PARTE III - CORAGEM OU COVARDIA? [ATUALIZADO]

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"_Puxar meu braço não ajudava em nada. A cada puxão que eu dava, mas a ferida no antebraço aumentava. As garras da criatura estavam profundas na minha carne. Agora percebo que eu não me importei se aquilo me contaminaria...
_SPOILER: NÃO ME TRANSFORMOU!!
_Minha mente estava ficando turva, meu corpo estava ficando mole. Eu não sabia como iria me salvar e eu não poderia contar com meu reflexo, como havia dito.
_E naquela hora eu sentira uma certa tristeza, porque eu não seria salvo por outra criatura sedenta e egoísta por carne e sangue. Minha morte seria dolorosa e lenta.
_A menina permanecera gritando e negando-se a ir embora e deixar-me. Ela me puxara por um braço enquanto a criatura se aproximara mais e mais, enquanto perfurava mais e mais o meu antebraço.
_Eu não sei o porquê ela não dera o fora dali.
_Ele não arrancara meu antebraço, mas quase arrancara meu nariz fora com uma mordida. Por milagre ele largara meu braço e se lançara em cima de mim. E nesse momento eu caíra no chão. E foi nesse momento em que a criatura se chocara contra a lataria do carro, que eu conseguira pegar a mão da menina e correr sem nem pensar duas vezes. E a última coisa que vira, fora a criatura lambendo todo aquele meu sangue que caíra no chão e guinchando como se sentisse prazer.
_Milagrosamente eu ainda conseguia correr, mesmo tendo um braço inútil balançando sem vida na lateral do meu corpo.
_– Dói? – ela perguntara.
_– Não. Vamos. Não pare de correr.
_Sinceramente eu não sentia mais dor. Meu braço estava dormente. A dor realmente anestesiara o meu braço.
_Aqueles minutos de terror não fora o suficiente para nos deixar livre.
_Algumas criaturas começaram a nos perseguir, urrando e se derrubando, mas desgraçadamente atrás da gente.
_Eu tinha certeza, precisávamos virar em alguma esquina. Mas eu não tinha certeza de qual...
_Mas viramos na primeira que apareceu e continuamos a correr, o único problema que era previsível, era que ela não conseguiria mais correr. E aconteceu. Mas havia um problema. Eu não poderia colocar ela nas minhas costas e correr.
_As criaturas se aproximavam, elas urravam desesperadamente e derrubavam tudo que havia pela frente.
_Eu tropeçara e torcera o tornozelo, seria até de boas se eu não tivesse caído. A garota continuou e quando percebera voltara para me ajudar, ela puxava meus braços com força. Não sei de onde ela tirou aquela coragem repentina e acredito que ela tenha se esquecido que eu estava com um braço destruído. Mesmo assim ela fez, novamente ela tentara me salvar, mesmo com as lágrimas na cara, a cegando.
_As criaturas se aproximavam mais e mais...
_– Não. Não vamos morrer. Não. Você disse isso para mim. – ela gritara.
_Eu não a enxergava com clareza. Eu não saberia dizer se fora por causa das lágrimas ou estar perdendo a pouca força que tinha..."

     *Você precisa dormir, descansar. Você não pode morrer, Yudi.*, Jim sabia ser irritante.
     – Você sabe que estou bem e que meu nome agora é Jim. Qual o seu problema?
     *Você sabe qual é o meu problema. Você não pode morrer. Se você morrer, acaba tanto pra mim quanto pra você.*
     
Não foi engraçado quando bufei para mim mesmo em protesto.
     *Não adianta ficar bufando. Você deveria conversar com alguém.*
     
– Aparentemente, você é alguém. Não é Jim? – eu sussurrei. Pude ver um menino na minha consciência de pernas cruzadas sentada numa imensidão completamente negra.
     *Sim. Eu sou alguém. Eu sou você, idiota. E não quero morrer. E se você não obedecer ao que dizem, o que eu digo, você morrerá. Eu morrerei. Nós morreremos. Consegue entender?*
     
– Eu sempre pedi por coragem e aparentemente sempre a tive e nunca quis aceitá-la. Você tem medo, por que não o aceita?
     A única coisa que iluminava o quarto era uma lanterna fraca que jogava sombras fracas na parede. Talvez Jim fosse aquelas sombras trêmulas.
     *Morrer significa o fim. Viver com ou sem coragem, ainda é viver!*, dessa vez eu não conseguia sentir o medo dele como já sentira. Ele está tranquilo.
     *Entenda Jim, o que aconteceu não é culpa sua. Você escolheu por si só salvá-la*, ele tem razão. Foi uma escolha minha.

"_Ela continuara a me puxar e eu gritava para que ela fosse embora. Ela entendera isso, eu pude ver. Mas ela não aceitara que descartasse minha vida para que ela vivesse. Ela entendeu algo que eu ainda não entendi. Mas em compensação, eu entendi algo que nunca havia entendido e que ela não aceitava. O Sacrifício.
_– Eu não deixarei você. Vamos. Levante. – ela gritara, puxando com mais força.
_As criaturas se aproximaram, elas não correram mais. Parecia que elas já sabiam que encontrariam sangue.
_Sentira-me fraco. Eu desistira naquele momento da minha vida. Eu já estava cansado de correr e esconder-me. E tudo isso me fizera pensar naquele momento de agonia, se o que eu decidira era corajoso da minha parte ou só pura covardia.
_Morrer era coragem?
_Trocar minha vida pela a dela, era coragem?
_Ou tudo não passara de puro egoísmo?
_A deixar só, sofrer em um mundo perdido e eu encontrando finalmente o descanso..."

     – Novamente estou perdido naqueles pensamentos sobre se importar ou não com as pessoas. Eu já havia me decidido. Mas a pequena menina me fez mudar de opinião. Mas por que eu mudara por uma criança?
     *Você não sentiu nenhum peso de erro ou culpa, não é?*
     
– Por sacrificar minha vida em prol dela? Não. Nenhum. Você sabe disso.
     *Eu sei. Mas há momentos que é preciso dizer em voz alta para que você entenda*
     
– Eu não percebi quando ela tomara a própria decisão. Mas ela escolheu ser. Ela escolheu não desistir da humanidade quando eu havia desistido. E isso me envergonha.
     *Verdade. Mas você aprendeu com isso, não?*
     
– Eu sinto as lágrimas vindo. Antes havia sido por medo. Agora é diferente, vergonha, compreensão...
     *Chore. Mostre que você se importa com as escolhas delas*

Sangue MortoOnde histórias criam vida. Descubra agora