas pernas e nos dedos, não é mesmo?! Mas aquele havia sido o momento por qual eu estava esperando por horas, o momento em que aquela criatura fosse embora, mas tudo havia sido jogado água baixo quando eu me desequilibrara e caíra de peito no chão. Não havia sido legal.
_Eu ouvira um estalo no peito no exato momento que me chocará com o cimento, meu peito no mesmo instante começara a doer e me deixara imóvel por alguns segundos.
_Dependendo da situação, segundos são o suficiente para lhe deixar vivo ou não.
_Mas eu bem que precisei daqueles segundos no chão para conseguir respirar novamente sem sentir dor.É engraçado, mas eu nunca reparara que no condomínio do Caio havia um parquinho e naquele momento eu fui tomado por uma nostalgia na qual eu nunca havia sentido. Era seguro.
_Então me sentei no balanço por alguns minutos e me balancei enquanto ouvia o ranger das correntes com o meu peso, e aquele som me tranquilizou. Estranho, né?! Aquele som e a sensação que eu sentira, fizeram desaparecer todo o medo e dor que meu corpo sentia naquele momento. Mas como tudo que é bom obrigatoriamente tem que terminar de um jeito rápido, eu sabia que precisava agir, então eu afastara aquele momento da minha cabeça.""Bem, é unanime a decisão. A votação foi difícil e todos tinham prós e contras, mas a única coisa que tem valor no momento é a razão. Discutir por horas comigo mesmo é algo que não costumo fazer, mas tenho razão em dizer e decidi que preciso sair daqui. Esse esconderijo não é mais seguro.
São sete e trinta e dois da manhã, o sol ainda está baixo. Eu já quase perdi minha vida com essa dúvida se devo ou não sair de algum lugar. E foi do jeito mais difícil que aprendi que não devo ficar parado no mesmo lugar por muito tempo.""_...Eu sacudira a cabeça em uma tentativa de afastar aquela tranquilidade e saíra do balanço para fazer aquilo que eu havia ido fazer. Caio morava no 6° andar do 3° prédio e dali do balanço, o condomínio parecia estar vazio. Eu só precisava passar por 3 prédios e enfim chegaria ao meu destino, mas como sempre, eu havia julgado mal. Como eu não escutara nada, logo pensei que não havia nenhuma criatura por perto.
_A porta do primeiro prédio estava aberta, então pensar que alguma coisa entrara ali foi a lógica, o que era a minha sorte, já que eu não precisaria entrar ali.
_Mas foi só eu ter virado a esquina do primeiro prédio para que eu pudesse ver as criaturas que estavam ali, caminhando de um lado ao outro, sem nenhum destino, algumas delas estavam com ferimentos recentes, derramando sangue podre no chão enquanto andavam, de outras escorriam sangue da boca e do nariz. E eu teria que passar por todas elas...""
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Sangue Morto
ActionOBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL (ISBN) * 29 de setembro de 2013. Foi o ano que o terror começou a andar sobre a terra. De tantos bilhões de seres humanos, apenas um parecia ter sobrevivido a uma pandemia que destruiria a raça humana. Yudi é...