""_– Tudo bem. – eu concordara.""
Eu não deveria ter contado as coisas para ela. Mas o que eu diria depois de ter ouvido a história dela? Não poderia inventar qualquer história. Não tive nem cabeça para isso e nem teria.
""_– Você já conhece o começo.
_– Não enrola, Jim.
_– Tudo bem. Eu não havia notado o cheiro de sangue que empesteava a escola e eu não faço a mínima ideia do porquê eu continuei na escola mesmo que vazia. Curiosidade. – eu sorrira lembrando do ditado da minha vó. – Foi quando eu estava próximo do segundo andar que eu percebera o cheiro, mas já era tarde para voltar, então por que não chegar até o final? Foi então que eu me arrependi e meu pesadelo começou.
_Beatriz me olhava atentamente de um jeito que nunca olhara. Ela sabia ouvir uma história, isso a ajudava a esquecer do próprio passado, claro. Da mesma forma que ela prefere ouvir planos sobre um futuro incerto.
_– Julie havia se transformado nessas criaturas, como eu não sei. Mas o medo de vê-la e reconhecê-la dessa forma me paralisou. – travei em meio aos meus pensamentos. – Ela havia estraçalhado o corpo do meu melhor amigo com uma tesoura, que porventura vinha a ser o próprio irmão gêmeo dela. Todas aquelas pessoas mortas na sala, tudo destruído. Havia sangue para todos os lugares, até no teto. Ela me olhava de um jeito provocativo. Até hoje me lembro claramente dela arrancando o coração do peito do Diego e segurando em sua pequena mão.""
Se eu não estivesse pensando um pouco mais teria contado sobre as coisas que eu ouvira. Ela me chamaria de louco, mas também nem eu saberia explicar caso ela se interessasse em saber mais.
""_– Percebi que essas coisas nos perseguem por nossos cheiros. Mas isso você deve ter percebido, também. Julie vem me perseguindo até uns dias atrás... A última vez que a vira, ela havia caído dentro de um valão depois que terminara de matar uma amiga... Então tenho fugido dela e de muitas outras.
_– Amiga? O que acontecera com ela? – ela me perguntara.
_– Clarice. Não há muito que contar, na verdade, eu ajudei a matá-la.
_– O quê? Como?
_– Eu a tirei do único lugar seguro que ela estava. Fui egoísta. Se eu não tivesse a convencido a sair de casa ela estaria viva agora. Nós estávamos fugindo. Julie e essas coisas não saíam do nosso pé. Nossa única chance era atravessar uma pequena ponte, eu tinha certeza de que elas caíram da ponte. O plano era nítido na minha cabeça... Bem, nós caímos na ponte e as criaturas caíram em cima dela, ela não teve tempo nem de nada. Quando dera por mim não havia mais uma Clarice e a ponte se partira. Aquelas coisas caíram no valão.
_– Você sabe que não deveria se culpar. Ninguém teria como saber. Se ela saiu de casa é porque quis. Você não deve se culpar, Jim. – ela sorriu.
_Até hoje nada mudou em relação como eu me sinto em relação a Clarice. Ainda me sinto culpado. Responsável por sua morte.""
Já irá dar duas horas da madrugada e eu não sinto um pingo de sono. Eu deveria estar dormindo há horas, tenho que estar mais do que preparado para hoje cedo. Mas falta apenas um dia. Eu nem deveria estar contando para o meu aniversário... Não será nada de especial, não sei nem porque tanto espero por ele.*
– Jim. Jim. Levante.
Foi complicado abrir os olhos, mas consegui. O travesseiro macio gritava pela minha cara.
*Vamos dormir só mais um pouco, Jim.*
– Oi, Felipe? – minha voz estava atordoada por causa do sono.
Eu realmente deveria ter dormido mais cedo.
– Venha me ajudar no quarto da minha irmã.
– Quê?
– Me ajude a procurar munição. Já que ela não está por aqui tempos que procurar...
– Você não tem medo dela não estar viva? – perguntei, sem jeito.
Ele parou por um segundo e eu tive medo que me desse uma bronca.
– Não. Infelizmente aprendi a esperar sempre o pior quando ela estava em trabalho. – ele deu de ombros. – Ela sempre foi muito bem precavida. Com toda certeza tem armas e munição escondida pelo quarto. Me ajude a achar.
– Tudo bem.
Começo a revirar as coisas e a pôr no lugar. Sabe-se lá se ela está viva ou não.
*Você vai mesmo fazer isso?*, não tinha motivos para não fazer. Não sei porque esse Jim era tão radical em certos momentos.
– Está tudo bem, Felipe? – perguntei remexendo debaixo do colchão.
Ele estava parado olhando para uma fotografia em suas mãos.
– Sim. Em breve tudo estará bem.
Eu não sei se era para mim ou para a fotografia que ele olhava. Mas não perguntei mais nada.
– Não ficaremos aqui por muito tempo. Precisamos descansar e nos reorganizar.
Comemorei mentalmente e Jim me repreendeu por isso.
Nada embaixo do colchão.
Nada nas cômodas.
Nada embaixo da cama.
Não havia nada atrás da televisão e quadros pendurados.
– Eu entendo... Precaução, não é mesmo?! – eu dizia enquanto abria a porta do armário. Um sorriso escapou de minha boca. – Felipe venha cá. É isso aqui que procuramos?
Ele se aproximou. Dentro o guarda-roupa havia uma caixa totalmente preta com um cadeado aberto. Ele abriu e encontrou o que procurava. Muito mais do que procurava.
– É sim. – ele respondeu gritando, contente.
– Deveríamos ter procurado aqui primeiro ao invés de perder quarenta minutos procurando.
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Sangue Morto
ActionOBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL (ISBN) * 29 de setembro de 2013. Foi o ano que o terror começou a andar sobre a terra. De tantos bilhões de seres humanos, apenas um parecia ter sobrevivido a uma pandemia que destruiria a raça humana. Yudi é...