Quando eu era adolescente meu irmãozinho ganhou um lindo
cachorrinho da raça "São Bernardo".
Peludo e brincalhão tinha uma expressão bonachona,
olhos avermelhados e caídos, típicos da raça.
Dei-lhe o nome de Jonas, talvez por me lembrar de baleia, pois,
ele foi crescendo a ponto de ficar tão grande que só eu conseguia
levá-lo à rua para passear, pois, puxava muito a coleira e,
mesmo meu pai, por ter uma complexão franzina,
não podia com a força que ele fazia, tendendo a levar quem
estivesse com ele para passear e não o contrário.
Estes passeios diários deram-me a chance de ir ver o sol se por
todos os dias em que estava em casa e foi motivo para estreitar
os laços de amizade que eu e o Jonas tínhamos.
Sua aparência bonachona cativava as pessoas e me facilitava
aumentar e estreitar o círculo social.
Sempre houve uma característica antagônica a este estreitamento,
não sei se por ciúme. O Jonas, por ser da raça "São Bernardo"
que é associada ao desenho do cachorro com um barrilzinho
na coleira que salva as pessoas nas montanhas nevadas e
aparentar ser muito inofensivo, apesar do tamanho,
permitia que as pessoas se aproximassem dele e o afagassem
sem susto, quando estavam despreocupadas aranhava com
seus enormes caninos a barriga destas desavisadas.
Sempre fiquei muito bravo com ele quando tomava esta
atitude e ele me olhava com um olhar entre meigo e de quem
sabia que tinha feito coisa errada.
Nossos passeios para ver o sol se por me fizeram perceber
o quão importante é ter esta visão, e, quando estava na praia,
nas férias escolares, quando o tempo permitia, sentava na areia
para olhar o horizonte e ver o por do sol.
Na praia, além da beleza de um por de sol, vê-se o horizonte e
sentado na areia percebe-se nossa pequenez frente ao Universo,
o que nos leva a comparar os grãos de areia com as estrelas do
firmamento e nos aproxima de Deus.
Belo dia, sentado na areia vendo o sol levei um susto.
Apareceu uma luminosidade azul ao meu lado esquerdo
que conversava comigo telepaticamente.
Apresentou-se, e, ao perceber meu medo, disse que era meu protetor,
estava sempre ao meu lado, e que eu poderia chamá-lo quando
precisasse. Só pediu que não o incomodasse por amor ou por dinheiro.
Fiquei pasmo! Eu, um professor de ciências exatas, por mais que
pudesse comparar grãos de areia a estrelas, nunca imaginei
poder passar por tal tipo de situação; ver uma forma translúcida
e azulada e conversar telepaticamente com ela.
E a história do amor e do dinheiro? Não fazia o menor sentido,
oras, sendo meu anjo da guarda que poderia me ajudar em tudo,
por que raios fez aquela distinção ininteligível?
O que mais poderia existir que não fosse amor ou dinheiro?
Passaram-se dias e, noutro final de dia, veio-me à mente,
cristalino como a água da cachoeira, inúmeras coisas!
Paz, luz interior, aprendizado e etcéteras....
Esta descoberta óbvia me acalmou e, aparentemente,
dizia para mim mesmo, mal havia acontecido.
Graças ao costume adquirido junto ao meu amigo Jonas,
outro dia estava eu na praia vendo o por do sol
quando, o Jorge - não sei se ele disse Jorge ou Ogum e,
depois fui verificar e fiquei sabendo que eram a mesma
entidade - apareceu e disse-me que eu e ele éramos o mesmo,
apenas estávamos em planos distintos.
Para meu espanto total disse ainda, que eu era mais que ele.
Descrédito completo da minha parte.
Repliquei-lhe, telepaticamente como sempre conversávamos.
- Mas como Jorge? Eu, um simples ser humano, com todos
os meus defeitos e coisas por aprender, e você um anjo da
guarda, como posso ser mais que você?
Sorridente e tranquilo ele respondeu.
- Eu quando passei por este mundo aí onde você se encontra
não conheci meu protetor, e você não só me conheceu como
está questionando minhas afirmações...
Depois desta só o procurei raríssimas vezes, e quando achava
que era muito importante (nem por amor, nem por dinheiro)
e ele nunca falhou em me atender prontamente.
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Aliás Voadoras
Short StoryFazendo um breve preâmbulo; esta crônica é um dos capítulos de um livro que escrevo há mais de uma década intitulado "Aliás Voadoras". Aleá era o nome que os moradores de certo lugar do oriente, que foi dominado pelos portugueses, davam às fêmeas...