head or heart ;; njh

quarenta e sete

-- Voltemos aos velhos tempos... -- o Niall falou do outro lado da tela com um sorriso no rosto.

Eu soltei uma risadinha. -- Nem fala... Já tinha até esquecido minha senha do Skype.

-- Admito que estava com saudades dessa rotina. Óbvio que seria bem melhor estar deitado com você nesse momento, mas... -- ele levantou as sobrancelhas, ainda com um sorriso malicioso no rosto.

Eu ri. -- E como vão os shows? As cidades que visitam? Quero muitas fotos para ver quando você voltar, por favor. Se você está longe viajando, pelo menos esteja longe viajando direito e tire fotos.

-- Sim, senhora. -- ele me provocou e eu dei um sorrisinho irritado para ele.

-- Mas me conta...

-- É tudo muito maravilhoso. Tudo mesmo... É incrível encontrar as fãs nos aeroportos, mesmo que elas gritem demais, mas ainda tenho aquela agonia de não poder fazer todas elas felizes com um abraço, o que todas merecem... -- ele suspirou, brincando com uma caneta entre as mãos. -- E visitar os pontos turísticos, sair pelas ruas... quando dá, é ótimo.

Eu estava sentada em um dos bancos da ilha na cozinha conversando com o Niall enquanto a Phely terminava o jantar. Era o dia dela cozinhar, o que ela fazia mil vezes melhor que eu. Pelo menos eu tinha conseguido aprender a acender o fogo sem me queimar, o que já era um grande e avanço. Porém, a Phely já estava em um estágio de cozinheira muito acima do meu, o que me dava inveja.

-- Você estava assinando alguma coisa? -- eu apontei para a caneta na mão dele.

-- Não... ela já estava aqui em cima da mesa. -- ele falou, encarando-a. -- Deve ser do Liam... ele que anda com umas canetas nada a ver.

De repente, alguma coisa caiu no chão e a Phely xingou baixinho, choramingando. Me virei rapidamente e vi um pouco de sangue pingar no chão ao lado da faca que tinha caído. -- O que aconteceu?

-- O que aconteceu? -- o Niall perguntou, se aprumando na cadeia.

Ela gemeu de dor e fechou os olhos, segurando uma das mãos, o sangue pingando no balcão da cozinha. Me levantei do banco em que estava sentada e fui até ela. Vi o sangue que escorria para fora da tábua em que ela antes cortava um tomate. Segurei as mãos dela com cuidado para ver o que ela exatamente tinha feito e arregalei os olhos ao ver a profundidade dos cortes em dois dos dedos dela. Ela se recusava a abrir os olhos e segurava o choro com todas as forças que restavam a ela.

-- Phely... você consegue mexer esses dedos? -- eu perguntei apontando para os dedos machucados dela e percebendo como as mãos dela tremiam. Eu estava preocupada com a profundidade dos cortes, já que os tendões dela estavam visíveis. Não queria deixá-la assustada, então dei meu máximo para não mostrar nenhuma emoção.

Ela negou, soluçando em uma tentativa de ainda segurar o choro. Mordi meus lábios de maneira nervosa e a levei até a pia da cozinha. Lavei minhas mãos antes de encostar ou fazer qualquer coisa em relação aos machucados.

-- Você sente meu toque? -- eu perguntei, encostando nas pontas dos dedos machucados dela com cuidado para não piorar mais ainda os cortes.

Ela negou, algumas lágrimas escorrendo pelo rosto dela. Ouvi o Niall me chamando, mas eu não conseguia respondê-lo naquele momento. Não ia culpá-lo. Ele devia estar tão preocupado quanto eu por ouvir a Phely choramingando. Respirei fundo e pedi que ela esperasse lá para que eu pudesse buscar o soro fisiológico e gaze no banheiro para esterilizar os cortes.