Encontro meus pais

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     – Jim?
     Uma mulher se aproximou, era a que nos disse para passar na ala médica.
     – Sou eu.
     – Ah, meu nome é Andreia, faço parte da segurança...
     – Onde estão meus amigos? – perguntei. Era só o que eu queria saber. – Como eles estão?
     – Fique tranquilo, logo você se encontrará com eles. Eles estão bem. – ela disse, com um sorriso no rosto e apenas isso me acalmou. – Mas há outras pessoas que querem vê-lo. Eles são responsáveis pela ala médica...
     Senti um frio na espinha.

     
"– Chegou a hora?!
     Cala a boca.
     – É a verdade. Era tudo pelo que você esperava. "



     – Eles estão te esperando na outra barraca. Venha, vou te levar até lá.
     Eu já imagino o quem seja. Eu estava querendo isso desde o começo, mas agora, tão próximo, não me sinto pronto para descobrir toda a verdade. Não me sinto pronto para encontrar quem me abandonou... Se houver uma verdade. Não sei como começar.
     – Jim!
     Beatriz vinha correndo. Parecia contente. Carla não estava com ela.
     Ela me abraçou, enrolou os braços no meu pescoço e me beijou.
     – Oi. Como você está?
     Não sei se ela percebeu minha diferença, mas se percebeu, não se pronunciou sobre.
     – Estou bem. Estamos realmente seguros aqui. Poderemos viver felizes e em segurança. A ilha é enorme e estão construindo uma barricada do outro lado da ilha.
     – E Felipe e Carla?
     – Estão bem. Carla está com Felipe e a irmã dele.
     – Finalmente eles se encontraram. Fico feliz por isso. – esbocei um sorriso e a beijei novamente. – Eu preciso ir agora. Tenho que me encontrar com umas pessoas.
     – Quem?
     Do jeito que ela me olhou, imagino que ela já saiba de quem se trate.
     – Vamos, Jim.
     Disse Andreia me apressando.
     Beatriz me soltou e me olhou diferente, mas mesmo assim, nada disse. E isso realmente me chateou. 
     O que eu podia fazer?



     
– Jim? É mesmo você?
     Ela jogou-se sobre mim e me abraçou com força.
     – Há quanto tempo... Como você está?
     O problema era que eu não sentia tanto esse tempo.
     O cheiro era familiar.
     – Estava com tantas saudades.
     Eu não sabia o que realmente dizer. Depois de tantos dias pensando só em conseguir isso, e quando consigo, não sei o que dizer. O que sentir. O que realmente pensar. 



     "– Ainda quer respostas?"



     Eles pareciam mais velhos, cansados. Estavam esgotados de algo, culpados por alguma coisa. Eu não queria saber sobre o que realmente se tratava. Eu não deveria saber, é a única coisa em que consigo pensar.
     – Como você está?
     Me perguntou novamente o homem.
     Era uma pergunta que não deveria ser feita. Mas já é automático.
     Eu o olhei, não sei como estava minha feição, mas a face dele, me fazia sentir-me culpado.
     – Agora? Confuso. Antes de chegar aqui? Não, não estava bem. Mas também não sei se agora eu estou bem, não sei se sinto realmente a paz que deveria sentir depois de estar a salvo. E vivo.
     – Tudo vai melhorar. Eu prometo.
     A mulher me deu um beijo e aquele foi o ápice.
     – Melhorar? – gritei. Eu acho que gritei. – Claro que irá melhorar, mas não por causa de vocês. Vocês me abandonaram para me virar sozinho. Viver e morrer sozinho.
     – Nós não tivemos culpa. Não podíamos te trazer, tínhamos que nos redimir. Queríamos que você não sofresse por nossa causa. Eles não permitiram. Não pense que eu não sofri. 
     Ela começara a chorar.
     O homem se aproximou de mim. Foi automático, mas eu recuei, e eu não deveria ter feito. Não queria ter feito. Mas eu deveria dizer algo. Sei que deveria. Sinto que deveria. Minha cabeça grita por isso.
     
 O quê? Não podiam? Como pode dizer isso? – eu tentei entender. – Eu juro que tentei entender. Mas sua desculpa é apenas que não queria que eu sofresse por suas causas? – eu só queria ter conseguido rir. Mas as lágrimas chegavam aos meus olhos e se esforçavam para sair. – Vocês realmente são os meus pais? Isso tudo não deveria nem me surpreender, sempre aconteceu, mas eu fui idiota em pensar que o caos do mundo deixaria as coisas diferentes. Mas fui ingênuo. Quem realmente são vocês? – eu não consegui mais segurar as lágrimas. Eu queria sair dali, mas minhas pernas não mexiam. – Vocês me deixaram apenas com uma passagem só de ia para um lugar que só há demônios. Me deixaram sem esperanças e sem nada. Eu tive que criar meus caminhos e vocês deveriam ter estado neles em apenas algum momento...
     – Não é bem assim. 
     Foi a única coisa que ela conseguiu dizer e eu não faço a mínima ideia o que possa significar, mas as lágrimas que escorrem dos olhos dela não me parecem ser falsas.
      – Não se preocupem mais. Eu sobrevivi. Encontrei conforto onde eu nunca imaginei. E apenas isso que importa.

...

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