PARTE II - PLANO DE SEGURANÇA [ATUALIZADO]

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     Eu estou começando a me sentir confortável com essas pessoas ao meu redor. Mas ainda há um resquício de insegurança.
     *Não baixe a guarda*
     Só sei que a partir de hoje as coisas ficarão um pouco mais complicadas para escrever. Qualquer tempo livre terá que ser o suficiente para escrever, preciso tirar tudo isso de dentro de mim. Sinto que essas pessoas ao meu redor não conseguirão amenizar todo esse terror.
     Se não me engano, hoje é onze de outubro, se eu estiver certo, e tenho quase certeza que sim, daqui a três dias é meu aniversário. Mais um ano. O primeiro aniversário que passarei sozinho.
     – Você fala sozinho?
     Eu não havia percebido que Beatriz me observava.
     – Aprendi. Estou sozinho há tempo demais...
     – Notei também que você sempre está escrevendo, por quê? O que é?
     Sinto meu rosto esquentar mais que o normal. De tantas coisas para perceber, ela foi perceber logo de eu falar sozinho.
     *Ô garota mais fofoqueira*, Jim sussurrou na minha cabeça. Eu senti um leve sorriso no meu rosto.
     – Não é nada demais, só algumas coisas que aconteceram comigo.
     – OK. Felipe quer falar com você. Pelo que entendi hoje iremos embora daqui. Não podemos ficar por aqui por mais tempo.

     – Beatriz disse que você queria falar comigo.
     Queria deixar claro que Felipe me assusta um pouco, principalmente quando está limpando as armas que carrega.
     Ele me ofereceu uma garrafa de água.
     – É. Você está vivo desde que tudo isso começou e deve ter respostas, e eu as quero...
     *Eles também estão vivos desde que tudo isso começou, não se deixe enganar*, Jim sussurrou tão baixo, mas ainda eu havia o ouvido com clareza. Ele tinha razão. Eu.
     – O problema é que eu não sei nada sobre isso. Também quero respostas. Vocês também estão vivos desde que tudo isso começou.
     A expressão dele mudou. Ele colocou a arma de lado e me olhou nos olhos.
     – Nós iremos se ajudar. Não vamos? – ele sorriu de repente. – Não perca a arma que te dei. Sei que não sabe como usar uma.
     – Como você sabe?
     – Pelo modo que a segurou quando eu lhe a entreguei. – ele voltou a limpar a arma. – Nossas munições estão no fim, então não tenho como te ensinar a usar. Use quando for necessário e tente aprender a atirar sem desperdiçar.
     – Como vou fazer isso?
     – Atire quando tiver certeza de que matará. Enfim. Estava conversando com Carla e decidimos primeiro ir até a casa da minha irmã. Ela era policial, imagino que ainda tenha munições e armas escondidas pela casa.
     – Nós não íamos para delegacia? – eu perguntei, estava ficando confuso.
     *Preste atenção. Preste atenção nos detalhes. Não confie cegamente em alguém.*
     – E vamos. Mas para a nossa proteção é melhor termos munição.
     – É nossa melhor opção?
     Eu puxei a arma da cintura e a fitei em minhas mãos. É pesada.
     *Você não deveria ter esvaziado o tambor*, fiz o máximo para silenciar o Jim que me atormentava em minha cabeça.
     – Cuidado com isso aí. Não vá se ferir ou atirar em alguém que não seja seu inimigo. Você deveria entender melhor. Precisamos de munição para nos defender e não temos, sem dizer sobre o que nós podemos encontrar no caminho. Ir até lá primeiro é nossa primeira e melhor chance. Não é longe daqui.
     Precisei concordar com ele. Ele não fazia ideia de que eu havia retirado todas as balas.
     – Eu não conheço nada por aqui. Estou perdido.
     – Fique tranquilo. Só fique atento. Vamos partir daqui a algumas horas.
     Minha cabeça está tão longe com toda essa situação. Passei dias querendo encontrar alguém e quando encontro não sei como agir. Não sei o que falar. Fui inserido de penetra em um grupo com planos já definidos. Meu objetivo é encontrar meus pais e respostas. Quero minha vida normal de volta.
     *Impossível. Se contente com isso. Pelo menos estamos vivos*.
     Preciso concordar com ele.
     – Você está bem? – Felipe me olhava com um olhar minucioso.
     E eu nem sei o que é minucioso. Mas ele interrompera os pensamentos que rodeavam em minha cabeça como um furacão. Então eu sorri.
     – Vou ficar. Sério.
     – Então se apronte. Não podemos nos atrasar por sua causa!

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