PARTE III - OLHAR DE MEDO [ATUALIZADO]

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     Felipe me olhou de um jeito estranho e eu achei que ele repetiria o que havia me falado na noite passada. Mas não foi o que aconteceu, ele simplesmente se virou e continuou andando. O que me deixou um pouco surpreso.
     Caminhar como se o mundo estivesse normal é estranho. Confesso que é impossível se acostumar a isso, mas para eles, para ele, parece ser tão normal.
     Entendam, infelizmente estamos em um mundo que está sendo devorado muito mais rápido do que alguém poderia imaginar.
     Felipe parecia tranquilo enquanto Carla cantarolava uma nova canção a cada três minutos, enquanto eu olhava preocupado para todos os lados prestando atenção em qualquer coisa, Beatriz como sempre, não estava preocupada, ela tinha a coragem que eu sempre quis. Para ela, nem parecia que estava vivendo em um mundo tomado por criaturas que poderiam nos atacar a qualquer momento.
     *ABRA OS OLHOS! PRESTE ATENÇÃO!*, Jim gritou em minha cabeça. Uma dor se instalou, verberando em toda minha cabeça.
     – Estou atento! – sussurrei, segurando minha cabeça com força.
     Finalmente chegamos no fim dessa estrada, o que eu não sabia que ela daria em duas saídas, a esquerda era um túnel duplo e a da direita era uma estrada que subia para um viaduto. E esse não era o nosso maior problema.
     – Por onde vamos agora? – perguntou Carla parando de cantar.
     – Não sei. Precisamos decidir isso juntos. – disse Felipe, pensativo. Ou era o que me parecia. Pensativo.
     – Túnel. – eu disse, sem pensar, claro. Mas por quê?
     – Não. Não sabemos o que terá lá dentro, não temos lanternas e só teremos um lado para fugir. E será que ir pela a outra estrada é mais seguro? Se tiver criaturas lá em cima também? Elas podem urrar e nos cercar, será difícil fugir sem que percamos um de nós... mas se no túnel elas urrarem e nos cercarem, não teremos como fugir, certeza. – Beatriz explicou.
     – Então você acha melhor ir pela estrada? Por que teríamos que tomar uma decisão juntos? – perguntei.
     – Parece ser o mais sensato. – Carla concordou. – Mas qual é o caminho da Delegacia?
     – Não sei muito bem. Mas não é longe daqui, mas precisamos saber por onde irmos. Qual caminho é o mais seguro.
     – Felipe, não se preocupe. Não lhe culparemos por sua escolha. – disse Carla lhe dando um beijo na bochecha.
     – Vamos pela estrada, temos mais chances de sobreviver.
     *Não é difícil de perceber isso.*, sussurrou Jim.
     Começamos a subir a estrada, todos estamos tensos, pela primeira vez eu senti Beatriz tremer enquanto ela segurava forte minha mão, novamente a balançando para frente e para trás. Felipe pegou uma arma da cintura e a destravou. Eu não sabia que Carla estava carregando uma arma também, mas ela a segurava firme com as duas mãos. Beatriz continuava segurando minha mão enquanto eu pegava a minha arma da cintura. O problema era que eu era destro e segurava a arma com a canhota por causa de uma mão soada que segurava minha mão direita. Mas esse foi um problema que eu não quis resolver.
     Chegamos na parte ampla do viaduto. Por sorte ou azar, as criaturas que estão perambulando por aqui não estão tão perto assim da gente, talvez uns oito metros de distância ou mais. Só consigo enxergar duas.
     Agora nos deparamos com mais escolhas, ou pulamos uma grande grade que separa as ruas ou seguimos em direção as criaturas e as enfrentamos de frente. Temos armas para isso. A escolha foi óbvia, decidimos pular a grade.
     *Inteligente, Jim. Você não deveria usar uma arma, mataria o alvo errado.*. Infelizmente o Jim que sussurra em minha cabeça tem razão. Eu ainda sinto um pequeno nervoso, um tremor percorrendo meu braço, meu corpo.
     Felipe passou para o outro lado bem rápido, fez parece fácil demais.
     Carla teve um pouco de dificuldade para subir e pular, mas depois de alguns minutos ela finalmente conseguiu.
     Joguei a mochila dela para o outro lado.
     Beatriz não quis ir na minha frente. Eu achei que subir isso seria fácil, mas como sempre, se tornou um pouco difícil, meu pé não entrava entre os buracos da grade direito e os meus dedos começavam a me machucar, e eu inventara de subir com a mochila, como Felipe fizera, e minha mochila nem está tão pesada, mas já é o suficiente para me fazer demorar mais do que Carla. É realmente alto aqui de cima da grade, agora só preciso descer, o que não foi fácil, sem falar que Felipe só sabe fazer me apressar.
     Caí de costas no chão quando tentei virar meu corpo e descer.
     Beatriz começou a subir, mas o que não havíamos prestado atenção aconteceu, aquelas criaturas que estavam longe se aproximaram sem ter feito nenhum barulho. O que me assustou mais é ver que Beatriz ainda está no meio da grade e Felipe e Carla não param de gritar.
     Pela primeira vez que eu tenha me lembrado, vi o olhar de medo de Beatriz.

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