– Ainda está acordado?
Perguntou Beatriz se aproximando da minha cama.
– É o que parece... Estou um pouco ocupado. São que horas?
– Já irá dar 2h da manhã. Nós iremos embora daqui hoje, você precisa descansar mais.
– Eu sei. Logo irei me deitar, só preciso de mais alguns minutos. E você? Está acordada por quê?
– Seu machucado ainda dói? – ela o ignorou
– Não.
– Tudo bem então. Não demore para se deitar.
"_Eu precisava perceber o dilema que eu não compreendia há muito tempo: coragem ou egoísmo.
_Ela me ajudara enquanto eu forçava as pernas para me levantar, mas todo o esforço disparava uma dor absurda pelo meu braço que eu não sentira mais.
_Ela não conseguia sustentar o peso do meu corpo, mesmo assim não parara um minuto de segurar minha mão enquanto corria na minha frente.
_As criaturas ainda estavam atrás da gente, não sabíamos em que distância porque nos recusávamos a olhar para trás, mas os urros estavam mais alto, mais próximo do que eu poderia gostar que estivessem naquele momento.
_E enquanto nós corríamos, eu percebera que ela havia mudado desde o nosso primeiro encontro. Ela parecia ter amadurecido rápido demais naquele pouco tempo.
_A dor me fizera enxergar bolinhas brancas e minha cabeça começara a rodopiar. Eu achei que iria desmaiar. E se isso acontecesse, estaria morto. Sem dúvidas. Mas eu só tropeçara, mais uma vez.
_Por sorte ou azar, eu não desmaiara."
A verdade é que se eu não tivesse tropeçado, as coisas agora seriam diferentes.
*Você acha?*, Jim queria ouvir da minha boca, mesmo conhecendo meus pensamentos.
– Eu novamente presenciara algo que me destruíra, e novamente foi por causa de minhas escolhas.
*Você se sente culpado. Ok. Supera. Você não pode alterar o passado e não pode ficar os restos de nossos dias sofrendo.*
– Se eu não tivesse escolhido salvá-la?
"_Ter tropeçado só piorou ainda mais a dor que eu já sentira. Meu braço não sangrava mais, mas latejava como se estivesse sendo constantemente perfurado. A menina gritava para que eu levantasse e eu realmente tentara. Mas dessa vez ela não me ajudara a levantar, seu rosto estava tão pálido e acabado, seu rosto estava totalmente cheio de suor, não soube dizer se havia lágrimas. Ela desistira de gritar e eu tremia de joelhos no chão.
_Ela andara até mim, e com força me empurra pelas costas, me forçando a levantar. Ela me soltou e voltou a caminhar, na direção errada.
_– Levante-se daí e fuja. Corra. – ela gritara.
_Lágrimas inundaram meus olhos e meu joelho tremera como se fosse se desfazer a qualquer momento.
_– Você está maluca? Não fique aí. Você quer morrer? Você precisa viver. Fuja. – eu gritara de volta, mas eu não conseguia olhar para trás.
_Ela sorrira para mim, um sorriso que eu não via em ninguém há muito tempo. Talvez eu esteja imaginando ou tenha sentido. Mas independente da situação quero acreditar nisso.
_– Eu já havia tomado uma decisão. Eu estava perdida, vira meus pais morrerem e serem devorados na minha frente e tudo o que me sobrara havia sido Jim, que teve o mesmo fim. – ela me dissera tão alto quanto os urros.
_Eu conhecia os olhos que ela tinha, havia medo ali dentro, havia uma agonia que lhe esmagava. Eu não poderei esquecer nunca aqueles olhos, até porque são idênticos aos meus.
_Talvez seja verdade quando dizem quando você está na beira da morte, o tempo se passa tão lentamente que você é capaz de ver todo o seu passado. Eu não sei se ela vira algo, mas o meu era completamente escuro.
_Eu me levantara por completo, e virara para ela com dificuldade.
_– Você está maluca? Venha, vamos embora. – eu gritara para ela, meu corpo todo tremia violentamente, um frio que eu nunca sentira perfurava meu corpo.
_– Não dará tempo. Eu não quero morrer sendo só mais uma, como meus pais. Mas eu não quero viver mais nesse mundo sem as pessoas que eu mais amei. Eu já não aguento mais viver nesse mundo.
_– Vamos embora. Por favor. Você pode conhecer outras pessoas, você verá que o mundo ainda tem muita coisa para se viver, pessoas para conhecer. Você não está sozinha.
_– Você acredita nisso? – ela me perguntara e eu não soube o que responder naquele momento. – Quando você me salvou, me fez ver que se fosse para morrer salvando alguém que me salvara, seria melhor que morrer sem motivo nenhum. Me desculpe, eu gostei de você, mas não aguento mais viver em mundo assim onde perco todos que amo. Estou cansada disso.
_– Por que você não vive comigo? Posso lhe proteger. Você merece viver. – eu não tinha a mínima ideia das promessas que eu fizera, mas não queria vê-la morrer na minha frente. Não queria que uma menina de 7 anos me salvasse.
_Queria que ela realmente vivesse.
_As criaturas não esperaram que nossa conversa terminasse, muito menos ela. Ela se lançou à frente, não esperou que a morte a alcançasse.
_– Eu me chamo Ângela. – ela gritou para que eu ouvisse antes que as criaturas arrancassem pedaços de seu corpo no dente."
– Ainda dói. Eu deveria ter sido mais forte enquanto ela passava por tudo aquilo. Ela fora sincera comigo, me mostrou seus medos, inocência, mostrara suas lágrimas e o medo da morte. E eu não fora capaz nem de dizer meu próprio nome.
*Não adianta você chorar pelo passado agora, Jim. Não caía nesse buraco. Foi difícil sair da última vez. Você precisa viver.*, Jim resmungava em minha cabeça novamente.
– Você parece não entender, Jim. Ela havia me mostrado que não me abandonaria. Ela conseguiu ser tudo que eu não conseguira. Onde estava a minha coragem? Você deveria entender o quanto isso me criou dúvidas e o quanto eu havia lutado para aceitar minhas escolhas. E aqui estou eu novamente, cercado pelas mesmas dúvidas.
*É você que parece não entender. Você se arriscou para salvá-la e sofreu por isso. Ela tomou uma decisão sobre algo que você nunca poderia suprir. Sua coragem está onde sempre esteve.*
– Ela não desistiu de mim... e eu nem havia perguntando o nome dela quando resolvi ajudá-la.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sangue Morto
AksiOBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL (ISBN) * 29 de setembro de 2013. Foi o ano que o terror começou a andar sobre a terra. De tantos bilhões de seres humanos, apenas um parecia ter sobrevivido a uma pandemia que destruiria a raça humana. Yudi é...