quarenta e um

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Peguei um pacote de salgadinho e me sentei no chão do banheiro encostada na banheira. Chutei a porta para fechá-la e suspirei.

Pensei na minha geladeira vazia e em como eu teria repor tudo, fazer compras e eu simplesmente não estava a fim. Pensei no tempo que tinha passado com a minha família nas últimas semanas e em como eu sentia falta deles. Pensei na conversa que o George teve com meus pais depois do ano novo. Ele realmente saiu do quarto naquela noite. Uma sensação de alívio percorreu meu corpo por saber que não ia mais ter que me preocupar com o George.

Pensei na bagagem que tinha levado para a viagem de volta para casa e em como eu teria que arrumar tudo. Fechei os olhos, ainda segurando inutilmente o pacote de salgadinho nas mãos. Tirei a jaqueta que tinha colocado quando saí do aeroporto já que do lado de fora estava bem mais frio.

Peguei meu celular ao meu lado jogado no chão e disquei o número da Phely, esperando que ela atendesse logo.

-- Alô?

-- Eu realmente acho que a gente devia morar juntas. -- foi a primeira coisa que falei.

-- O quê?

-- Eu acho que a gente devia morar juntas. -- eu repeti, mais devagar.

-- Não, isso eu entendi. Mas por que você me ligou do nada para falar isso? -- ela perguntou.

-- Porque estou sentada no chão do meu banheiro com um pacote inútil de salgadinho quase conversando com a privada. -- eu expliquei. -- Minha geladeira está vazia. E eu não quero tomar banho. Queria ter um gato.

-- Liesel...

-- Eu sei, gatos fazem sujeira, mas não se eu cuidar bem deles.

-- Estou indo para aí. -- ela falou do outro lado da linha.

-- Eu não tenho comida.

-- Deixa a sua porta destrancada.

E com aquilo ela encerrou a chamada. Fiquei olhando para a tela do meu celular antes de colocá-lo ao meu lado no chão. Abri o pacote de salgadinho com uma careta por ser a única coisa que tinha para comer. Eu tinha que realmente parar de comprar aquilo.

Encarei os azulejos velhos do outro lado do banheiro enquanto comia alguns salgadinhos, que tinham gosto de isopor. Deixei o pacote de salgadinho de lado e suspirei. Era terrível comer aquilo quando eu estava morrendo de fome e querendo ter uma refeição decente.

Olhei para o meu celular ao meu lado, pensando em ligar para o Niall, mas ao mesmo tempo, não querendo incomodá-lo. Ele devia estar tão cansado como eu.

Eu não fazia ideia de quanto tempo tinha passado até que ouvi a Phely entrando no meu apartamento.

-- Liesel? -- a voz dela quase não chegou no banheiro.

Estava com os braços em volta dos meus joelhos, abraçando minhas pernas.

-- No banheiro. -- eu falei em um tom de voz alto suficiente para que ela pudesse me ouvir. Ou eu esperava que ela pudesse me ouvir.

Olhei para a maçaneta da porta do banheiro, pensando em abri-la para a Phely, mas ela conseguia se virar.

Ela deu algumas batidas na porta e girou a maçaneta. -- Posso entrar? Por que você está aí?

-- Não sei. -- eu respondi vagamente, encolhendo os ombros quando a vi entrando.

-- Trouxe sua janta. -- ela mostrou a caixa de pizza que carregava assim que fechou a porta. -- Depois que você falou que estava comendo salgadinho, sabia que você precisava de alguma coisa decente. Você não pode morar sozinha.

head or heart ;; njhOnde histórias criam vida. Descubra agora