head or heart ;; njh

cinquenta e um

O Caleb ia na frente pelos corredores brancos, seguido por mim e pela Lisa. O médico responsável pelo Will nos guiava pelo hospital, explicando o que tinha acontecido com o Will e o que havia sido necessário ser feito. Tentei não parecer interesseira, mas queria ouvir e absorver exatamente tudo que ele falava. Só faltava um dos meus cadernos para anotar. Fiquei feliz em perceber que meus amigos faziam a mesma coisa.

Ele parou na frente da porta de um quarto e quando se virou, deu um olhar confuso para nós, por estarmos seguindo-o tão de perto. Ele se virou, abrindo a porta lentamente. -- Will, você tem visitas.

O Will, deitado na cama, deu um sorriso fraco para nós três e um suspiro de alívio. Ele estava mais pálido que o normal, mas parecia estar bem. Entramos no quarto e rodeamos a cama dele. A Lisa segurou uma das mãos dele, olhando-o diretamente nos olhos, um sorriso carinhoso no rosto dela. Foi então que eu percebi que a garota nos pensamentos do Will, que o impedia de ser feliz com a Amber, era a Lisa. Olhei para o Caleb discretamente e ele assentiu.

-- Vocês finalmente puderam ser médicos por alguns minutos, não é? -- ele falou ainda sorrindo e todos nós rimos.

O médico do Will, que fazia anotações na ficha médica do dele, olhou-nos de lado com um sorriso discreto no rosto.

-- Quem foi responsável pela massagem cardíaca? -- o Will perguntou. -- Não, espera, eu não precisei de ventilação, precisei?

Eu ri. -- Precisou. O Caleb fez em você.

-- Vou ter que tomar cinco banhos quando eu for para casa. -- o Will abriu um sorriso maior ainda, sem forças para rir.

O médico nos deixou conversar com o Will, dizendo que mandaria uma enfermeira voltar dali meia hora para checar o soro. Nós três puxamos as cadeiras e a poltrona que estavam no quarto para perto da cama do Will para podermos conversar sem termos que nos sentar na cama dele. Não caberia todo mundo.

-- A Liesel fez massagem cardíaca em você. -- o Caleb falou, dando um olhar orgulhoso para mim ao se sentar em uma das cadeiras. -- Ela teve o maior trabalho para te segurar enquanto você caía do banco.

-- Desculpa. -- o Will se virou para mim, ainda segurando a mão da Lisa.

Conversamos por tempo suficiente para escurecer do lado de fora. A enfermeira entrou no mínimo três vezes para checar o soro do Will. Achava engraçado como todos nós estávamos curiosos para ver os aparelhos que sempre ouvíamos falar nas aulas da universidade. Era estranho ver tudo ao vivo e ver que realmente existiam. Nas aulas, pareciam equipamentos distantes e fora da realidade.

Quando a enfermeira entrou mais uma vez no quarto,  já era tarde e nós já devíamos ter ido embora. Eu e o Caleb nos despedimos do Will, porém a Lisa disse que ficaria mais um pouco com ele. Seguimos pelos corredores do hospital em direção à saída, observando médicos passando nos corredores, macas sendo levadas para a ala cirúrgica e famílias de pacientes indo visitá-los.

Por já ter anoitecido, o Caleb me ofereceu carona, sabendo que eu teria que ir de ônibus ou metrô ou até pegar um táxi para ir para casa. Eu não era nada louca de recusar. Não estava nem um pouco a fim de voltar de ônibus ou metrô ou táxi para casa. Estava muito cansada para aquilo.

-- Eu não vejo a hora de me formar. -- o Caleb falou, quebrando o silêncio que tinha se instalado no carro, nós dois estávamos concentrados nas músicas que tocavam suavemente no rádio.

Tinha contado para ele sobre a minha conversa com o Will no bar e de como ele sofria por amar duas pessoas e o Caleb confirmou minhas suspeitas de que a Lisa era a garota que ele amava além da Amber. Tudo estava explicado. O Will estava não só mal pela Amber ter terminado com ele, mas também por ver a Lisa conversando com outro garoto no bar perto dele na noite anterior.