PARTE II - TÍNHAMOS APENAS UMA CHANCE [ATUALIZADO]

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     O sol está bem quente e já faz muito tempo que não o aproveito desse jeito. Pelo jeito vai demorar um pouco para minhas roupas secarem, mas não posso ficar aqui parado por muito tempo. Sei que ainda não posso relaxar completamente como gostaria.
     Os gritos das criaturas que estão na ponte estão diminuindo, pelo jeito estão desistindo, e as que caíram na água parece que foram engolidos. Hoje definitivamente pode ser o meu dia de sorte.
     A minha única opção agora é andar por aí, se encontrar uma casa vazia será o meu momento. Preciso comer e tomar um banho decente. Por mais que não viva como antes ainda preciso manter alguns hábitos antigos.
     O que mais tenho visto são casas com portões aberto. Talvez todos tenham fugidos.
     Eu já andei por tempo o suficiente para não perceber que o sol está se pondo. Não sinto dores nos pés, por isso não estranhei, ou o tempo passou muito rápido. Estou perdido. Não sei onde estou, mas desde que atravessei a ponte não tenho encontrado nada, nem uma criatura se quer. O que é bom. Algumas casas da vizinhança estão com as luzes acesas, mas não ouço nada vindo delas.
     Preciso colocar em prática o meu plano, mas antes preciso de algo para me defender dessa vez.
     Acredito que esse pedaço de madeira servirá. Essa casa amarela está totalmente apagada e será o meu refúgio nesse momento.
     O primeiro andar está vazio e graças a deus o segundo também. Verifiquei todas as portas, janelas, quartos, banheiro. Tudo vazio. Não há ninguém. Não sinto o cheiro de sangue e nem de morte. Estou seguro aqui por enquanto. Tranquei tudo que encontrei e deixei o pedaço de madeira jogado em cima da mesa da cozinha.
     Ok. O primeiro passo do plano foi concluído com sucesso.
     *Relaxe*. Eu podia ouvir Jim sussurrando na minha cabeça. Ele tem razão, mas é difícil relaxar por completo quando se vive em uma história de terror.
     Segunda parte do plano, comer alguma coisa. A casa parece estar vazia há bastante tempo. A geladeira está vazia e o armário em cima da pia só encontrei um pacote de biscoito e sal fora da validade. Vai ser isso mesmo com água da bica.
     Terceira parte, tomar um banho demorado e relaxante. O banheiro é apertado, mas o chuveiro elétrico ainda funciona. Então é um luxo que poderei ter da água quente. O vapor enche o banheiro lentamente e quando percebo por mim já fico com dificuldades para respirar. Não enxergo nada. Espero ter sorte de encontrar roupas que caibam em mim.
     Na terceira porta que abro, encontro um guarda roupa quase vazio, com poucas roupas que por sorte são dois números menores do que visto. Vai servir. Tudo por enquanto está perfeito. Procurarei por folhas novas para escrever. As folhas que havia molhado estão secas e vou tentar prender todas com alguma coisa.
     Encontrei um caderno com boa parte das folhas rabiscadas, mas vai servir por enquanto. Vou escrever agora e amanhã à tarde ou depois de amanhã eu vou embora daqui. Preciso encontrar outras pessoas. Sinto que irei encontrar, preciso manter esse otimismo. Preciso escrever o que aconteceu com Clarice...

""_A quem estiver lendo essas cartas, saiba que nesse momento estou seguro, mas não sei por quanto tempo. Mas não se preocupem...
_Então, contando sobre o dia que Clarice e eu nos encontramos com Julie e meu medo ter me paralisado.
_Como eu havia escrito, Clarice me salvara de ser morto ou até mesmo de ter sido devorado por inteiro por aquela criatura que quando humana eu fora apaixonado. Bem, eu poderia até ter sido transformado em um deles, sei lá como isso funciona... Mas as coisas aconteceram assim...
_Julie nos perseguira enquanto nós fugíamos desesperados dela, Clarice estava fora de si. Uma coisa era ter se mantido em casa e segura e outra foi eu a ter tirado de casa e entregá-la para o maior pesadelo de nossas vidas.
_Clarice gritava e xingava e em várias vezes eu tive que puxá-la para não ficar para trás. Eu perdera a conta de quantas vezes ela tropeçou e Julie quase nos alcançou. Numa dessas quedas eu quase quebrara minha perna.
_Como sempre, nada nessa vida dá certo por muito tempo, ainda mais se você for uma pessoa azarada. O mundo pareceu deitar-se para não ficar de pernas para o ar para poder ferrar com minha vida mais do que já estava...
_Depois de termos corrido de volta por onde viemos, estávamos de volta em frente à rua que dava para o condomínio em que Clarice morava. Ela quis voltar, mas só tínhamos a opção de seguir direto, porque havia mais criaturas ali do que no condomínio de Caio. Ela reclamou bastante, mas me seguiu por medo. Corremos em direção a um viaduto que havia ali perto. Mas como se não fosse bastante estar fugindo e sendo perseguido por uma sádica, Julie urrava e as criaturas que estavam próximas respondiam aos urros.
_Era apenas uma atrás de nós, mas quando percebemos, havia mais de 7 criaturas atrás de nós. Clarice já não aguentava mais correr e eu estava começando a me cansar, eu não conseguia mais respirar, e tendo que puxá-la não ajudava muito...
_Só precisávamos nos esforçar um pouco mais para atravessar uma pequena passarela sobre um rio, valão, sei lá o que era aquilo, mas sei estaríamos a salvos. Tenho certeza de que estaríamos. Ambos.""

     Desistir? Já pensei tantas vezes nisso. E eu sei que naquele dia Clarice havia pensando na mesma coisa. Mas até para isso eu não tive coragem. E hoje, eu ainda não tenho coragem.
     *Você não é corajoso.*, Jim concordou comigo.
     Ele ou eu. Ambos somos iguais e somos os mesmos. Por que eu sou assim?

Sangue MortoOnde histórias criam vida. Descubra agora