Bem, nem eu sabia que estávamos nessa relação. Eu me lembro completamente do que aconteceu na noite anterior, mas como ela havia dito, havia sido um presente. Um presente no qual eu não esperava. Mas não houve um pedido, nem meu e nem dela. Ou será que não precisa ter um pedido para isso?
*Você sabe qual é a situação que você se encontra?*, como sempre Jim não estava satisfeito, mas ele não precisa estar.
– Acho que você não entende. – sussurrei mentalmente.
*Eu sei que você não negou.*
– Como assim? Ele é só um garoto... – gritou Carla.
E isso me fez despertar. Engoli em seco e tentei não olhar em seus olhos.
– Ele irá aprender. – disse Felipe depois de rir.
*Mas uma vez, você ainda não disse nada*, ele tem razão. Eu não disse nada. Eu nem sei o que dizer.
– E é por ser um garoto que eu o namoro. – rebateu Beatriz. – Ele tem 17 anos, fez ontem.
Então ela me beijou na bochecha e eu senti meu rosto corar.
*Você quer ter uma namorada!!!*, eu pude sentir as risadas de Jim ecoando em minha cabeça.
– Sério? – perguntou Carla.
Silêncio.
– Sim! Mas sem os parabéns, por favor. – consegui dizer depois de alguns minutos constrangedores. – Vou arrumar minha mochila para partimos.
Apenas me levantei e saí, sem olhar para ninguém.
Não sei quando poderei escrever novamente, mas não tem problema. Dessa vez estou em dia com as cartas.
Arrumei minha mochila, quer dizer, só peguei a mochila e coloquei o caderno, caneta e as mesmas coisas que havia antes, tipo uma corda, canivete e só. Eram as únicas coisas que eu tinha. A arma que o Felipe me deu eu coloquei na cintura, uma caixa com munição no meu bolso e mais duas na mochila. Prendi um relógio de pulso que ainda funcionava, e desci.
– Estou pronto.
– Nós também. Então podemos ir.
Disse Felipe.
Não são nem 11h da manhã ainda e já estamos indo encontrar a morte. Por quê?
Felipe caminha na frente como se estivesse pronto a enfrentar a morte de frente, enquanto Carla anda um passo atrás, cantarolando uma música que eu não conheço. Beatriz anda do meu lado, às vezes segura na minha mão e solta, não sei se é porque minha mão soa quando ela a segura ou porque se trata de outro motivo.
Até agora tudo está tão deserto que me causa um certo receio dessa leve segurança. Até o Jim que habita minha cabeça está em silêncio. Mas por quanto tempo tudo isso irá durar?– O que foi? – perguntou Beatriz.
– Não houve nada. Só estou um pouco receoso. – respondi.
Ela pegou na minha mão e balançou para frente e para trás.
– Não fique receoso, pode te atrapalhar na hora que você tiver que tomar uma decisão de imediato.
– Falar é fácil, né. E agir?
– Pense em algo que você goste. Tente planejar várias situações e o que você faria em cada delas. Trace planos, essas coisas, acho que ajuda.
– Falar é fácil, né. E agir? – repeti com um riso abafado.
– É sério, Jim.
Ela riu, soltou a minha mão e começou a cantarolar a mesma música que a irmã.
Quando chegamos na estrada em que eu encontrara Ângela, estava tudo deserto, não havia nenhum corpo morto, só sangue e sangue. E então eu percebi porque estava receoso. Ao ver que estava tudo deserto o meu medo se acalmou.
– Foi aqui que você a encontrou?
Perguntou Felipe, parado, encarando-me.
– Sim.
Eu respondi e percebi que sentia uma certa felicidade.
Beatriz me olhou e então eu sorri, lembrando do sorriso e da coragem de Ângela, a garota que me salvara.
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Sangue Morto
ActionOBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL (ISBN) * 29 de setembro de 2013. Foi o ano que o terror começou a andar sobre a terra. De tantos bilhões de seres humanos, apenas um parecia ter sobrevivido a uma pandemia que destruiria a raça humana. Yudi é...