Ela parou e virou para mim.
– Obrigada. Um passo de cada vez...
Ela voltou a caminhar, devagar.
*Ela quer que você a acompanhe, idiota*, sussurrou Jim em meus ouvidos.
– Será que encontraremos um lugar seguro? Não quero morrer. – Beatriz me perguntou.
Ela espera que eu tenha uma resposta. Pela primeira vez eu pude sentir o medo em sua voz. Esse é o lado que eu nunca havia visto, um lado que ela não faz questão de mostrar a ninguém. A vi tendo medo, ouvi o medo em sua voz.
*Ela está se tornando a pessoa que você era... Ela está perdendo as esperanças.*
– Nós iremos encontrar um lugar seguro... amor.
Não deveria tê-la chamado de amor.
*O que deu em você?*, Jim gritou. Não sei se era possível, mas vi seu rosto nitidamente vermelho em minha cabeça. Talvez eu também tenha ficado vermelho.
Ela ficou olhando para mim sem saber o que dizer, fazer.
– Como pode ter certeza? – disse por fim.
– Só quero acreditar. Não posso?
– Acho que não é muito bom fazer isso.
Ela me encarou séria. Ela está realmente perdendo as esperanças que tinha. Não posso deixar
que isso aconteça. Não com ela.
– Estamos chegando na delegacia. – disse Felipe.
Já começando a correr e não sei para quê. Só o seguimos.
– Onde está minha irmã, Marcelo? – perguntou Felipe para, o que parecia, ser o único policial ali.
– Ela não está aqui, Felipe. Desde ontem ela saiu escoltando umas 30 pessoas para um outro lugar. Pelo que parece, conseguiram encontrar um lugar seguro. Ela ficará aliviada quando descobrir que você ainda está vivo. Ela não passou um dia sequer falando que você conseguiria sobreviver, mas a cada dia a confiança nisso se perdia.
Ele não escondeu o seu alívio de terem encontrado um lugar seguro. O que me deixou ainda mais aliviado.
– E Por que você ainda está aqui?
Não sei o que Felipe pensa, mas ele pareceu pouco se importar com o ouvira sobre sua irmã.
– Fui designado a esperar. Esperar que mais alguém apareça. Como vocês.
– Então estamos salvos?
Carla perguntou.
– Nesse momento não. Ao chegar ao local, estarão. É o que todos esperamos, né?!
Marcelo parecia um pouco triste, mesmo sabendo de um local seguro.
O que me surpreendeu foi ver que Beatriz não esboçou nenhuma reação. Era como se para ela tanto faz, ter ou não um local seguro. Mas eu entendi. Eu entendo!
– E onde fica esse lugar?
– Só o Capitão, sua irmã e mais 3 policiais sabem onde fica. Se quiserem ir para lá, terão que esperar que eles voltem.
– Ok. Esperaremos.
Felipe respondeu por todos nós.*
– Mas alguém chegou?
Uma voz grossa se fez ouvir.
Esse é o chefe, o capitão.
– Sim, Senhor.
Marcelo disse em bom tom.
– Quantos?
– Apenas 4, Senhor.
– Vocês terão que esperar até o amanhecer para partir...
– Por quê, Senhor?
Perguntou Carla.
– Esqueça as formalidades, me chame de Douglas. Já não tem o porquê disso. Estamos vivendo em mundo onde um título não é mais nada... Iremos partir ao amanhecer, parece que não somos tão atacados comparado ao dia e a noite.
Ele tirou o chapéu de capitão e o colocou debaixo do braço. Estava visível o seu cansaço.
Concordamos com a cabeça e nos sentamos no canto da sala.
Beatriz dormiu em meu ombro.
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Sangue Morto
AksiOBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL (ISBN) * 29 de setembro de 2013. Foi o ano que o terror começou a andar sobre a terra. De tantos bilhões de seres humanos, apenas um parecia ter sobrevivido a uma pandemia que destruiria a raça humana. Yudi é...