head or heart ;; njh

cinquenta e dois

Respirei fundo. Minhas mãos estavam cruzadas sobre a carteira, meu material necessário para fazer a prova estava perfeitamente arrumado do lado direito da mesa. Olhava fixamente para a lousa, passando a matéria na minha cabeça, tentando lembrar de tudo um pouco do que eu tinha estudado nas últimas semanas.

A Lisa, com os pés apoiados na minha cadeira, balançava-os nervosamente, fazendo os tremores chegarem até mim. Olhei para trás rapidamente, pedindo silenciosamente para que ela parasse. Era irritante e me desconcentrava. O professor olhava o relógio, esperando os minutos passarem até que dessem o tempo da prova. Olhei para os lados. O garoto ao meu lado mordia os lábios nervosamente e de maneira tão forte que eu tinha certeza que iriam sangrar a qualquer momento. Uma garota algumas fileiras distante roía a unha. Um lápis caiu no chão, quebrando o silêncio. Era possível ouvir os ponteiros do relógio.

-- Podem começar. -- o professor, de pé na frente da mesa dele, falou.

Virei a prova que estava sobre minha carteira e respirei fundo, pegando uma das canetas que tinha separado. Escrevi meu nome e folheei-a lendo todas as perguntas, identificando as fáceis, médias e difíceis. Escolhi uma das perguntas fáceis e comecei a escrever a resposta freneticamente, repassando toda a matéria na minha cabeça. Meu nariz quase encostava na prova de tão próxima que eu estava dela para escrever a resposta.

Pelas duas horas e meia seguintes, apenas se ouvia canetas deslizando sobre as folhas de papel, respostas perfeitamente escritas, outras nem tanto. Relia a resposta para uma questão difícil, que eu tinha acabado de escrever, não muito satisfeita, porque não tinha conseguido achar as palavras certas, que deixariam minha resposta em nível de excelência. Faltavam cinco questões e mais vinte minutos. Meu coração acelerou desesperadamente. O pior de tudo era que apenas faltavam questões difíceis e apenas uma média para serem respondidas. Mordi meus lábios e me concentrei na questão, não suportando a ideia de perder sequer um minuto.

-- Vinte minutos. -- o professor anunciou para a sala ainda cheia de alunos, apenas algumas carteiras vazias.

Comecei a escrever uma resposta improvisada para uma das questões difíceis que eu não fazia ideia de como responder. Não me lembrava de ter estudado aquela área. A Lisa começou a balançar os pés novamente. Quis jogar minha caneta nela, porque não conseguia me concentrar. De jeito nenhum ia ser prejudicada, então puxei minha cadeira para frente, me apertando entre o encosto da cadeira e a mesa.

-- Cinco minutos.

O garoto do meu lado se levantou, a prova nas mãos dele. Minhas mãos suavam e escorregavam pela caneta. Engoli em seco. Tinha mais duas perguntas para responder. Obviamente, escolhi a que eu tinha pelo menos uma ideia do que era para ser respondido. A Lisa se levantou atrás de mim. Agradeci mentalmente.

Depois de ter escrito uma resposta totalmente desleixada para a última questão que faltava, outra que eu também não sabia responder, entreguei a prova ao professor quando ele anunciou que o tempo tinha acabado. Respirando apressadamente, comecei a guardar meu material no meu estojo, jogando-o dentro da minha mala. Conseguia apenas pensar no meu almoço naquele momento antes da prova do período da tarde.

-- Perdi minha mão... -- a Lisa murmurou do meu lado quando andávamos juntas para fora do prédio. Assenti, concordando e arrumando minha mala nos meus ombros.

-- Eu só queria ir para casa. -- eu choraminguei.

-- Quem dera...

Suspirei e saí para o ar livre logo atrás da Lisa. Nós nos sentamos debaixo da sombra de uma grande árvore no gramado verde e tiramos nossos livros e anotações das malas para podermos revisar a matéria para a prova do período da tarde.