PARTE II - TIROS [ATUALIZADO]

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""_Eles gritavam em meios aos urros que se aproximavam depressa.
_Eu precisava fugir. O que eu poderia fazer?
_Eu pude presenciar o terror no rosto do homem na porta.
_Eu pude ouvir duas mulheres gritando em histeria batendo nas janelas com força.
_Eu pude ver que havia duas crianças na janela chorando.
_Foi então quando o ônibus balançara, as criaturas estavam se jogando contra ele.
_Então eu fugi. Fugi dos das pessoas salvas no ônibus. Fugi das criaturas do outro lado do ônibus. Fugi das pessoas mortas no túnel fora dos carros. Eu apenas fugi. Eu apenas corri e nem pensei em olhar para trás. Eu precisava sobreviver.
_Humanidade?""

     
Eu não faço a mínima ideia do que acontecera com aquela família, mas duvido muito que aquelas coisas conseguiram entrar dentro do ônibus. Provavelmente os vidros eram blindados. Devem estar vivos até agora. Não tenho como saber.
     *você não se sente culpado, né Jim?*, ele sabia a resposta, não sei o porquê da pergunta.
     Havia sido coragem ou egoísmo? Eu havia fugido e não me sinto culpado, mas eu estou disposto a ajudar os outros ou só quando é de benefício próprio?
     Eu sempre estive pedindo por coragem e mesmo assim sobrevivi. Mesmo assim consegui fazer coisas pequenas mesmo com medo. Coragem é algo que eu realmente quero desde o começo? Do que eu seria capaz?
     Eu deveria estar dormindo agora. Amanhã começo uma nova aventura em busca de outras pessoas.

*

     É tão ruim quando consigo dormir bem, porque eu sei que não posso me acostumar a isso. Sei que essa paz não durará muito.
     Preciso encontrar coisas pra comer, minhas poucas coisas estão praticamente no fim. Seria bom encontrar alguma fruta por aí, comer barra de cereal murcha e vencida não dá mais.
     O sol está tão forte e eu nem havia pensado nessa hipótese. Fugir debaixo de um sol escaldante não é uma das melhores opções. Ainda mais quando se tem que carregar uma mochila. O sol queima a pele, o calor que sobe do asfalto parece estar me fritando, os olhos ardem com o calor, suor...
     A rua está deserta e não há barulho algum.
     Desde que fugi da ponte fico torcendo para que elas não saiam da água. Que morram uma segunda vez lá.
     *esse é o problema, né?! Você não sabe*, Jim tem razão. Eu não sei. Eu tenho razão. Eu não sei.
     Eu poderia procurar por uma delegacia, talvez lá eu encontrasse alguma ajuda, talvez pessoas tenham se refugiado lá, deveria ser óbvio, né?!
     *então por que você não procurou uma logo de início? Não era esse seu plano quando saíra do shopping abandonado?*
     
Se eu não achar nenhuma pessoa, terei que escolher um lugar para ficar, então poderei contar quando quase fui morto por um humano. Sim. Por um humano, foi antes de chegar na ponte onde havia várias criaturas, antes de chegar aqui. Foi uma coisa bem estranha, mas ele havia se perdido no caos e perdido a humanidade há muito mais tempo do que eu. Por sorte eu conseguira escapar dele e das criaturas que nos perseguiam. Espero nunca mais encontrar pessoas assim.
     Será que ele ainda está vivo?

     O sol não me perdoa, meu corpo está ardendo, pegando fogo literalmente. Se eu tropeçar vou escorregando pelo asfalto de tanto suor. É difícil enxergar com suor caindo sobre os olhos, é uma ardência desgraceira. Não aguento mais andar, estou há horas caminhando, dobrando esquinas e esquinas, entrando em becos, subindo ruas e descendo outras. Eu não sei por onde ir.
     Tiros.
     Urros.
     Não achei que poderia ouvir nenhum dos dois nem tão cedo. Tenho certeza do que eu ouvi.
     Mesmo sabendo que poderia acontecer estou surpreso que por aqui as coisas não estão tão seguras quanto imaginei. E estão próximos, os urros estão mais altos.
     Tiros novamente.

Sangue MortoOnde histórias criam vida. Descubra agora