Como esperado. Eu errei o primeiro tiro. Acredito que ainda tenho mais uma bala. Preciso ter mais uma bala.
A bala que eu achava que tinha no bolso não estava mais aqui. Não consigo abrir o tambor de tanto nervosismo.
Felipe não reagia e mais um ataque rápido de espada aconteceu, mas acredito que agora quem foi atingida foi Carla, pelo grito que ela deu.
Mesmo estando bem longe, ainda era possível ouvir as criaturas lá da costa urrando e gritando. Mas agora, parecia que estavam comemorando por mais uma criatura ter nascido. Era o que dava a entender. Pareciam estar comemorando a minha péssima mira e a chance que Francisco, a nova criatura morta tem de matar a todos nós.
Eu só quero saber porque tudo isso está acontecendo. Preciso sobreviver para descobrir as respostas.
Ergui os braços novamente e os firmei, mirando a arma na cabeça de Francisco. Espero que ainda haja uma bala. Só uma. Respirei fundo e concentrei-me. Só precisava atirar. Azar. Como sempre tenho. O barco está balançando e meu enjoo voltando. E quase vomitei. Mas engoli e respirei fundo e então disparei. Larguei a arma e tampei a boca com as mãos no mesmo instante que o vômito chegou à boca. Só há suco gástrico para vomitar, e quando subia, subia queimando minha garganta e descia queimando. Só quero sair do barco.
Francisco estava de pé, com a espada na mão e erguida. Mas no lugar que era para ter uma cabeça, não existia mais nada, e o que chegara a ser uma cabeça um dia, o resto estava no chão e jogado na Carla e no Felipe. A espada caiu no chão do barco e o corpo de Francisco caiu para trás, no mar e ficou boiando enquanto nos afastávamos. Afundou de uma vez.
– Felipe. Felipe.
Carla o gritava.
Ele está morto? Não pode ser.
– O que houve?
Perguntei.
– É Felipe. Ele está desacordado.
Ela estava nervosa, com certeza pensando no pior.
Não consigo me levantar, só de tentar o enjoo fica ainda mais forte.
Ele não pode estar morto.
– Se acalme Carla, estamos chegando. Beatriz, você está bem?
– Sim. Finalmente o pesadelo estar terminando.
Ela parecia mais aliviada. A tranquilidade dela já estava me afetando e isso não me deixava seguro, não no momento.
Eu preciso fazer algo.
Levantei-me com cuidado. Beatriz não fez nem o mínimo esforço para sair da minha frente para eu passar. Carla arrastou Felipe para a proa onde estivera Francisco e o aninhara em seus braços. Sentei-me no antigo lugar de Felipe e comecei a remar. Achei que era um trabalho fácil, mas é um pouco complicado e bem cansativo. Ainda mais tendo que parar a cada minuto para segura o vômito com a mão. O suor fazia meus olhos arderem quando escorriam por sobre meus olhos.
– Você está bem? – perguntou Beatriz, ela me olhava de uma forma diferente. Pena. Talvez. – Você consegue?
Isso não foi legal.
O pior é que eu não sabia se conseguiria ou não. Sou bem diferente do Felipe.
– Consigo.
Respondi com dificuldade. Meus braços já tremiam de dores.
Claro que não consigo.
– Como está o Felipe? – perguntou Beatriz. – Ele está bem?
– Sim. Só está, acho, que dormindo. Ele merece descansar um pouco.
Concordei silenciosamente. Ela tem razão.
– Quer ajuda? – perguntou Beatriz. – Pode dizer.
– Não. Não preciso.
Respondi com um pouco de dificuldade, ela soltou um risinho mas não me ajudou.
– Já estamos chegando. Aguente só mais um pouco.
Sussurrou Carla.*
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Sangue Morto
ActionOBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL (ISBN) * 29 de setembro de 2013. Foi o ano que o terror começou a andar sobre a terra. De tantos bilhões de seres humanos, apenas um parecia ter sobrevivido a uma pandemia que destruiria a raça humana. Yudi é...